domingo, 25 de maio de 2025

O casamento e a matemática


Casamento: relação de união entre duas pessoas. Matemática: ciência que estuda entidades abstratas e suas relações. Dizem que o casamento é loteria, que envolve "sorte" para dar certo. Uma ciência complexa e inexata. Já a matemática, tão complexa quanto, é uma ciência exata. Apesar do casamento ser ciência inexata e a matemática, exata, eles têm mais em comum do que se imagina.

Inicialmente, entendamos o significado de solteiro. Ser solteiro é ser só um. Não é ser metade, não é ser dois. Solteiro é ser completo. É ser um inteiro. Na matemática, representamos um inteiro pelo numeral "1". Logo, o solteiro é "1". 

Há quem pense que o casamento é uma operação de soma, onde "UM mais UM igual a DOIS", que une dois inteiros, cada um com suas manias, crenças e objetivos distintos. Ledo engano! O casamento, na verdade, é uma operação de multiplicação. Quando dois 1's se multiplicam, "UM vezes UM é UM". Ou seja, quando duas pessoas se casam, os dois inteiros se transformam em um novo inteiro, com alguns hábitos e atitudes comuns e muitos outros novos. Às vezes, cada inteiro precisa mudar hábitos de suas solteirices para facilitar o encaixe. 

Os casamentos que não prosperam são formados por inteiros que não se encaixam. Aqueles em que cada inteiro vive à sua moda ou quando somente um dos inteiros busca fortalecer a relação, sacrificando a si mesmo. Vale lembrar que há pessoas que são verdadeiros "zeros à esquerda". Pessoas negativas, sem propósitos ou objetivos de vida. Estase não são "1", mas são "0". Casar-se com um "0" faz o casamento já nascer nulo. Afinal, se casamento é multiplicação, "UM vezes ZERO é ZERO".

Assim, vemos que casamento é mesmo multiplicação e não adição. Felizes os casamentos onde cada inteiro se lapida e se molda de forma a se encaixar no outro. São os casamentos prósperos, onde um inteiro totalmente novo é matematicamente formado.

domingo, 30 de março de 2025

Uma reflexão sobre o tempo



Começa um novo ano e, de repente, já é Natal. Olhamos uma fotos que "parece que foi ontem", mas já faz dez anos. O tempo está passando a nossa frente. E passando rápido. Como Cazuza dizia: "o tempo não para".

O tempo muda as coisas. Muda as pessoas, cura as feridas, faz até a raiva passar. Lulu costumava dizer "nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará". Ele nos ensina que, se está ruim hoje, poderá melhorar amanhã. 

Muitas vezes, o tempo transforma tudo sem que nada precise ser feito. Mas há quem diga que já errou demais, "perdeu muito tempo" ou acredite que a derrota é definitiva. Ledo engano! Nana Caymmi, em sua Resposta ao Tempo, nos diz que o tempo "zomba do quanto eu chorei porque (o tempo) sabe passar e eu não sei". Se, algumas vezes, o tempo vai curar ao sozinho, outras vezes, você é que vai ajudá-lo na mudança. Uma nova atitude sua hoje, continuada depois e depois.., pode ser o início de um novo tempo. Raul dizia que, mesmo decepcionado com sua vida, "eu tenho uma porção de coisas grandes para conquistar e eu não posso ficar aí parado". Então, deixe o tempo agir, mas o primeiro passo será sempre o seu.

Renato nos ensinou que "não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo". Provando ele que, se tivermos atitude, podemos mudar o futuro, pois "temos todo o tempo do mundo". E, dessa forma, chegará o dia em que poderemos dizer que "nem foi tempo perdido".

O tempo muda o mundo e, com ele, nós também mudamos. Quantas coisas você fazia no passado e hoje deixou de fazer? Lugares e eventos que não mais frequenta. Pessoas que hoje não andam mais cm você. Como na canção de Nenhum de Nós, "o tempo passa e nem tudo fica...". Essas mudanças chegam com o tempo e, quando tomamos consciência delas, podemos dizer que chegamos à maturidade. 

Para uns, a maturidade chega cedo; para outros, mais tarde. E para, uns, parece nunca chegar.  Sua maturidade já chegou? Se chegou ou se não chegou, aprecie o tempo. Tudo no seu tempo.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Um domingo diferente

Domingão. Dia de descanso. A gente levanta sempre um pouco mais tarde, por volta das 6 horas, enquanto as crianças dormem até tarde. De repente, dão 8 horas e as crianças já levantam. 

- Ah, quem desligou o ar-condicionado?

- Ninguém, ué!

Que surpresa boa! As crianças levantaram antes das 11 horas. Levantaram reclamando do calor porque estavam sem ar-condicionado. Logo foram para a sala e a TV não ligava. 

- Que chato! Nem podemos ligar o vídeo-game.

Restou irem para o celular, mas não tinha internet. Então, nada de WhatsApp. Tentaram jogar offline mesmo, no celular, mas a bateria já estava no fim.

- Que chato! O jeito vai ser tomar café.

E assim, finalmente, depois de vários dias, vimos os meninos acordarem cedo e logo irem tomar café. Coisa raríssima nas férias. 

Terminado o café da manhã, nada para fazer, segundo eles. Logo tratamos de arrumar-lhes serviço.

- Meninos, lavem seus pratos!

E lá foram eles lavarem seus pratos do café da manhã, sem desculpas. Em seguida, forraram a cama e limparam o quarto. Depois, recolheram o lixo e guardaram suas roupas no guarda-roupas.

Nesta manhã, fizeram tanta coisa, que não faziam há tempos, que nem acreditamos.

Depois, foram na varanda e viram um lindo dia de sol. 

- Podemos ir para a piscina?

- Claro, meninos!

E lá foram eles se arrumar para descer "pro play" e para a piscina. Fazia tempo que nem lembravam que a piscina existia e mais tempo ainda que não acordavam tão dispostos para descer.

Chegando na piscina, que surpresa! Estava lotada! Vários meninos do prédio, também tiveram a mesma ideia de descer para a piscina. Coincidência? Aí foi só alegria. Muitas brincadeiras, mergulhos e diversão. Todos eles conversando e apreciando a manhã de sol de domingo juntos. Todos eles, por quase um dia, livres das telas de seus aparelhos eletrônicos.

Pelo jeito, esse negócio de faltar energia em pleno domingo não é uma coisa ruim assim. Acho que a  companhia de energia elétrica até poderia anunciar mais desligamentos programados de energia toda semana. Acho que farei até melhor: no próximo domingo, eu mesmo vou desligar o disjuntor do apartamento.

domingo, 18 de agosto de 2024

Simplicidade e alegria

  

O "domingo no parque" pode não mais ser tão alegre quanto antes, não é mesmo, Lombardi? Às vezes precisamos buscar novas rotas, novas notas. Devemos descobrir, com uma ou sete notas, "qual é a música" que regerá nossas vidas. Você já sabe qual rege a sua?
A música da vida do Senor Abravanel sempre foi alegre. Um "Lá! Lá-lálá!... Lá! Lá-lálá!..." tão alegre quanto simples.

Se você tem problemas, não se desespere nem deixe de enfrentá-los. Deixe "as portas da esperança" se abrirem para você. Se desejamos algo, podemos um dia conseguir. Basta perseguir com determinação. No dia que alcançá-lo-mos pela primeira vez, seremos calouros e poderemos dar um "show de calouros".

Ninguém começa grande. O "Homem do Baú" começou camelô e virou comunicador e empresário, sempre com um sorriso no rosto. Você também pode. Busque aprender, tope desafios, só cuidado para não "topar tudo por dinheiro". Dinheiro é bom, mas deve não ser seu principal fim. Tudo no seu tempo. Se há uma chance em um milhão, vamos buscá-la dando um verdadeiro "show do milhão". 

Tudo passa. A vida passa. O tempo demora mais para uns, passa mais rápido para outros. Uns aproveitam bem; outros, mal. Mas o final é sempre igual: a vida termina. Termina para os alegres, termina para os tristes. Termina para os saudáveis e para os doentes. Para bons e para os maus. Ricos e pobres.

Pois a jornada chegou ao fim para o "Homem do Baú". Sua vida passou em "ritmo, ritmo de festa", sempre "roletrando" duas palavras que devem ser por nós aprendidas: simplicidade e alegria. Duas palavras singelas e que resumem quase tudo o que buscamos (ou deveríamos buscar) em vida.

Às vezes, fugimos na direção contrária destas palavras e complicamos nossa vida, preocupando-nos com bobagens. Flertamos com caminhos errados. Felizmente, podemos escolher se o caminho errado será "namoro ou amizade".

Bom é que nunca é tarde para refletir e corrigir os rumos da nossa vida. Uma vida boa, simples e com alegria estampada no rosto. Sempre!

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Devir

Mudança. A vida pede mudança. 

A mudança muitas vezes não é bem assimilada e, muitas vezes, não é desejada. Após uma longa batalha, nosso sonho é parar e ficar nessa inércia deliciosa, curtindo a vitória alcançada ou desistindo de lutar após um revés. Tendemos instintivamente a buscar uma zona de conforto, a buscar uma estabilidade que possibilite acalmar nossa vida. O problema é quando esta calmaria nos acomoda ao ponto de nos paralisar.

Felizmente, apesar da nossa busca pela zona de conforto, somos seres com enorme condição de mudança. Somos como um rio, que renova suas águas constantemente. As águas que você vê no rio hoje, amanhã não são mais as mesmas porque o rio está em constante mudança. Assim também somos (ou precisamos ser).

O ser humano que se acomoda não evolui. O ser humano que se acomoda não aprende. E se não evolui e nem aprende se torna escravo de uma condição. É a "síndrome de Gabriela": eu nasci assim, eu cresci assim, serei sempre assim...

Mudar a si mesmo. Transformar-se. Tornar-se melhor do que ontem ou, simplesmente, mudar para se adaptar a uma nova realidade ou para escrever um novo caminho dali para frente... É o que a filosofia costuma chamar de devir

Devir é um processo constante de mudança e transformação pelo qual algo ou alguém passa, que é capaz de mudar a si mesmo e, muitas vezes, também o que está a sua volta. A mudança algumas vezes depende de nossa vontade de querer mudar. Outras vezes, a mudança é imposta pela vida sem opção de escolha. Ela simplesmente acontece. Se a vida muda, você é obrigado a adaptar-se a ela e precisa mudar a si próprio também. É uma mudança necessária e cujos passos de transformação podem ser tão longos quanto o tamanho da mudança.

Então, não podemos temer a mudança e nem ficar preso a uma zona de conforto. Mudar é essencial para evoluirmos, para sermos melhores ou alcançarmos o que desejamos. Não tenha medo de mudar. Devir é uma necessidade para nossa felicidade.

domingo, 2 de outubro de 2022

Os maiores derrotados no 1º turno das eleições de 2022

Terminamos o primeiro turno da eleição presidencial de 2022. Esperava-se uma eleição conturbada, porém, felizmente, a quantidade de ocorrências foi baixa e podemos dizer que foi até tranquila. Venceu a democracia!

O primeiro turno, no entanto, teve um derrotado. Alias, foram mais de um. E não estou falando de candidatos. Os derrotados deste domingo foram os institutos de pesquisa.

Pesquisas presidenciais de 2022


A pesquisa do instituto Brasmarket, por exemplo, divulgada há dois dias da eleição, apontava vitória de Bolsonaro com 45% e dava Lula com 30%. E teve muita gente acreditando e divulgando. Esse instituto realmente não tem a menor credibilidade.

Se o Brasmarket errou feio, quem errou mais ainda foi o "Instituto DataPovo", aquele criado no "Incrível Mundo de Bolsonaro". Há duas semanas, o próprio Bolsonaro afirmou, em Londres, em entrevista ao SBT, que o esperado seria sua vitória em 1º turno com no mínimo 60% dos votos. Passou longe!

E o Datafolha e o Ipec? Nas pesquisas destes, que são os dois principais institutos de pesquisa do país, divulgadas em 1º de outubro, havia uma previsão de Lula com 50%, Bolsonaro com 36% e Ciro e Tebet somados com 11%. No resultado deste domingo, Lula, sozinho, caiu para 48%, dentro da margem de erro. Porém, se juntarmos os votos de Lula, Ciro e Tebet houve uma queda somada destes três de 7%. E todos os votos a menos foram para Bolsonaro, que estava na pesquisa com 36% e terminou tendo 43%. Uma diferença de 7% para um candidato, sendo este o único que subiu, enquanto todos os outros caíram, só é justificável se tivesse existido um fato novo, nos últimos dias, capaz de mudar a opinião de boa parte do eleitorado, como um escândalo, uma grande fake news ou uma declaração infeliz, mas vejo que nada relevante aconteceu. 

Datafolha e Ipec erraram na votação de Bolsonaro e erraram mais ainda nas votações para governador de São Paulo (com uma virada com folga de Tarcísio sobre Haddad) e do Rio Grande do Sul (onde Onyx Lorenzoni terminou em 1º também com uma folga inesperada). Agora, os técnicos de ambos os institutos devem e precisar revisar suas metodologias, sob pena de caírem em descrédito. Não creio que Datafolha e Ipec mentem, mas erram. E o pior foi que os principais erros acabaram sendo justamente nos candidatos bolsonaristas. Se a turma doutrinada pelo bolsonarismo já adorava o blá, blá, blá de dizer que as pesquisas eram todas fraudadas, mesmo sem fundamento, agora foi que deram munição para que os mais fanáticos acreditem nisso. 

Por incrível que pareça, o instituto que trouxe a pesquisa mais próxima do resultado deste domingo foi a sempre questionada Paraná Pesquisas, com Lula tendo 47% (acertou) e Bolsonaro tendo 40% (dentro da margem de erro de 3%). 

E por que este texto criticando tanto as pesquisas? Justamente porque pesquisa é coisa séria. Os seus resultados influenciam muito o eleitorado. Por exemplo, muitas pessoas deixam de votar em quem preferem quando seus candidatos aparecem "sem chances" nas pesquisas. É preciso ter consciência que pesquisas não são bolas de cristal e que elas são apenas uma amostragem para trazer uma previsão, ou seja, uma tendência do resultado. Elas não devem cravar resultados, no entanto precisam ter um grau de confiança alto, com margem de erro pequena, justamente pelo poder de influência que possuem.

Enfim, tirando a Paraná Pesquisas, todos erraram e os principais institutos vão precisar melhorar no segundo turno, porque, no primeiro, foram eles os maiores derrotados.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Razão versus emoção, para os românticos do futebol

Era junho de 1986. Ainda crianças, estávamos eu e minha irmã, vestidos com uniformes da seleção brasileira, com traques de massa na mão, só a espera do gols do Careca, Zico, Sócrates e Cia. A Copa do Mundo de 1986 é minha lembrança esportiva mais antiga. Família reunida, vizinhos na nossa casa, bandeiras nas janelas... Uma festa! E todos com o mesmo sentimento de torcer pelo nosso país.

O sentimento de torcer pela pátria não se resumia a futebol. A gente vibrava com Olimpíadas e torcíamos até por atletas compatriotas que nem conhecíamos. "Pilotávamos" junto com Airton Senna, "lutávamos" com Maguila, "gritávamos" com Gustavo Kuerten, "respirávamos profundamente" com Hortência, bloqueávamos com Tande e Marcelo Negrão. Onde tinha Brasil, ou atletas brasileiros, estávamos lá. A vitória deles, era a nossa vitória. 

O esporte é apenas uma competição. Não "paga nossas contas", mas tem a incrível capacidade de nos emocionar e nos conectar com nosso país. É bonito este sentimento de união, que nos dá alegria e emoção, principalmente na idade infantil.

Mas tristes somos nós, quando envelhecemos e perdemos esta fantasia infantil. Nos tornamos mais secos e mais frios. O tempo passa e a gente começa a ver o mundo com outros olhos, a se preocupar com outras questões e, consequentemente, a destruir nossas fantasias. No último sábado, 10 de junho de 2021, presenciamos o Superclássico das Américas decidindo a Copa América de futebol. Em outras épocas, seria um evento de parar o país. Mas não foi. A realidade mostrou boa parte das pessoas indiferentes e uma parcela considerável de brasileiros, pasmem, torcendo para a Argentina, nosso maior rival!

Abraço de Neymar e Messi após a final da Copa América. Por: Milton Neto


Não se pode dizer que os contrários não tenham motivos para agirem assim. Uns se desconectaram desde que a Seleção passou a jogar mais em Londres que no Maracanã. Uns não se sentem representados pela entidade que organiza a seleção brasileira, a CBF.  Outros sentem falta de ídolos e craques como tínhamos no passado. Já outros se afastaram puramente por questões políticas, desde quando a camisa amarela da seleção brasileira virou uniforme de grupos políticos. 

A polêmica em torno da realização da Copa América no Brasil, em meio a uma pandemia, após a recusa de outros países, contribuiu substancialmente para esta reação de parte da população. Mas a política não foi o ponto crucial. O distanciamento do brasileiro já vem de algum tempo. Conheço pessoas próximas que há anos já torcem contra, por falta de identificação, mesmo se identificando com o político do grupo que usa a camisa amarela.

Não que os contrários estejam errados. Na verdade, ninguém é obrigado a gostar de futebol, muito menos tem que torcer pelo time do seu país. Quem sou eu para ditar o que é justo para cada um? Em verdade, resta-me lamentar. Lamentar por estarmos misturando as questões políticas com o esporte. Que pena que começamos a nos importar mais com o que o atleta faz nos dias folga, o que escreve nas redes sociais ou com o político a que ele tem afinidade, do que com as vitórias ou derrotas em campo!

Paralelamente à indiferença brasileira, vimos os argentinos, com muito mais problemas econômicos que nós, fazendo festa em Buenos Aires em comemoração ao título. Um bonito momento de alegria e união de um povo (apesar das aglomerações em tempos de pandemia). Da mesma forma, vimos estes sentimentos na Eurocopa, quando a TV mostrava em close os torcedores angustiados ou eufóricos com os jogos das seleções de seus países. O esporte serve justamente para isso: para nos desconectarmos dos nossos problemas por alguns momentos e experimentarmos sentimentos e emoções intensas.  

Não! Não prego que devamos viver num mundo de fantasia, alienados ao que acontece a nossa volta. O futebol, como dizia o italiano Arrigo Sacci, é "a coisa mais importante, dentre as menos importantes". Precisamos, sim, sermos cidadãos conscientes e nos importar com as coisas mais sérias. Mas que triste quando misturamos os dois mundos: o real e o de fantasia. Que triste! Dá para sermos simultânea e separadamente razão e emoção? Dá para sermos cidadãos responsáveis, conscientes, sem perdermos aquela paixão e romantismo que tínhamos na infância? Dá para se indignar com o uso político do esporte ou com o comportamento extracampo de um jogador e, ao mesmo tempo, continuar a torcer pelas vitórias dos times que representam nosso país? Os atletas passam, o presidente passa, o esporte fica. Pena que alguns acham que não. Procuro separar os dois mundos. Equilibrar racionalidade e emoção. Envelheço sabendo que envelheço, mas me recusando a perder a pureza das crianças e o romantismo que nos marca desde a infância. Talvez seja eu, apenas, um dos últimos românticos do futebol. Que pena!

domingo, 2 de maio de 2021

Protesto ou culto político?

Antigamente, eu via brasileiros indo às ruas para protestar contra algo. Era contra um aumento de impostos, era por uma mudança numa Lei, era contra aumento de passagem de ônibus, era para tirar um político corrupto do poder...  

Antes os protestos aconteciam como uma resposta IMEDIATA a algo. Por exemplo, um aumento das passagens era anunciado numa terça e logo organizava-se um protesto para os dias seguintes. Enfim, protestos para mudar uma situação e reclamar de quem estava no poder. 

Hoje, vejo protestos organizados por quem já está no poder, planejados com semanas de antecedência e em datas estratégicas: dia do Golpe Militar de 64, Dia do Trabalhador...

Antigamente, você ia para um protesto que tinha uma pauta única e bem definida: é contra "isso aqui" e pronto. Na semana seguinte, tinha outro protesto com a mesma pauta. Era de fato uma luta por uma causa até que ela fosse alcançada.

Hoje vejo que cada um desses protestos bimestrais da seita bolsonarista tem uma pauta com pelo menos três justificativas. Somados todos os inúmeros protestos que vêm acontecendo desde que o maníaco chegou ao poder, já entraram nas pautas: pela reforma da previdência, pelo pacote anticrime, pelo fechamento do congresso, pela intervenção militar, contra Alexandre de Moraes, pela cloroquina, contra a vacina chinesa, contra a liberdade de Lula, contra o lockdown, pela liberdade de expressão, contra a ditadura do STF, pelo voto auditável...

Interessante é como, entre um protesto e outro, os  itens da pauta mudam com uma facilidade imensa. Antes, acontecia um fato que gerava o protesto. Hoje, o protesto é marcado primeiro, com data e hora e definidos, depois cria-se a pauta para justificá-lo.

Antes, você ia para um protesto com um sentimento de "raiva", "revoltado" com uma situação que você queria mudar. Hoje vejo gente indo protestar como se tivesse indo para uma festa. Organizadores em cima do trio elétrico na Avenida Paulista comandando a torcida e puxando um "hola", como num estádio de futebol. Vejo gente postando fotos e vídeos em rede social, sorrindo, "olha eu aqui, estou no protesto", "veja que lindo, quanta gente". Não vejo nos comentários ninguém nem mencionar os itens da pauta. Voto auditável? Não tem nos comentários, mas sobra muito: "Meu presidente isso", "meu presidente aquilo", ... Antes não era assim. Nos protestos pelo impeachment, não se via o nome de político. Era "pelo impeachment" e não pelo meu político de estimação.

Pessoas sorrindo, aglomeradas e sem máscaras

Enfim, vamos para a real. Isso não é protesto. É sim um culto a um político. Uma espécie de movimento PLANEJADO de engajamento. Um ato voltado para manter apoiadores "aquecidos". PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA. No bom português, LAVAGEM CEREBRAL. Sim, lavagem cerebral. Porque, num protesto de verdade, protesta-se contra algo e não a favor de um político. "Ah, mais as pautas dele também são as minhas". Sim, sim, claro, claro... 

E a pandemia, hein? Na Avenida Paulista, trio elétrico, pessoas sem máscaras e aglomeradas. Nenhuma palavra sobre isso por parte dos organizadores e dos políticos que apoiaram. Não é estranho que, numa semana onde se inicia uma CPI para investigar ERROS E OMISSÕES do governo federal durante a pandemia, o presidente e seus parlamentares aliados organizem, divulguem, apoiem e participem de atos com AGLOMERAÇÕES que contribuem para propagação do vírus?

Nem precisa de legenda


Essa manifestação de ontem não foi a última. Daqui a dois ou três meses vai ter mais. Daqui para lá, inventa-se a nova pauta. Mas o "evento" é certo. As manifestações têm um papel importante no projeto de poder desta seita que hoje comanda o país. Têm a mesma função de um culto ou uma missa para a religião ou um encontro de alcoólicos anônimos para quem quer se libertar de um vício. Você pode estar ficando desestimulado e cabisbaixo, mas sai de casa e vai ao encontro. Lá você reza, canta e encontra pessoas com a mesma crença e reforça sua fé. Volta para casa com a fé renovada. Essa é a lógica que mantém o bolsonarismo vivo e a real motivação destes "protestos". 

Realmente, Gil do Vigor, o Brasil está lascado! Um dia, quem sabe, as pessoas acordem e pensem de fato no seu país e não em quem as manipula em proveito próprio.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Imunidade X impunidade parlamentar

Daniel Silveira, deputado, apoiador do presidente, conhecido apenas por atitudes grosseiras e desrespeitosas, se expressar com palavras chulas, quebrar a placa com nome de Marielle Franco e se recusar a usar máscaras. 

Preso, por determinação do STF, e com prisão mantida, nesta sexta-feira, pela maioria da Câmara.

E a imunidade parlamentar? Segundo o caput do Artigo 53 da Constituição Federal, parlamentares são invioláveis civil e penalmente por opiniões e falas, não é? Mas os parágrafos 1º e 2º do mesmo artigo deixam claro que imunidade parlamentar não é passa-livre para cometer crimes.

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. 

§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. 

O ainda deputado não foi preso por simplesmente "falar mal do STF", como alguns ainda insistem, mas sim por ferir os artigos 22 e 23 da Lei da Segurança Nacional:

Art. 22 - Fazer, em público, propaganda:

I - de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social;

Art. 23 - Incitar:

I - à subversão da ordem política ou social;

II - à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis;

O vídeo, por ele postado, configura flagrante nos crimes previstos nos Artigos 22 e 23 acima: fez ameaças a ministros, defendeu práticas da ditadura, pregou o fechamento do STF e incitou atos antidemocráticos. 

Após prisão, no começo da semana, o deputado foi:

1) Abandonado pelo presidente: mesmo sendo apoiador fervoroso do presidente, este não abriu a boca, não fez um tweet, não fez uma live em sua defesa. 

2) Abandonado por seu partido: o presidente nacional do PSL afirmou, durante a semana, que irá tentar expulsá-lo do partido.

3) Abandonado pelo seus colegas parlamentares: a Câmara do Deputados, mesmo com o Centrão "vendido " ao governo, votou com ampla maioria pela manutenção da prisão.

Como se vê, o caso foi tão grave que, ao lado do deputado, ficaram apenas a ala radical (Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, ...) e vocês, que o defendem aqui na rede social. 

Aliás, vocês e também os robôs. Robôs, estes, programados de forma tão escancarada que conseguiram proeza de, até quinta-feira de manhã, mencionar mais de 22 mil vezes uma hashtag com erro de digitação.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020: a crônica de um ano pandêm(ôn)ico

O ano de 2020 está chegando ao fim e vai ficar marcado para sempre nas nossas lembranças. A nossa geração nunca tinha passado por nada parecido nos anos recentes. Quantas mudanças, quantos planos desfeitos, quanta coisa jamais imaginada?

A primeira marca de 2020 vem, na verdade, do último dia do ano anterior. Em 31 de dezembro de 2019, entre os desejos e promessas mais ouvidos para 2020 estava aquele: "Desejo apenas saúde porque, dinheiro, a gente corre atrás". Queria diria que um bocado de gente que fez este pedido, que colocava a saúde em primeiro lugar, três meses depois mudaria o discurso: "Ah, precisamos trabalhar... a economia não pode parar..."? Quem diria que saúde à frente do dinheiro seria mais uma promessa de ano novo não cumprida?

Naquele mesmo 31 de dezembro, enquanto as pessoas faziam suas promessas não cumpridas, era confirmada a primeira aparição, no outro lado do mundo, do "cara" do ano: o tal do novo coronavírus. Bem no último dia do ano, enquanto a gente aqui soltava fogos, abria champagnes e dizíamos: "Xô, 2019. Já vai tarde! Bem-vindo, 2020!" 

Do fundo coração, desculpa 2019! O ano de 2020 nos fez perceber que você foi até um ano legal.

No começo do malfadado 2020, as primeiras notícias do surto de uma gripe diferente, em um mercado chinês, nem chamava muita atenção. "Lá na China? Muito longe". Dias depois, novas notícias e a presença cada vez mais constante nos noticiários. Mesmo assim, nada que nos preocupasse. Aqui, no Brasil, o bichinho era apenas meme. 

A ficha começa a cair

Nas semanas seguintes, notícias se tornam mais constantes. A China isolando tudo e construindo hospitais em tempo recorde. A falta de transparência do governo chinês dificultava entender melhor o problema. Conspiradores chegaram a dizer que o vírus fora feito em laboratório para a China conquistar o mundo. Menos, gente, menos...

Enquanto não entendíamos o problema, o bicho não parecia tão feio. Para o Dr. Dráuzio Varella, em janeiro, não era nada que assustasse. Para um certo presidente, era só uma fantasia da grande mídia.


Aos poucos, a gravidade do problema começava a ficar clara. A nova epidemia começa a registrar casos em outros países. A "ficha começava a cair". Só que, enquanto uns mudavam sua visão, outros continuavam minimizando a questão (e continuam até hoje).

Passado o carnaval, o primeiro caso era confirmado no Brasil. Em março, tínhamos a primeira morte. Foi em março, também, que a OMS declarou que não era mais uma epidemia e agora tínhamos uma pandemia. Tudo muito rápido. No domingo, dia 15 de março, eu participava de uma corrida de rua em João Pessoa, e, na quarta-feira, três dias depois da corrida, fui trabalhar pela última vez no escritório. Todo mundo mandado para casa. A ficha, também para mim, acabava de cair. Oficialmente, estávamos em quarentena.

Primeiras impressões, muitas incertezas

Os dias seguintes foram de novidades e dúvidas. Um turbilhão de novos acontecimentos, nunca antes imaginados. Novelas canceladas. O futebol paralisado. Decretos estaduais e municipais fechavam comércio. Aulas suspensas. Corrida por álcool em gel e máscaras cirúrgicas, que, simplesmente, desapareceram das farmácias. Áreas de lazer dos condomínios fechadas. Ruas e parques desertos. O mundo parou. Agora começávamos a conviver com novas expressões e novos hábitos: "distanciamento social", "lavar constantemente as mãos", "Use máscara", "Fique em casa!", "home office", "quarentena", "lockdown", "colapso do sistema de saúde", "novo normal", "achatar a curva", ...

E como tratar a doença? Ninguém sabia. Começavam a informações desencontradas, os achismos, as fake news. Vieram as propagandas por remédios sem comprovação científica. Gente dizendo que o vírus era de laboratório, que tudo era uma farsa. Duzentos milhões de brasileiros viraram "especialistas em pandemia", cada um "dando aula", contra ou a favor, sobre lockdown, distanciamento social, máscaras, isolamento horizontal e vertical, cloroquina e por aí foi.

Por parte da autoridades, um verdadeiro show de horrores. Governos federal, estaduais e municipais não falavam a mesma língua. Na ausência de um plano coordenado de combate à pandemia, cada estado e prefeitura foi tomando suas medidas, enquanto o governo federal só tinha olhos para a economia.

Neste momento difícil, também teve espaço para a pior parte do brasileiro: a corrupção. Com estado de emergência e calamidade pública decretados, as dispensas de licitações viraram passe-livre para a farra com o dinheiro público. Respiradores para porcos em Recife, compra de respiradores que não funcionavam em Belém, hospitais de campanha pagos e não construídos no Rio de Janeiro... E o cidadão comum também entrou na onda, com muitos, sabida e desonestamente, inscrevendo-se para receber indevidamente o auxílio emergencial. Uma vergonha!

Gráfico da média móvel de casos no Brasil

Enquanto isso, a pandemia ia fazendo estragos: os números de mortes cresciam, empresas faliam e pessoas perdiam seus empregos.

A rotina da pandemia

Com o passar do tempo, viver em pandemia entrou para a nossa rotina. Novos hábitos foram incorporados: começamos a higienizar até a feira, compras pela internet dispararam, o delivery de alimentação cresceu, calçados agora ficavam da porta de casa para fora, o home office virou realidade.

As máscaras de pano já eram mais comuns que as máscaras cirúrgicas. Elas estavam presentes em todos os locais. Difícil era achar quem as usasse corretamente. Era gente pegando na frente da máscara, usando no queixo ou cobrindo apenas a boca. Era máscara folgada demais, pequena demais. Fora aqueles que tinham todas as desculpas para não usar.  

Como não usar uma máscara

O home office foi um caso à parte. De fato, não era nenhuma novidade até então e já era praticado de forma tímida por algumas corporações e profissionais autônomos. Mas a necessidade acabou forçando um trabalho remoto em massa e ajudou a consolidar sua prática. Empresas descobriram forçadamente que podem se manter produtivas e, ao mesmo tempo, reduzir drasticamente seus custos. Um caminho, para mim, agora sem volta. As reuniões virtuais entraram na nossa rotina. Zoom, Teams, Meet, Skype se tornaram ferramentas do dia a dia. Passamos a conviver com novas expressões: "Seu microfone está desligado", "Fulano caiu", "Me ouvem bem?", "Tem um cachorro latindo", "Desculpe, gente, passou uma moto aqui na rua.", "Agora não, filho, estou em reunião", ...

Passado o primeiro mês de quarentena, uma nova realidade para as crianças e professores (e por que não dizer, também para os pais?): aulas remotas! Sem qualquer experiência prévia, uma nova forma de dar aula teve que ser literalmente inventada e aprendida. O famoso "trocar o pneu com o carro andando". Um verdadeiro desafio que a comunidade escolar teve que encarar. Houve quem se adaptasse perfeitamente e houve quem tivesse muita dificuldade. Se foi muito bom para alguns, foi dificílimo para as crianças menores e também para as famílias de baixa renda, sem acesso descente aos recursos tecnológicos. 

Nos fins de semana, uma nova febre: lives! E eram muitas. Era de manhã, de tarde e de noite. Dava para passar o dia todo assistindo. Sem ter o que fazer, tinha gente assistindo lives até de cantor que não gostava. Mas durou pouco. Tão de repente quanto surgiram, tão logo também sumiram. The "lives" are dead.

Reconhecimento aos profissionais da saúde

Além das novidades, este período também nos deu muitas lições. Passamos a dar mais valor às coisas simples que tínhamos e fazíamos antes: um abraço apertado, a presença dos amigos e da família. Passamos também a reconhecer e dar mais valor aos profissionais de saúde como nunca anteriormente. Verdadeiros herois. 

A paciência chegando ao fim

Os meses foram passando e a pandemia parecia não ter fim. Aos poucos, as pessoas foram se cansando de tudo e a saudade dos velhos hábitos já não conseguia mais segurar as pessoas em casa. Caiu o apoio popular às medidas restritivas e aumentava a pressão de todos os lados pelo que foi chamado de "flexibilização". As pessoas, que antes ficavam em casa, já não tinham mais medo de sair às ruas. Enquanto alguns saiam do isolamento com moderação, outros pareciam já ter ligado o "f__-se". A pandemia não estava controlada, mas todos nós já estávamos cansados. Eu, por uma necessidade particular, estava e ainda estou no grupo que mais respeitou o isolamento, saindo só quando necessário, mas hoje já não de forma tão rígida quanto antes. 

Nos primeiros seis meses, não teve festa e nem reunião de família. Os aniversários da minha mãe, do meu filho, da minha avó, da sogra e de afilhados não puderam ser comemorados. Encontros, apenas virtuais. Futebol com os amigos: suspenso. Meus amigos de infância, só pelo WhatsApp. Corridas e pedaladas na rua: não tiveram mais. Somente a partir de setembro nos permitimos um pouco de flexibilização e alguns reencontros (de máscara).

A política... Ah, a política!

Em meio a tantos problemas causados pela pandemia, 2020 também nos fez assistir cenas bizarras na política. Além das já citadas divergências das ações de combate à pandemia nas esferas federais, estaduais e municipais, o ano também foi marcado por políticos negacionistas, preocupados muito mais com os números dos seus governos que com a saúde da população, tanto nos EUA, quanto aqui, no Brasil. As declarações estapafúrdias foram muitas. De "gripezinha" a "E daí?", passando por "país de maricas" e outras dezenas de declarações que mereceram apenas as inúteis e incontáveis "notas de repúdio" das autoridades. 

Não merece legenda

Vimos ministros da saúde médicos sendo substituídos por um general, um presidente contrário à ciência e políticos, do Arroio ao Chuí, causando aglomerações durante as eleições. Chegamos ao fim do ano assistindo a esperança da vacina se tornar alvo de politização, enquanto o país vai ficando para trás dos demais países para inicio da imunização.

Flexibilização, vacinação e esperança

Depois dos primeiros meses de isolamento, as restrições foram flexibilizadas, já há cerca de seis meses, e parte da rotina foi retomada com novos hábitos. Futebol sem torcida, estabelecimentos comerciais com restrição de capacidade, escolas com distanciamento social e novas regras. Muitas regras foram criadas como condição para a retomada, mas a grande maioria se tornou apenas regras decorativas, como as marcas no chão para garantir o distanciamento social nas filas. Poucos seguiram. O uso obrigatório de máscaras até foi seguido, muito mais por obrigação que por consciência. Em muitos locais, pessoas só colocavam a máscara para entrar numa loja e retiravam tão logo saíam. Sem falar do uso incorreto das máscaras, que deveriam cobrir o nariz e a boca e, quando não estavam cobrindo apenas a boca, eram usadas no queixo. 

Infelizmente, a flexibilização trouxe também o relaxamento com os cuidados. A população perdeu o medo e muita gente age como se a pandemia já tivesse acabado. Mas, felizmente, uma esperança chegou no último mês do ano: o início da vacinação. Se não chegou no país ainda, em breve chegará, apesar do atraso e dos que jogam ou torcem contra. 

O ano de 2020 chega ao fim e não sairá nem tão cedo da nossa memória. Durante anos lembraremos de todas as acontecimentos que transformaram este no primeiro ano pandêmico (ou poderíamos dizer pandemônico) de nossas vidas.  

2021: ainda com (mas com menos) máscaras e mais cura

Tomara que não tenhamos que passar por isso por muito mais tempo ainda e que, nem tão cedo, algo parecido se repita. Fica o lamento e o respeito àqueles que perderam seus entes queridos. Que venha 2021, ainda com (mas com menos) máscaras e sim com mais curas. A esperança é o que nos moverá neste fim de ano. Mais do que nunca: um feliz 2021!

terça-feira, 9 de junho de 2020

OMS... Essa metamorfose ambulante, eu prefiro ser

"Ah, a OMS disse que máscaras eram só para infectados e hoje diz é para todos usarem."
"Oh, a OMS disse que cloroquina não funcionava e agora disse que vai voltar a fazer testes."
"Mas a OMS disse que a contaminação por assintomáticos era grande e agora diz que não."

Sabe o que eu acho dessas mudanças de parecer: NORMAL.


É uma doença nova, não existem dados históricos e a cada dia temos novos estudos e evidências. Estudos esses que erram e acertam e influenciam nossas opiniões.

A OMS nos ajuda consolidando as informações desses estudos e divulga as recomendações com base nas evidências de momento.

Quer saber? Ainda bem que ela não hesita em mudar de opinião. Devemos ter medo é de quem opina baseado em crenças e não se permite mudar opiniões mesmo com novas evidências.

É como a gente, chegando numa nova cidade, tendo que aprender e ensinar ao mesmo tempo o melhor caminho para fugir do trânsito sem GPS. A cada dia acharemos um melhor caminho que o anterior e descobriremos que o caminho sugerido por nós anteriormente não era o melhor.

Não devemos minimizar a relevância da OMS por ela não ter a resposta correta desde o início. Aos poucos, errando aqui, ajustando ali, ela tende a encontrar a direção correta.

sábado, 8 de abril de 2017

Conhecimento e felicidade


A gente nasce e logo começa a aprender. Vai crescendo e aprendendo. Passa a vida aprendendo e adquirindo conhecimento. Logo ao nascer, a gente já começa a chorar. Oh, que sofrimento! Conhecemos logo cedo o que é tristeza. Em seguida, o choro passa porque ganhamos um abraço materno ou a primeira mamada. Somos apresentados à felicidade. Em seguida, ficamos tristes de novo e choramos. Depois ficamos alegres novamente e, mais uma vez, tristes. Ao mesmo tempo, vamos aprendendo que, quando choramos, ganhamos atenção dos pais. Vamos adquirindo conhecimento de como o mundo funciona e descobrimos que o conhecimento pode ser usado a nosso favor para alcançarmos a felicidade. E assim, nossa vida vai seguindo: a cada dia, uma busca constante pela felicidade e novos conhecimentos que nos ajudam a alcançá-la.

O conhecimento muito pode ser usado a nosso favor. Quem duvida que saber como as coisas funcionam não nos ajuda? Certamente, que sim. E com certos conhecimentos, tomamos decisões que vão nos beneficiar: a hora certa de aplicar um dinheiro, um atalho para fugir do trânsito, o momento certo de trocar de emprego... Sim, "saber muito" é bom e nos permite conquistas que nos deixam felizes. Mas será que nos garante sermos mais felizes que os desprovidos de conhecimento? A relação conhecimento e felicidade parece não ser tão estável na prática quanto parece ser na teoria.

João Norton é diretor-geral de uma multinacional. Batalhou muito para chegar a este posto. Estudou e adquiriu muito conhecimento. Tem uma vida corrida. Precisa ficar conectado ao trabalho nos fins-de-semana. Suas maiores felicidades são duas: a primeira é conseguir ver os filhos ainda acordados ao chegar em casa após o trabalho (algo bem raro) e a segunda é saber que sua empresa atingiu a meta no final do mês. Assim, ele passa por momentos de extrema tensão nos últimos dias de cada mês.

João Ferreira é faxineiro e trabalha na mesma empresa de João Norton. Seu expediente começa às 7 horas e terminas as 16. Ao sair do trabalho, ele para no barzinho da esquina do colégio e espera sua filha largar:

- Vai um quartinho hoje, Seu João (diz o dono bar).
- Oi, camarada! Hoje não que eu "tô" liso - diz João - mas, amanhã, sai o salário e minha caninha de lei está garantida.

No fim de semana, João Ferreira vai à praia e sempre passa na frente do prédio de João Norton. Muitas vezes, ele vê o chefe na varanda com o laptop e falando ao celular, sempre resolvendo assuntos da empresa. Ele sempre fala para sua filha: "Aqui mora o diretor da empresa. Queria ser como ele.". E João Ferreira segue seu caminho para se divertir com a família na praia, com apenas R$ 25 na carteira, enquanto João Norton não pode acompanhar seus filhos e sua esposa na piscina do prédio para poder garantir os milhões em lucro de sua empresa. E aí, qual dos Joões tinha uma vida mais feliz?

Então é melhor não ter conhecimento e não aprender? Não necessariamente. Não podemos desprezar o conhecimento. Pergunte a João Norton se ele preferiria trocar de posto com João Ferreira? Certamente não. Mas quem será que tem sido mais feliz ultimamente? Essa tal de felicidade é um bichinho complicado.

Então o segredo para a felicidade é trabalhar pouco? Quem trabalha demais será mais triste? A famosa fábula da formiga e da cigarra mostra que não. Os conhecimentos da formiga a fez antever as consequências de não se preparar para o inverno. Assim, ela logo soube que seu trabalho árduo, enquanto a cigarra se metia a "ser feliz", traria uma felicidade para ela (formiga) muito mais duradoura. Que foi o que aconteceu.

Então saber como as coisas funcionam traz felicidade? Você deve ficar muito feliz quando almoça ou janta no seus restaurantes preferidos. Porém, há quem diga que se você visitar as cozinhas dos últimos dez restaurantes em que você almoçou, você saberá de coisas que o deixarão tão triste que nunca mais almoçará novamente fora de casa. Às vezes, viver na ilusão é mais feliz que conhecer a realidade, apesar de Roberto Carlos dizer que "quem espera que a vida seja feita ilusão pode até ficar maluco ou morrer na solidão".

Não há dúvidas que o conhecimento nos ajuda e nos permite conquistas maiores. E conquistas muitas vezes nos trazem felicidade. Talvez o nosso erro seja tentar achar uma relação direta e simples entre conhecimento e felicidade. Sua avó deve ter muita vontade de usar um computador, mas talvez tenha um pavor enorme só de chegar perto dele. Você, ao contrário, domina o computador e tem muitos amigos nas redes sociais, mas sua avó talvez seja muito mais feliz que você, batendo papo com as vizinhas todos os dias na porta de casa num belo fim de tarde.

domingo, 19 de março de 2017

Restrição às migrações e drama humanitário

As correntes migratórias para países mais desenvolvidos têm causado reações polêmicas por parte destes. Com a alegação de proteção, alguns deles têm tomado medidas restritivas ao acesso de migrantes. Tais medidas têm repercutido negativamente na comunidade internacional. Para entender as medidas e a polêmica, é preciso entender as causas e as consequências das migrações.

De forma geral, migrantes buscam melhores condições de vida. Alguns são oriundos de países que até oferecem boas condições, mas, outros, nem tanto. Muitos migrantes também são fugitivos de países em situações de grande pobreza ou de graves conflitos internos, como guerras e perseguições, e buscam, em outros países, um refúgio para refazerem suas vidas. Migrantes, nestas condições, acabam entrando em outros países sem a devida documentação legal ou sem capacitação para buscar emprego, passando a viver à margem da sociedade.

Como consequência da migração desenfreada, os migrantes podem trazer problemas para os países de destino, pois o Estado precisará dar-lhes suporte, por exemplo, em saúde, educação e saneamento. Além da questão social, o apelo à segurança, causado principalmente pela onda de terrorismo nestes países, tem contribuído para a tomada de medidas cada vez mais restritivas à migração, como a oriunda de países islâmicos.

A grande questão passa ser como balancear a necessidade de proteção interna dos países com o drama humanitário dos migrantes, principalmente dos refugiados. Os países ricos buscam protegerem-se dos problemas sociais e do terrorismo, mas, com as medidas que têm tomado, acabam virando as costas para milhares de necessitados e inocentes que buscam apenas uma oportunidade para viverem dignamente.

domingo, 13 de novembro de 2016

De que lado do muro político estou? E este muro precisa existir?

Ah, essa danada dessa política! Maldito foi o dia em que me meti a opinar sobre ela, especialmente em redes sociais. De uma hora para outra, deixei de ser eu para ser o que os apaixonados por partidos políticos queriam que eu fosse. Não. Não fui eu que me transformei, mas as pessoas que me colocaram numa verdadeira "metamorfose ambulante." Afinal, de que lado eu estou? Vocês precisam se decidir. Amigos, devido a essa indecisão de vocês, acho que vale pena fazer uma breve recapitulação para lhes dar uma forcinha.

Tudo começou em 2002, quando votei em Lula para presidente. Eu dizia que, apesar de reconhecer os méritos do governo FHC com o Plano Real, seu segundo mandato não fora tão bom. Por isso, era momento de mudar. Naquele momento, resolveram dizer que eu era da turma da esquerda.

Em 2005, explodiu o mensalão. Que decepção! Ousei dizer que era lógico que Lula sabia de tudo. Para quê? Fui acusado de ser cúmplice da mídia que queria derrubar o "ex-operário", "filho do Brasil".

Do mensalão, Lula saiu ileso. Igual sorte não tiveram outros políticos petistas. Quando eu já comemorava suas condenações, surgiram os tais "embargos infringentes", espécie de recurso que, na prática, iria adiar a condenação dos réus. Resolvi opinar e disse que não era correto acusar o STF de conivência. Se os embargos estavam previstos no regimento, não tinha escapatória: os embargos teriam que ser julgados. Pronto, naquele momento, eu era acusado de "defensor de mensaleiros".

O exemplo do mensalão fez-me perder a confiança no Partido dos Trabalhadores. Por este motivo, votei em Alckmin na eleição presidencial de 2012. Naquele momento, passei a ser chamado pejorativamente de "tucano".

Dilma venceu a eleição. Alguns anos depois, eu critiquei as vaias que a presidenta recebeu na abertura da Copa das Confederações. Eu disse que ali era um evento internacional, não era lugar nem momento adequados para manifestar aprovação ou reprovação por seu governo. Naquele momento, passei a ser visto novamente como um "esquerdista", "defensor do petismo". Três anos depois, mantive minha opinião e critiquei a vaias a Michel Temer nas Olimpíadas do Rio. Agora, era visto como "de direita" novamente.

Durante a campanha eleitoral de 2014, alguns amigos disseram que nada melhorou no país nos anos do PT. Fui dizer que, apesar do caos econômico, era preciso reconhecer muitos avanços, especialmente na diminuição da desigualdade. Pronto, agora seria eu acusado de "petralha"

Ainda durante a campanha, amigos argumentaram que os avanços sociais na qualidade de vida dos brasileiros eram todos méritos do PT. Eu falei que houve méritos, mas que tais políticas sociais só puderam ser aplicadas, especialmente nos anos de Lula, devido à estabilidade econômica construída pelo Plano Real. Naquele momento, fui acusado de ser um "coxinha". Foi quando ouvi este termo estranho pela primeira vez.

Veio a eleição de 2014 e votei em Aécio no segundo turno. Ganhei novamente o adjetivo "coxinha".

Com a explosão da crise econômica, logo começou a campanha pró-impeachment. Então, quando eu disse que crise econômica não era justificava jurídica para um impeachment, eu era acusado de "pró-Dilma".

Logo alguns dias após a eleição, o governo anunciou aquilo que escondeu durante a campanha eleitoral: que as contas do país estavam no vermelho e que seria preciso um pacote de medidas para aumentar impostos e cortar gastos. Eu afirmei que aquela situação era consequência de erros do governo, que aumentou exageradamente os gastos públicos nos últimos anos e falsamente propagandeava que as conquistas sociais eram todas sustentáveis. Pronto. Naquela hora, eu era chamado não só de "coxinha", mas também de "magoadinho de 'mimimi' por ter perdido a eleição".

Veio à tona o escândalo das pedaladas fiscais e, junto com ele, a instauração do processo de impeachment. A grande discussão no Congresso e nas redes sociais era se as pedaladas configuravam ou não crime de responsabilidade. Tive a ousadia de dizer sim, que era crime de responsabilidade, e até apontei os artigos da constituição e das leis que embasavam meu argumento. Naquele momento, passei a ser chamado de "golpista".

Por falar em "golpe", palavra mais repetida do ano, também opinei sobre ele. Disse que estava muito claro que os congressistas que julgaram o processo de impeachment não estavam nem aí se havia ou não crime de responsabilidade e que seus votos eram claramente políticos (os governistas defendiam e os anti-governo acusavam). Tecnicamente não era um golpe de Estado, mas era um claro golpe político. Pronto. Voltei a ser um "petralha".

Agora, quando o novo governo assumiu, fui inventar de dizer ser favorável à PEC do teto dos gastos públicos para, novamente, ser visto como um "coxinha pobre de direita".

E assim, as acusações vêm permanentemente se alternando. Hora me acusam de uma coisa, hora de outra. A culpa deve ser minha. Quem manda eu opinar de acordo com minha consciência? Infelizmente, muitas pessoas enxergam a política como um jogo em que você precisa escolher um
lado e prestar juras de lealdade eterna a este lado. Elas pensam assim: tudo que os políticos "do meu lado" falam ou fazem é o certo e tudo que o dos outros lados fazem é o errado.

Esta neura em criar lados fez surgir, mais recentemente nas redes sociais, um novo termo pejorativo: o "isentão", usado para designar pessoas que não escolhem um lado, mas que também têm medo de dar opinião e não se comprometem com nada. No popular, os que ficam "em cima do muro". Deste termo pelo menos escapei, pois, se não tenho um lado, opinião foi algo que nunca neguei. Sou isento, sim, "isentão", jamais! Imparcial, sim, ou pelo menos eu tento ser, já que dizem não haver imparcialidade absoluta.

Ficam, então, meus questionamentos:
  • Qual a vergonha em apontar erros de políticos em quem você votou? 
  • Quando a vergonha em apontar os acertos de políticos em quem você não votou? 
  • Para que ter um lado? 
  • Por que ter um lado? 
  • Para que este antagonismo: mortadela x coxinha, direita x esquerda, petista x tucano, democratas x socialistas x neo-liberais x comunistas? 
A política precisa desses muros que separam os cidadãos em blocos distintos? Não. A política não é time de futebol, que escolhemos um e vamos com ele até o fim, ou uma religião, que seguimos os mandamentos sem questioná-los. O importante é apoiar ações que nossa consciência diz serem certas e criticar o que ela diz serem erradas, independentemente de partido.

Espero ter ajudado a mostrar de que lado estou. Bons "entendedores entenderão". Aos que só enxergam o que querem, resta continuarem me chamando por vezes de "coxinha", por outras de "mortadela".

sábado, 3 de setembro de 2016

Métafora do Impeachment

Era uma vez uma garotinha chamada Dilma. Desde os tempos de escola, ela sempre foi atuante e participativa. Ao longo da vida escolar, chegou até a ser punida por contrariar os diretores da escola, pela forma com que defendia seus ideais e de seus colegas estudantes. Dilma cresceu, começou a trabalhar e não mais se envolveu com conflitos.

Um dia, Dilma resolveu participar de algo que nunca tinha feito em toda sua vida: participar de um reality show. Era uma competição em que os participantes precisariam mostrar qualidades e ganhar a preferência do público. O vencedor, definido pela escolha dos espectadores, receberia como prêmio um carro de luxo. Apesar de sua pouca experiência, ela não estava só e teve o apoio importantíssimo de ex-participantes deste mesmo reality, inclusive apoio do último vencedor. E quem diria? Após uma dura disputa, o público a escolheu como vencedora.

Dilma recebeu o prometido prêmio e, junto com ele, algumas regalias: poderia desfrutar do seu carro de luxo a toda hora e também, durante alguns anos, não pagaria os impostos, a manutenção e o combustível. Tudo seria perfeito, exceto por uma condição: durante o tempo de carência do seu prêmio, Dilma não poderia se envolver em acidentes de trânsito, nem cometer nenhuma infração. Caso contrário, perderia imediatamente o prêmio, que seria repassado a um dos participantes derrotados no reality.

Apesar do êxito na disputa, a vitória de Dilma foi apertadíssima e nunca foi muito bem aceita nem pelos concorrentes derrotados, nem pela parte do público simpatizante desses outros concorrentes. Ainda durante o programa, alguns competidores se tornaram seus inimigos e assim continuaram após o reality. Alguns desses inimigos, por diversas vezes, questionaram sua vitória e pleitearam a devolução do prêmio. As alegações não chegaram a ser aceitas e Dilma desfrutou de seu carrão à vontade. Ela ia ao trabalho, ao parque, ao cinema, ao supermercado... Muitas pessoas a reconheciam na rua e ficavam felizes ao vê-la passar motorizada. Já outros, simpatizantes de concorrentes derrotados, torciam o nariz.

Nossa personagem aproveitou bastante seu prêmio, porém ela tinha um defeito: não era muito cuidadosa com seu carro. Era comum deixar o carro vários meses sem lavar, abastecia o combustível em postos de qualidade duvidosa, estacionava na rua ou em vagas apertadas... Seu carro já tinha tantos arranhões que muitas pessoas chegaram a dar conselhos para que cuidasse melhor dele, mas ela ignorava. Devido à falta de cuidados, seus inimigos até chegaram a pedir a devolução do carro e um novo reality, mas esta hipótese não era prevista no regulamento do programa. Somente haveria perda do prêmio nos casos já citados anteriormente.

Dilma também tinha um outro defeito, vivia se atrasando para ir trabalhar. De tanto chegar tarde, muitas vezes o estacionamento da empresa já se encontrava lotado e o carro acabava sendo estacionado nas ruas próximas. Em uma dessas ruas, era comum ver carros de outros funcionários estacionados, apesar de existirem placas de estacionamento proibido. A cena se repetia todos os dias e, mesmo com as placas, ninguém era multado. Mas, como já sabíamos, Dilma colecionou muitos inimigos e, numa dessas vezes em que ela estacionou na tal rua, um de seus inimigos a denunciou. A autoridade de trânsito, então, rebocou seu carro e aplicou-lhe uma multa. A agora infratora tentou se defender. Alegou que outras pessoas também estacionavam naquela rua há anos e nunca foram multadas, mas sua tentativa de defesa foi em vão. A lei era clara.

Com a infração consumada, os inimigos trataram logo de pleitear a posse do carro junto à organização do reality show. Dilma também tentou se defender, alegando que não havia cometido nenhuma infração tão grave assim e que outras pessoas, inclusive as que estavam requerendo o carro, também estacionavam ali sem nunca terem sido multadas. Além do mais, em sua defesa, Dilma alegou que não houve dolo na sua conduta e que, na verdade, estava sendo vítima de um golpe, pois sua multa só foi aplicada como fruto de uma armação dos seus inimigos, que aguardaram exatamente ela estacionar ali para chamar o agente de trânsito. A defesa de Dilma foi em vão por dois motivos: a punição estava claramente prevista no regulamento e, principalmente, porque a maior parte dos seus julgadores também era formada por seus inimigos ou por quem tinha interesse na perda de seu prêmio. Dessa forma, suas alegações sequer foram levadas em consideração e o regulamento do programa foi aplicado ao pé da letra: infração de trânsito = perda do carro.

E assim, Dilma agora anda a pé. O carrão de luxo agora está nas mãos de quem não venceu na preferência popular.

De tudo isso, ficam algumas lições para Dilma e para todos nós:

1) Não seja adepto do “se todo faz, que mal tem”. Um dia o agente de trânsito pode passar bem na hora e a lei será aplicada.
2) Tenha amigos. Quem tem inimigos corre o risco de tê-los o tempo todo de olho na sua vida, esperando seus deslizes para denunciá-los.
3) Ande sempre na linha. Assim, mesmo que tenha muitos inimigos, se você não cometer erros, seus inimigos não terão o que denunciar.

Foi isso que aconteceu com você, querida. Um monte de gente estava de olho no seu carrão e fazendo de tudo para tirá-lo de ti. Você pisou na bola sim e eles astutamente aproveitaram. Era só não ter cometido o “erro de responsabilidade” que você não teria dado a chance que eles queriam e você continuaria, até hoje, com seu carro de luxo. Mesmo malcuidado e quase acabado, ele continuaria sendo seu.

domingo, 3 de julho de 2016

Lições que a corrida traz para a vida

Vez por outra sou surpreendido por perguntas ou comentários do tipo: "Por que você vai participar desta corrida?", "Para quê correr?", "Levantar seis da manhã de um domingo para correr não dá."... Nunca me preocupei em explicar em detalhes alguns comportamentos, até porque a explicação nem sempre é tão simples e direta quanto parece, mas, após ser questionado pelo filho de seis anos, chegou o momento de falar mais sobre isso.

Nada na vida é tão óbvio quanto parece. Seria muito básico apenas dizer "porque faz bem para saúde" ou "porque praticar exercício é bom". Existem muitos outros aspectos envolvidos. A verdade é que correr não é bom. O que? Como assim? Mas é isso mesmo: correr não é bom. Afinal, quem gosta de se sentir cansado? Quem sente prazer ao ouvir o despertador acabar com seu sono às cinco e meia da manhã? Quem acha bom se sentir ofegante e esgotado, achando que vai ter um "piripaque" antes de atingir a linha de chegada? Creio que nenhum ser humano em suas CNTP, já que a corrida, em si, é uma tortura para o corpo. Então, não se iluda: correr é ruim para caramba!

Mas, como tudo na vida, o melhor sempre fica para o final. Com a corrida também é assim. O "durante" de uma corrida é um grande sofrimento. O grande barato é quando você termina. Aí, sim, vem a grande sensação de prazer e satisfação. É a sensação do dever cumprido. A sensação do "eu consegui" ou "eu atingi a meta". O tamanho desse sentimento é proporcional ao tamanho da dificuldade. Quanto mais desgastante for a corrida, maior será o prazer ao completá-la. A partir daí, o que vai ficar na memória é justamente esse momento. O sofrimento da corrida fica esquecido e o prazer proporcionado durará por horas e até dias. Prevalece, então, o sentimento que tanto motiva os corredores a desejar "sofrer" tudo novamente. É por isso que esses seres estranhos, chamados corredores, conseguem dizer que correr é bom demais.

Toda essa explicação sobre a paixão por correr pode ser aplicada a muitas outras coisas. Em outras palavras, o mesmo prazer proporcionado não é exclusividade da corrida e pode ser obtido, de forma semelhante, por outras atividades. O que existe em comum entre elas é o desafio, o cumprimento de metas e o prazer resultante. Todos nós devemos procurar algo em nossas vidas que nos motive e que nos faça "sair do cama confortável" para "sofrer" de forma prazerosa. Pode ser correr, pode ser pedalar, pode ser fazer caridade, pode ser ir à missa, pode ser cortar a grama, desenvolver um projeto pessoal, ou, até mesmo, lavar o carro. A satisfação não está no "durante", mas, exatamente, no resultado obtido ao final. Se você ainda não achou algo semelhante que lhe traga essa motivação, sua vida pode estar incompleta. Olhe a seu redor. A felicidade pode estar batendo na sua porta. E se você já achou, mas não consegue dar o primeiro passo, busque inspiração, pois o sucesso também exige disciplina e força de vontade.

sábado, 12 de março de 2016

Impeachment e manifestações. O problema é maior que isso!

Mais uma grande manifestação de rua se aproxima. Mais uma vez, o povo vai às ruas, convocado por movimentos pró-impeachment, para protestar contra a corrupção e dizer "basta". Muitos estão eufóricos com o ato em si e com a possibilidade de mais um impeachment de presidente desta República. As questões que ficam são: O que ganharíamos de verdade com isso? Impeachment muda algo na estrutura corrupta do país? O foco das manifestações deveria ser a favor de um impeachment ou de uma reforma legislativa e política mais ampla que dificultasse a corrupção?

Chegar a respostas para estas questões exige uma grande reflexão e longos debates. Enquanto não conseguimos, o que mais preocupa são outros dois aspectos. Um deles é o cenário de "fundo de poço" a que nossa política chegou. O outro é a forma meio irresponsável com que o cidadão brasileiro contemporâneo tem tratado as questões políticas. Vamos detalhar esses dois aspectos.

Primeiramente, vamos ao cenário político atual. Parece óbvio, mas não conseguimos mais enxergar coisas básicas na nossa política do tipo: o executivo deve governar para o interesse público, o legislativo deve aprovar leis para o bem da população e o judiciário deve julgar os que cometem infrações à lei e a ordem. Isso, de forma grosseira, resume a política. Mas, ao abrirmos um jornal, no seu caderno de política, podemos contar muito mais ocorrências das palavras "propina", "aliança", "delação", "cadeia", "Polícia Federal", "Ministério Público", "denúncia", "arquivamento", "esquema" e "corrupção" (palavras muito ligadas ao caderno policial), que de palavras como "projeto", "proposta", "investimento", "aprovação", "inauguração", palavras estas, sim, que são relacionadas ao tema política.

O noticiário político, atualmente, tornou-se uma novela onde os personagens, em sua quase totalidade, estão envolvidos em todo tipo de esquema e conchavos com o intuito apenas de brigar por poder. Vale para quem está na situação. Vale para quem está na oposição. Observamos apenas ações que visam benefício próprio ou benefício de seu grupo político. É político mudando de partido. É político mudando de discurso. É político se aliando a pessoas que até um ano atrás parecia "inimigo mortal". Não vemos mais um projeto político, nem mesmo alguma personalidade política em quem possamos dizer: "este me representa" ou "por este boto a mão no fogo". A decepção do cidadão é maior ainda quando vemos que os últimos políticos que pareciam ser estes "políticos diferenciados", cheios de admiradores, quando chegaram ao poder, se mostraram exatamente iguais aos políticos comuns, cometendo os mesmos crimes e atuando sempre em benefício próprio ou de seu partido. Em resumo, vemos um cenário onde os partidos mudam apenas de situação para oposição e vice-versa, mas não há mudança alguma. Os esquemas maléficos apenas trocam de mãos.

O segundo aspecto preocupante, é o comportamento do cidadão diante de toda essa situação política. É incrível a quantidade de pessoas que enxerga a política com emoção. Emoção mesmo, praticamente amor por partidos e políticos. Emoção que chega a cegar para aspectos importantes. Enquanto a PF investiga o político "idolatrado", seus seguidores não se preocupam com seus (possíveis) crimes. Eles preferem questionar "Mas por que só ele é denunciado e não aquele?", "Essa investigação é tendenciosa, é golpe!", etc. Esses cidadãos acabam se comportando como torcedores de times de futebol. São levados pela paixão. Não se pode mexer com seus ídolos (investigar, prender parece uma afronta). Os possíveis crimes, para eles, parecem coisa boba, coisa permitida. É a política vista com emoção, sem qualquer razão.

Da mesma forma que existem os "torcedores de partido", existem os antagonistas. Estes nutrem um ódio por um determinado partido. Para estas pessoas, todos os problemas do país parecem que estão representados num determinado partido. Quando este partido está governando, então, tudo que ele fizer é visto como ruim. Não há um julgamento imparcial. No fim das contas, não são julgadas as ações, mas, sim, quem fez a ação. Em outras palavras, tais pessoas são incapazes de diferenciar as ações boas e ruins de um governo. Para elas, por ódio ao partido governante, tudo que ele fez é ruim. Dessa forma, a discussão política se torna uma disputa chata de "petralhas" versus "coxinhas", onde as pessoas escolhem um lado e passam a defendê-lo com todo vigor, ao mesmo tempo que passam a questionar e criticar o lado contrário.

Não deveria ser assim. Não deveríamos ter lado. Nosso lado deve ser com o interesse da população. Deveríamos votar em quem acreditamos e avaliá-los criticamente após eleitos, apontando seus acertos e seus erros. O que vemos são as pessoas que "torcem para partido" defenderem absolutamente todas as suas ações e, os que os odeiam, reclamarem de tudo. Não é vergonhoso votar em alguém e mudar de opinião da eleição seguinte. "Virar a casaca" só é feio no futebol.

Por causa de tudo isso, não é impeachment e não são as manifestações de ruas o que realmente preocupam. Estes não parecem que serão capazes de mudar alguma coisa. O que mais preocupa é o cenário político totalmente contaminado pela corrupção e o comportamento do cidadão diante de tudo isso. Estes parecem fazer muito mais estrago que as consequências de um possível impeachment. É como se um impeachment não abalasse em nada as estruturas desta política nefasta.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Está em dúvida? Não compartilhe!

Entrou na internet, abriu o site, leu a notícia e o que você logo vê: "Comentar, Compartilhar no Twitter, Compartilhar no Facebook, ...". Abriu a rede social, viu a postagem e o que aparece logo em seguida: "Retuitar, Curtir, Compartilhar, ...". Olhou seus grupos no celular, leu uma mensagem impactante e não pensou duas vezes após ler a frase mágica no final: "Divulgue em todos os seus grupos!".

Hoje, o incentivo a disseminar postagens em redes sociais é constante: basta abrir um site de notícias, de uma farmácia, de uma academia, de um clube de futebol, da sua faculdade, ... Basta entra num chat, nos seus inúmeros grupos de WhatsApp... Em todo lugar, lá estão as opções de interação. Ótimo para difundir informações interessantes, de utilidade geral, porém péssimo por inundar a rede com informações fúteis. Tudo bem que futilidade é um conceito relativo (fútil para quem?) e menos mau quando o conteúdo é inofensivo. O grande problema são as informações falsas, difundidas amplamente como se fossem verdade, e que podem ter consequências negativas, das mais simples às mais graves. Um perigo!

São muitos exemplos. Quem nunca recebeu mensagens como esta abaixo?

"Cuidado com este homem da foto (foto anexa à mensagem). Ele é um pedófilo, foragido da polícia. Foi visto pela última vez no parque Tal. Compartilhe com todos os seus grupos!..."

Aí, o homem da foto é reconhecido e linchado. Mas o homem era inocente e foi vítima de um boato que foi amplamente compartilhado em redes sociais. Alguma coisa parecida com isto aqui ou com o que aconteceu com esta mulher.

Algumas mensagens falsas são propositais, feitas para prejudicar alguém, enquanto outras são produzidas por engano. Mas existem também as que são criadas sem citar pessoas, apenas pela satisfação de seu autor em ver a mensagem "circular" na rede, como a famosa mensagem do carro roubado com um bebê dentro. Algo parecido com esta mensagem:

"Pessoal, um carro de marca Tal foi roubado agora no Centro da cidade X . Os ladrões fizeram o motorista descer e levaram o carro com um bebê dentro. O pai está desesperado! A placa do carro é ABC-1234. Espalhe para todos os seus contatos.

E na intenção de ajudar, muitos se sensibilizam e compartilham este boato. Aí um carro com a mesma placa é visto e seu motorista hostilizado na rua. Uma simples pesquisa na internet, antes de compartilhar a mensagem, poderia facilmente ter mostrado que uma mensagem idêntica circulava na internet, há pelo menos cinco anos, e que era falsa. Além disso, a pesquisa poderia achar a verdade como este texto que desmente o boato

E os exemplos não param. Teorias que dizem que a apresentadora de TV falou mal de crianças nordestinas, que o Governo esconde que o surto de microcefalia foi causado pelo uso de um lote de vacina vencida, que o governo americano está instalando suas forças armadas na Amazônia, que o dinheiro do Bolsa-Família deve ser sacado imediatamente porque o programa vai acabar, etc. Tudo mensagem falsa, compartilhadas amplamente na internet e que fazem muitos acreditarem e reagirem como se fossem verdade.

As consequências do compartilhamento deste tipo de histórias são óbvias e são bem diversificadas. Vão desde o prejuízo à honra e à reputação de pessoas ou empresas citadas até a proliferação de lixos eletrônicos, que consomem recursos dos provedores de internet e o limite da franquia de dados dos usuários. O mais interessante é a causa de tudo isso: o mau hábito dos usuários da internet, ou seja, a culpa é nossa! Tudo isso poderia ser evitado se nós tivéssemos um pouco de bom senso e refletíssemos um pouco antes da tentação de sair compartilhando tudo de forma imediata.

Atualmente, muitos internautas compartilham ou comentam notícias recebidas em suas redes sociais logo após lerem o título, sem ao menos abrirem o texto. Da mesma forma, ao receberem uma mensagem, compartilham sem fazerem um mínimo esforço para verificar sua veracidade. Muitos de nós já recebemos algum e-mail ou vimos postagens em redes sociais onde a pessoa escreve algo como "Não sei se é verdade, apenas compartilhando" ou "Será que é verdade?". Ora, ao invés de jogar na rede, por que não pesquisar um pouco sobre o assunto? O tempo gasto para fazer uma rápida pesquisa certamente não seria muito maior que o gasto para compartilhar a mensagem. Um pouco de critério, evitaria a disseminação de boatos e melhoraria sua própria credibilidade. Afinal, quem vai gostar das postagens de alguém que vive publicando boatos?

A nossa postura diante das notícias e histórias que gostaríamos de compartilhar precisa ser mais responsável. Existe "vida" na internet além das redes sociais. Você pode (e deve) buscar informações fazendo pesquisa, consultando fóruns ou acessando blogs e sites com boa credibilidade. Não cometa o erro de acreditar em tudo que você recebe nas redes. Se você tem dúvidas sobre algo que recebeu, não compartilhe! O danado é que, muitas vezes, não temos dúvidas e acabamos por compartilhar mentiras. Por isso, em todos os casos, é sempre bom desconfiar um pouco e buscar mais informações. Mesmo que você se sensibilize com determinadas histórias e sua intenção seja apenas ajudar, resista à tentação! Tenha certeza do que você está querendo compartilhar com o mundo. Você não é obrigado a postar algo, todo dia ou a cada minuto. Pare e reflita. Você não estará perdendo tempo. Melhor que a quantidade de postagens suas é a qualidade do que você publica.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Criatividade infantil: entre o simples do passado e o complexo do presente

Quando nós éramos crianças, acostumamo-nos com coisas simples. Qualquer lata de Leite Ninho poderia ter um cordão amarrado e se transformava num carrinho. Quatro sandálias Havaianas formavam perfeitamente as duas traves de um campo de futebol. Nós éramos criativos, inventávamos nossas brincadeiras e criávamos nossos próprios brinquedos. Era fácil ser criança, como também era "barato" para os pais fazerem seus filhos felizes, afinal, bola, pião, jogo de botão e bola de gude poderiam ser presentes perfeitos.

O tempo foi passando, o mundo foi se modernizando e os brinquedos foram ficando diferentes. Brinquedo bom passou a ser brinquedo caro (quanto custa um Play Station mesmo?). Pior que isso, brinquedo bom passou a ser algo complexo, cheio de luzes, fios, baterias, circuitos eletrônicos. Um dia desses meu filho ganhou um pião. Mas não era o pião da minha época, de madeira que girava após desenrolarmos o cordão. Era um pião de plástico, com uma peça de encaixe e com um botão que, quando acionado, desprendia-se do pião e o fazia girar. Aquela técnica que o bom lançador de pião tinha, aquela que levávamos algum tempo para aprender no nosso tempo, se foi. Agora é só apertar o botão e qualquer um roda o pião. E esse pião ainda é diferente: quando roda toca uma musiquinha e acende luzes de cores diferentes. Bem diferente do nosso pião de madeira.

Tudo muito complexo e tudo muito simples de usar. Difícil mesmo é de consertar. Se dá um defeito, só levando numa assistência especializada. Em outros tempos, era diferente. O brinquedo que quebrava poderia ser consertado em casa mesmo. Se a pipa se rasgava, a gente trocava o papel. Se a bola furava, era consertada com um remendo. As vezes, muitas coisas nem precisavam ser consertadas. A gente continuava brincando com o boneco que ficou sem o braço, com o carrinho que ficou sem a roda ou com o dominó que ficou sem uma peça.

Hoje em dia, não fabricamos nem consertamos nosso brinquedo e cada vez menos vemos brincadeiras com interação ativa em grupo (não em rede, on-line, mas olho no olho). As crianças de hoje ficaram menos criativas? Talvez não. Talvez ela apenas estejam vivendo em um ambiente que não as incentive a exercitar a criatividade. Tudo é muito "pronto" e simples de usar, porém complexo de ajustar. Quebrou? Manda pro conserto ou é só comprar outro. Enjoou? "Baixa" outro da internet.

Em meio a esse ambiente onde tudo é feito para ser fácil de usar e difícil de compreender, as crianças vão perdendo o interesse pela criação. Tudo parece ser tão complexo por dentro que se torna intocável, distante e desinteressante. O poeta já dizia há décadas atrás: "quem me dera, ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto como o mais importante". Ele estava certo, mas não foi o caminho da simplicidade que o mundo tomou. E, assim, nossas crianças vão crescendo esperando do mundo coisas prontas. Elas vão crescendo cada vez menos estimuladas, tornando-se menos criativas e, assim, cada vez menos capazes de mudar seu próprio mundo.

domingo, 20 de setembro de 2015

Qual o real tamanho dos seus problemas?

Um dia, um amigo me falou: "Você consegue ver o lado positivo em coisas das quais todo mundo reclama.". Desde então tenho pensado no significado desta frase. É verdade. A vida nos reserva várias situações, vários acontecimentos, que não são exatamente como quereríamos que fossem. Muitas vezes, algo não sai como desejamos, desde as coisas mais insignificantes até as mais importantes. Muitas pessoas veem as adversidades como motivos suficientes para desistirem; outras, como desafios que os motivam a superá-los; enquanto outras simplesmente enxergam as adversidades como uma coisa minúscula como uma gotinha de suor escorrendo em direção aos olhos, ou seja, elas enxugam o rosto rapidamente e seguem em frente.

Quantas vezes você desejou fazer algo diferente, planejou tudo e ... desistiu porque um obstáculo pareceu-lhe intransponível? Foi aquela promessa de parar de fumar interrompida porque "a vontade foi mais forte". Foi aquela caminhada matinal não realizada porque o céu amanheceu nublado. Foi aquela dieta que nem começou porque os convites de amigos para comer umas extravagâncias foram irrecusáveis. Foi aquela festa que você desistiu de ir só porque, entre os mais de cem convidados, havia uma pessoa de quem você não gostava. Foi aquele texto superinteressante que você não leu, só porque viu que ele era um pouco longo. Foi aquele passeio com a turma que você não fez, só porque achou o local escolhido longe ou caro. Foi o carro que você não lavou por preguiça e o mandou ao lava-jato. Foi a palestra que você não deu, só porque não gosta de falar em público. Foi aquela prova que você fez sem estudar porque não teve como recusar os convites do fim de semana. As desculpas foram "mil", mas, sejamos honestos, foi você que as transformou em algo intransponível. Foi você que não fez o que poderia fazer porque não quis.

Veja exemplos de outras pessoas que tiveram os mesmos planos, que vivenciaram os mesmos obstáculos e que passaram por cima de tudo. Quem venceu o vício do fumo certamente passou por dias de tentação. O céu também amanheceu nublado muitas vezes para pessoas que fizeram sua caminhada às seis da manhã. Pessoas que perderam uns quilinhos após uma dieta firme tiveram que dizer não a muitos convites. Pessoas foram a festas e se divertiram muito, mesmo tendo que encarar pessoas desagradáveis. Muitos tiveram o prazer de dizer que o texto era longo, mas que valeu a pena ler cada linha. Seus amigos não se arrependeram nem da distância nem do preço do passeio inesquecível que fizeram. Muitos também economizaram uma graninha e venceram a preguiça ao lavar o próprio carro. Muitos que foram aplaudidos após uma palestra também ficaram com o frio na barriga por horas antes de as realizarem. Muitos não se envergonharam ao dizer a você: "Não vou. Tenho prova na segunda.". Sim. Elas venceram e você também poderia ter vencido. A diferença é que elas não procuraram desculpas e fizeram o que prometeram fazer, simplesmente, porque quiseram fazer.

Superar tais obstáculos não é fácil. As vezes precisamos ser muitos fortes para vencer as tentações, saber dizer não e sofrer um bocado em busca de um objetivo. Pode ser difícil para alguns, mas quase sempre é possível superar os obstáculos. O ditado "querer é poder" nunca foi tão apropriado quanto nestas situações. Se é difícil para alguns, felizmente, existem pessoas que já chegaram a um nível de determinação tamanha que tudo isso já se torna natural, sem tanto sofrimento. Para estas pessoas, apenas citando um exemplo, dizer "não" já não causa tanta aflição. É uma atitude já incorporada e que se tornou natural. Este tipo de pessoa, quando quer algo, não mede esforços nem enxerga obstáculos. Ou melhor, até enxerga, mas os vê por cima, bem pequeninos. Quando quer, faz, não importam as condições. Se ela quer ir ao cinema assistir ao filme que tanto desejou, não espera que algum amigo tenha tempo para ir. Ela convida e, se ninguém for com ela, vai sozinha mesmo. São pessoas que, quando precisam fazer um trabalho da faculdade, mas o barulho da furadeira do vizinho está alto, ao invés de apenas reclamar, tampam os ouvidos e fazem o seu trabalho. São pessoas que não desistem de comprar o que necessitam só porque as filas dos caixas estavam gigantes. São pessoas que não ficam reclamando que o calor está forte, que barulho está alto, que o cronograma está apertado ou que não lhe explicaram direito como fazer. Em outras palavras, elas fazem o que precisa ser feito, afinal, dificuldades são pequenos muros e muros foram feitos para serem "pulados".

Existem pessoas que realmente têm grandes problemas. Antes que estas me xinguem, deixo claro que não é elas que este texto critica. Estas estão perdoadas porque só quem vivencia seus próprios problemas sabe a real dimensão deles. O texto se refere a pessoas que transformam situações superáveis em problemas maiores do que realmente são. É preciso maturidade e sabedoria para reconhecer o tamanho dos nossos problemas. As vezes enfrentamos problemas que realmente são têm solução. Para estes, existem opções: aceitar e apenas reclamar, ou aceitar e fazer algo para minimizar seus efeitos. Se não dá para cessar a tempestade, proteja-se da chuva e siga em frente. Por fim, cabe a cada um de nós refletir que tipos de atitudes temos tido diante dos nossos problemas: eles realmente são grandes problemas ou somos nós que os transformamos em "monstros"? Nossos problemas são intransponíveis, transformamo-os em fonte de motivação ou passamos por cima deles como se nem existissem?