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sábado, 3 de setembro de 2016

Métafora do Impeachment

Era uma vez uma garotinha chamada Dilma. Desde os tempos de escola, ela sempre foi atuante e participativa. Ao longo da vida escolar, chegou até a ser punida por contrariar os diretores da escola, pela forma com que defendia seus ideais e de seus colegas estudantes. Dilma cresceu, começou a trabalhar e não mais se envolveu com conflitos.

Um dia, Dilma resolveu participar de algo que nunca tinha feito em toda sua vida: participar de um reality show. Era uma competição em que os participantes precisariam mostrar qualidades e ganhar a preferência do público. O vencedor, definido pela escolha dos espectadores, receberia como prêmio um carro de luxo. Apesar de sua pouca experiência, ela não estava só e teve o apoio importantíssimo de ex-participantes deste mesmo reality, inclusive apoio do último vencedor. E quem diria? Após uma dura disputa, o público a escolheu como vencedora.

Dilma recebeu o prometido prêmio e, junto com ele, algumas regalias: poderia desfrutar do seu carro de luxo a toda hora e também, durante alguns anos, não pagaria os impostos, a manutenção e o combustível. Tudo seria perfeito, exceto por uma condição: durante o tempo de carência do seu prêmio, Dilma não poderia se envolver em acidentes de trânsito, nem cometer nenhuma infração. Caso contrário, perderia imediatamente o prêmio, que seria repassado a um dos participantes derrotados no reality.

Apesar do êxito na disputa, a vitória de Dilma foi apertadíssima e nunca foi muito bem aceita nem pelos concorrentes derrotados, nem pela parte do público simpatizante desses outros concorrentes. Ainda durante o programa, alguns competidores se tornaram seus inimigos e assim continuaram após o reality. Alguns desses inimigos, por diversas vezes, questionaram sua vitória e pleitearam a devolução do prêmio. As alegações não chegaram a ser aceitas e Dilma desfrutou de seu carrão à vontade. Ela ia ao trabalho, ao parque, ao cinema, ao supermercado... Muitas pessoas a reconheciam na rua e ficavam felizes ao vê-la passar motorizada. Já outros, simpatizantes de concorrentes derrotados, torciam o nariz.

Nossa personagem aproveitou bastante seu prêmio, porém ela tinha um defeito: não era muito cuidadosa com seu carro. Era comum deixar o carro vários meses sem lavar, abastecia o combustível em postos de qualidade duvidosa, estacionava na rua ou em vagas apertadas... Seu carro já tinha tantos arranhões que muitas pessoas chegaram a dar conselhos para que cuidasse melhor dele, mas ela ignorava. Devido à falta de cuidados, seus inimigos até chegaram a pedir a devolução do carro e um novo reality, mas esta hipótese não era prevista no regulamento do programa. Somente haveria perda do prêmio nos casos já citados anteriormente.

Dilma também tinha um outro defeito, vivia se atrasando para ir trabalhar. De tanto chegar tarde, muitas vezes o estacionamento da empresa já se encontrava lotado e o carro acabava sendo estacionado nas ruas próximas. Em uma dessas ruas, era comum ver carros de outros funcionários estacionados, apesar de existirem placas de estacionamento proibido. A cena se repetia todos os dias e, mesmo com as placas, ninguém era multado. Mas, como já sabíamos, Dilma colecionou muitos inimigos e, numa dessas vezes em que ela estacionou na tal rua, um de seus inimigos a denunciou. A autoridade de trânsito, então, rebocou seu carro e aplicou-lhe uma multa. A agora infratora tentou se defender. Alegou que outras pessoas também estacionavam naquela rua há anos e nunca foram multadas, mas sua tentativa de defesa foi em vão. A lei era clara.

Com a infração consumada, os inimigos trataram logo de pleitear a posse do carro junto à organização do reality show. Dilma também tentou se defender, alegando que não havia cometido nenhuma infração tão grave assim e que outras pessoas, inclusive as que estavam requerendo o carro, também estacionavam ali sem nunca terem sido multadas. Além do mais, em sua defesa, Dilma alegou que não houve dolo na sua conduta e que, na verdade, estava sendo vítima de um golpe, pois sua multa só foi aplicada como fruto de uma armação dos seus inimigos, que aguardaram exatamente ela estacionar ali para chamar o agente de trânsito. A defesa de Dilma foi em vão por dois motivos: a punição estava claramente prevista no regulamento e, principalmente, porque a maior parte dos seus julgadores também era formada por seus inimigos ou por quem tinha interesse na perda de seu prêmio. Dessa forma, suas alegações sequer foram levadas em consideração e o regulamento do programa foi aplicado ao pé da letra: infração de trânsito = perda do carro.

E assim, Dilma agora anda a pé. O carrão de luxo agora está nas mãos de quem não venceu na preferência popular.

De tudo isso, ficam algumas lições para Dilma e para todos nós:

1) Não seja adepto do “se todo faz, que mal tem”. Um dia o agente de trânsito pode passar bem na hora e a lei será aplicada.
2) Tenha amigos. Quem tem inimigos corre o risco de tê-los o tempo todo de olho na sua vida, esperando seus deslizes para denunciá-los.
3) Ande sempre na linha. Assim, mesmo que tenha muitos inimigos, se você não cometer erros, seus inimigos não terão o que denunciar.

Foi isso que aconteceu com você, querida. Um monte de gente estava de olho no seu carrão e fazendo de tudo para tirá-lo de ti. Você pisou na bola sim e eles astutamente aproveitaram. Era só não ter cometido o “erro de responsabilidade” que você não teria dado a chance que eles queriam e você continuaria, até hoje, com seu carro de luxo. Mesmo malcuidado e quase acabado, ele continuaria sendo seu.

sábado, 12 de março de 2016

Impeachment e manifestações. O problema é maior que isso!

Mais uma grande manifestação de rua se aproxima. Mais uma vez, o povo vai às ruas, convocado por movimentos pró-impeachment, para protestar contra a corrupção e dizer "basta". Muitos estão eufóricos com o ato em si e com a possibilidade de mais um impeachment de presidente desta República. As questões que ficam são: O que ganharíamos de verdade com isso? Impeachment muda algo na estrutura corrupta do país? O foco das manifestações deveria ser a favor de um impeachment ou de uma reforma legislativa e política mais ampla que dificultasse a corrupção?

Chegar a respostas para estas questões exige uma grande reflexão e longos debates. Enquanto não conseguimos, o que mais preocupa são outros dois aspectos. Um deles é o cenário de "fundo de poço" a que nossa política chegou. O outro é a forma meio irresponsável com que o cidadão brasileiro contemporâneo tem tratado as questões políticas. Vamos detalhar esses dois aspectos.

Primeiramente, vamos ao cenário político atual. Parece óbvio, mas não conseguimos mais enxergar coisas básicas na nossa política do tipo: o executivo deve governar para o interesse público, o legislativo deve aprovar leis para o bem da população e o judiciário deve julgar os que cometem infrações à lei e a ordem. Isso, de forma grosseira, resume a política. Mas, ao abrirmos um jornal, no seu caderno de política, podemos contar muito mais ocorrências das palavras "propina", "aliança", "delação", "cadeia", "Polícia Federal", "Ministério Público", "denúncia", "arquivamento", "esquema" e "corrupção" (palavras muito ligadas ao caderno policial), que de palavras como "projeto", "proposta", "investimento", "aprovação", "inauguração", palavras estas, sim, que são relacionadas ao tema política.

O noticiário político, atualmente, tornou-se uma novela onde os personagens, em sua quase totalidade, estão envolvidos em todo tipo de esquema e conchavos com o intuito apenas de brigar por poder. Vale para quem está na situação. Vale para quem está na oposição. Observamos apenas ações que visam benefício próprio ou benefício de seu grupo político. É político mudando de partido. É político mudando de discurso. É político se aliando a pessoas que até um ano atrás parecia "inimigo mortal". Não vemos mais um projeto político, nem mesmo alguma personalidade política em quem possamos dizer: "este me representa" ou "por este boto a mão no fogo". A decepção do cidadão é maior ainda quando vemos que os últimos políticos que pareciam ser estes "políticos diferenciados", cheios de admiradores, quando chegaram ao poder, se mostraram exatamente iguais aos políticos comuns, cometendo os mesmos crimes e atuando sempre em benefício próprio ou de seu partido. Em resumo, vemos um cenário onde os partidos mudam apenas de situação para oposição e vice-versa, mas não há mudança alguma. Os esquemas maléficos apenas trocam de mãos.

O segundo aspecto preocupante, é o comportamento do cidadão diante de toda essa situação política. É incrível a quantidade de pessoas que enxerga a política com emoção. Emoção mesmo, praticamente amor por partidos e políticos. Emoção que chega a cegar para aspectos importantes. Enquanto a PF investiga o político "idolatrado", seus seguidores não se preocupam com seus (possíveis) crimes. Eles preferem questionar "Mas por que só ele é denunciado e não aquele?", "Essa investigação é tendenciosa, é golpe!", etc. Esses cidadãos acabam se comportando como torcedores de times de futebol. São levados pela paixão. Não se pode mexer com seus ídolos (investigar, prender parece uma afronta). Os possíveis crimes, para eles, parecem coisa boba, coisa permitida. É a política vista com emoção, sem qualquer razão.

Da mesma forma que existem os "torcedores de partido", existem os antagonistas. Estes nutrem um ódio por um determinado partido. Para estas pessoas, todos os problemas do país parecem que estão representados num determinado partido. Quando este partido está governando, então, tudo que ele fizer é visto como ruim. Não há um julgamento imparcial. No fim das contas, não são julgadas as ações, mas, sim, quem fez a ação. Em outras palavras, tais pessoas são incapazes de diferenciar as ações boas e ruins de um governo. Para elas, por ódio ao partido governante, tudo que ele fez é ruim. Dessa forma, a discussão política se torna uma disputa chata de "petralhas" versus "coxinhas", onde as pessoas escolhem um lado e passam a defendê-lo com todo vigor, ao mesmo tempo que passam a questionar e criticar o lado contrário.

Não deveria ser assim. Não deveríamos ter lado. Nosso lado deve ser com o interesse da população. Deveríamos votar em quem acreditamos e avaliá-los criticamente após eleitos, apontando seus acertos e seus erros. O que vemos são as pessoas que "torcem para partido" defenderem absolutamente todas as suas ações e, os que os odeiam, reclamarem de tudo. Não é vergonhoso votar em alguém e mudar de opinião da eleição seguinte. "Virar a casaca" só é feio no futebol.

Por causa de tudo isso, não é impeachment e não são as manifestações de ruas o que realmente preocupam. Estes não parecem que serão capazes de mudar alguma coisa. O que mais preocupa é o cenário político totalmente contaminado pela corrupção e o comportamento do cidadão diante de tudo isso. Estes parecem fazer muito mais estrago que as consequências de um possível impeachment. É como se um impeachment não abalasse em nada as estruturas desta política nefasta.