Vez por outra sou surpreendido por perguntas ou comentários do tipo: "Por que você vai participar desta corrida?", "Para quê correr?", "Levantar seis da manhã de um domingo para correr não dá."... Nunca me preocupei em explicar em detalhes alguns comportamentos, até porque a explicação nem sempre é tão simples e direta quanto parece, mas, após ser questionado pelo filho de seis anos, chegou o momento de falar mais sobre isso.
Nada na vida é tão óbvio quanto parece. Seria muito básico apenas dizer "porque faz bem para saúde" ou "porque praticar exercício é bom". Existem muitos outros aspectos envolvidos. A verdade é que correr não é bom. O que? Como assim? Mas é isso mesmo: correr não é bom. Afinal, quem gosta de se sentir cansado? Quem sente prazer ao ouvir o despertador acabar com seu sono às cinco e meia da manhã? Quem acha bom se sentir ofegante e esgotado, achando que vai ter um "piripaque" antes de atingir a linha de chegada? Creio que nenhum ser humano em suas CNTP, já que a corrida, em si, é uma tortura para o corpo. Então, não se iluda: correr é ruim para caramba!
Mas, como tudo na vida, o melhor sempre fica para o final. Com a corrida também é assim. O "durante" de uma corrida é um grande sofrimento. O grande barato é quando você termina. Aí, sim, vem a grande sensação de prazer e satisfação. É a sensação do dever cumprido. A sensação do "eu consegui" ou "eu atingi a meta". O tamanho desse sentimento é proporcional ao tamanho da dificuldade. Quanto mais desgastante for a corrida, maior será o prazer ao completá-la. A partir daí, o que vai ficar na memória é justamente esse momento. O sofrimento da corrida fica esquecido e o prazer proporcionado durará por horas e até dias. Prevalece, então, o sentimento que tanto motiva os corredores a desejar "sofrer" tudo novamente. É por isso que esses seres estranhos, chamados corredores, conseguem dizer que correr é bom demais.
Toda essa explicação sobre a paixão por correr pode ser aplicada a muitas outras coisas. Em outras palavras, o mesmo prazer proporcionado não é exclusividade da corrida e pode ser obtido, de forma semelhante, por outras atividades. O que existe em comum entre elas é o desafio, o cumprimento de metas e o prazer resultante. Todos nós devemos procurar algo em nossas vidas que nos motive e que nos faça "sair do cama confortável" para "sofrer" de forma prazerosa. Pode ser correr, pode ser pedalar, pode ser fazer caridade, pode ser ir à missa, pode ser cortar a grama, desenvolver um projeto pessoal, ou, até mesmo, lavar o carro. A satisfação não está no "durante", mas, exatamente, no resultado obtido ao final. Se você ainda não achou algo semelhante que lhe traga essa motivação, sua vida pode estar incompleta. Olhe a seu redor. A felicidade pode estar batendo na sua porta. E se você já achou, mas não consegue dar o primeiro passo, busque inspiração, pois o sucesso também exige disciplina e força de vontade.
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