Quando nós éramos crianças, acostumamo-nos com coisas simples. Qualquer lata de Leite Ninho poderia ter um cordão amarrado e se transformava num carrinho. Quatro sandálias Havaianas formavam perfeitamente as duas traves de um campo de futebol. Nós éramos criativos, inventávamos nossas brincadeiras e criávamos nossos próprios brinquedos. Era fácil ser criança, como também era "barato" para os pais fazerem seus filhos felizes, afinal, bola, pião, jogo de botão e bola de gude poderiam ser presentes perfeitos.
O tempo foi passando, o mundo foi se modernizando e os brinquedos foram ficando diferentes. Brinquedo bom passou a ser brinquedo caro (quanto custa um Play Station mesmo?). Pior que isso, brinquedo bom passou a ser algo complexo, cheio de luzes, fios, baterias, circuitos eletrônicos. Um dia desses meu filho ganhou um pião. Mas não era o pião da minha época, de madeira que girava após desenrolarmos o cordão. Era um pião de plástico, com uma peça de encaixe e com um botão que, quando acionado, desprendia-se do pião e o fazia girar. Aquela técnica que o bom lançador de pião tinha, aquela que levávamos algum tempo para aprender no nosso tempo, se foi. Agora é só apertar o botão e qualquer um roda o pião. E esse pião ainda é diferente: quando roda toca uma musiquinha e acende luzes de cores diferentes. Bem diferente do nosso pião de madeira.
Tudo muito complexo e tudo muito simples de usar. Difícil mesmo é de consertar. Se dá um defeito, só levando numa assistência especializada. Em outros tempos, era diferente. O brinquedo que quebrava poderia ser consertado em casa mesmo. Se a pipa se rasgava, a gente trocava o papel. Se a bola furava, era consertada com um remendo. As vezes, muitas coisas nem precisavam ser consertadas. A gente continuava brincando com o boneco que ficou sem o braço, com o carrinho que ficou sem a roda ou com o dominó que ficou sem uma peça.
Hoje em dia, não fabricamos nem consertamos nosso brinquedo e cada vez menos vemos brincadeiras com interação ativa em grupo (não em rede, on-line, mas olho no olho). As crianças de hoje ficaram menos criativas? Talvez não. Talvez ela apenas estejam vivendo em um ambiente que não as incentive a exercitar a criatividade. Tudo é muito "pronto" e simples de usar, porém complexo de ajustar. Quebrou? Manda pro conserto ou é só comprar outro. Enjoou? "Baixa" outro da internet.
Em meio a esse ambiente onde tudo é feito para ser fácil de usar e difícil de compreender, as crianças vão perdendo o interesse pela criação. Tudo parece ser tão complexo por dentro que se torna intocável, distante e desinteressante. O poeta já dizia há décadas atrás: "quem me dera, ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto como o mais importante". Ele estava certo, mas não foi o caminho da simplicidade que o mundo tomou. E, assim, nossas crianças vão crescendo esperando do mundo coisas prontas. Elas vão crescendo cada vez menos estimuladas, tornando-se menos criativas e, assim, cada vez menos capazes de mudar seu próprio mundo.
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
domingo, 20 de setembro de 2015
Qual o real tamanho dos seus problemas?
Um dia, um amigo me falou: "Você consegue ver o lado positivo em coisas das quais todo mundo reclama.". Desde então tenho pensado no significado desta frase. É verdade. A vida nos reserva várias situações, vários acontecimentos, que não são exatamente como quereríamos que fossem. Muitas vezes, algo não sai como desejamos, desde as coisas mais insignificantes até as mais importantes. Muitas pessoas veem as adversidades como motivos suficientes para desistirem; outras, como desafios que os motivam a superá-los; enquanto outras simplesmente enxergam as adversidades como uma coisa minúscula como uma gotinha de suor escorrendo em direção aos olhos, ou seja, elas enxugam o rosto rapidamente e seguem em frente.
Quantas vezes você desejou fazer algo diferente, planejou tudo e ... desistiu porque um obstáculo pareceu-lhe intransponível? Foi aquela promessa de parar de fumar interrompida porque "a vontade foi mais forte". Foi aquela caminhada matinal não realizada porque o céu amanheceu nublado. Foi aquela dieta que nem começou porque os convites de amigos para comer umas extravagâncias foram irrecusáveis. Foi aquela festa que você desistiu de ir só porque, entre os mais de cem convidados, havia uma pessoa de quem você não gostava. Foi aquele texto superinteressante que você não leu, só porque viu que ele era um pouco longo. Foi aquele passeio com a turma que você não fez, só porque achou o local escolhido longe ou caro. Foi o carro que você não lavou por preguiça e o mandou ao lava-jato. Foi a palestra que você não deu, só porque não gosta de falar em público. Foi aquela prova que você fez sem estudar porque não teve como recusar os convites do fim de semana. As desculpas foram "mil", mas, sejamos honestos, foi você que as transformou em algo intransponível. Foi você que não fez o que poderia fazer porque não quis.
Veja exemplos de outras pessoas que tiveram os mesmos planos, que vivenciaram os mesmos obstáculos e que passaram por cima de tudo. Quem venceu o vício do fumo certamente passou por dias de tentação. O céu também amanheceu nublado muitas vezes para pessoas que fizeram sua caminhada às seis da manhã. Pessoas que perderam uns quilinhos após uma dieta firme tiveram que dizer não a muitos convites. Pessoas foram a festas e se divertiram muito, mesmo tendo que encarar pessoas desagradáveis. Muitos tiveram o prazer de dizer que o texto era longo, mas que valeu a pena ler cada linha. Seus amigos não se arrependeram nem da distância nem do preço do passeio inesquecível que fizeram. Muitos também economizaram uma graninha e venceram a preguiça ao lavar o próprio carro. Muitos que foram aplaudidos após uma palestra também ficaram com o frio na barriga por horas antes de as realizarem. Muitos não se envergonharam ao dizer a você: "Não vou. Tenho prova na segunda.". Sim. Elas venceram e você também poderia ter vencido. A diferença é que elas não procuraram desculpas e fizeram o que prometeram fazer, simplesmente, porque quiseram fazer.
Superar tais obstáculos não é fácil. As vezes precisamos ser muitos fortes para vencer as tentações, saber dizer não e sofrer um bocado em busca de um objetivo. Pode ser difícil para alguns, mas quase sempre é possível superar os obstáculos. O ditado "querer é poder" nunca foi tão apropriado quanto nestas situações. Se é difícil para alguns, felizmente, existem pessoas que já chegaram a um nível de determinação tamanha que tudo isso já se torna natural, sem tanto sofrimento. Para estas pessoas, apenas citando um exemplo, dizer "não" já não causa tanta aflição. É uma atitude já incorporada e que se tornou natural. Este tipo de pessoa, quando quer algo, não mede esforços nem enxerga obstáculos. Ou melhor, até enxerga, mas os vê por cima, bem pequeninos. Quando quer, faz, não importam as condições. Se ela quer ir ao cinema assistir ao filme que tanto desejou, não espera que algum amigo tenha tempo para ir. Ela convida e, se ninguém for com ela, vai sozinha mesmo. São pessoas que, quando precisam fazer um trabalho da faculdade, mas o barulho da furadeira do vizinho está alto, ao invés de apenas reclamar, tampam os ouvidos e fazem o seu trabalho. São pessoas que não desistem de comprar o que necessitam só porque as filas dos caixas estavam gigantes. São pessoas que não ficam reclamando que o calor está forte, que barulho está alto, que o cronograma está apertado ou que não lhe explicaram direito como fazer. Em outras palavras, elas fazem o que precisa ser feito, afinal, dificuldades são pequenos muros e muros foram feitos para serem "pulados".
Existem pessoas que realmente têm grandes problemas. Antes que estas me xinguem, deixo claro que não é elas que este texto critica. Estas estão perdoadas porque só quem vivencia seus próprios problemas sabe a real dimensão deles. O texto se refere a pessoas que transformam situações superáveis em problemas maiores do que realmente são. É preciso maturidade e sabedoria para reconhecer o tamanho dos nossos problemas. As vezes enfrentamos problemas que realmente são têm solução. Para estes, existem opções: aceitar e apenas reclamar, ou aceitar e fazer algo para minimizar seus efeitos. Se não dá para cessar a tempestade, proteja-se da chuva e siga em frente. Por fim, cabe a cada um de nós refletir que tipos de atitudes temos tido diante dos nossos problemas: eles realmente são grandes problemas ou somos nós que os transformamos em "monstros"? Nossos problemas são intransponíveis, transformamo-os em fonte de motivação ou passamos por cima deles como se nem existissem?
Quantas vezes você desejou fazer algo diferente, planejou tudo e ... desistiu porque um obstáculo pareceu-lhe intransponível? Foi aquela promessa de parar de fumar interrompida porque "a vontade foi mais forte". Foi aquela caminhada matinal não realizada porque o céu amanheceu nublado. Foi aquela dieta que nem começou porque os convites de amigos para comer umas extravagâncias foram irrecusáveis. Foi aquela festa que você desistiu de ir só porque, entre os mais de cem convidados, havia uma pessoa de quem você não gostava. Foi aquele texto superinteressante que você não leu, só porque viu que ele era um pouco longo. Foi aquele passeio com a turma que você não fez, só porque achou o local escolhido longe ou caro. Foi o carro que você não lavou por preguiça e o mandou ao lava-jato. Foi a palestra que você não deu, só porque não gosta de falar em público. Foi aquela prova que você fez sem estudar porque não teve como recusar os convites do fim de semana. As desculpas foram "mil", mas, sejamos honestos, foi você que as transformou em algo intransponível. Foi você que não fez o que poderia fazer porque não quis.
Veja exemplos de outras pessoas que tiveram os mesmos planos, que vivenciaram os mesmos obstáculos e que passaram por cima de tudo. Quem venceu o vício do fumo certamente passou por dias de tentação. O céu também amanheceu nublado muitas vezes para pessoas que fizeram sua caminhada às seis da manhã. Pessoas que perderam uns quilinhos após uma dieta firme tiveram que dizer não a muitos convites. Pessoas foram a festas e se divertiram muito, mesmo tendo que encarar pessoas desagradáveis. Muitos tiveram o prazer de dizer que o texto era longo, mas que valeu a pena ler cada linha. Seus amigos não se arrependeram nem da distância nem do preço do passeio inesquecível que fizeram. Muitos também economizaram uma graninha e venceram a preguiça ao lavar o próprio carro. Muitos que foram aplaudidos após uma palestra também ficaram com o frio na barriga por horas antes de as realizarem. Muitos não se envergonharam ao dizer a você: "Não vou. Tenho prova na segunda.". Sim. Elas venceram e você também poderia ter vencido. A diferença é que elas não procuraram desculpas e fizeram o que prometeram fazer, simplesmente, porque quiseram fazer.
Superar tais obstáculos não é fácil. As vezes precisamos ser muitos fortes para vencer as tentações, saber dizer não e sofrer um bocado em busca de um objetivo. Pode ser difícil para alguns, mas quase sempre é possível superar os obstáculos. O ditado "querer é poder" nunca foi tão apropriado quanto nestas situações. Se é difícil para alguns, felizmente, existem pessoas que já chegaram a um nível de determinação tamanha que tudo isso já se torna natural, sem tanto sofrimento. Para estas pessoas, apenas citando um exemplo, dizer "não" já não causa tanta aflição. É uma atitude já incorporada e que se tornou natural. Este tipo de pessoa, quando quer algo, não mede esforços nem enxerga obstáculos. Ou melhor, até enxerga, mas os vê por cima, bem pequeninos. Quando quer, faz, não importam as condições. Se ela quer ir ao cinema assistir ao filme que tanto desejou, não espera que algum amigo tenha tempo para ir. Ela convida e, se ninguém for com ela, vai sozinha mesmo. São pessoas que, quando precisam fazer um trabalho da faculdade, mas o barulho da furadeira do vizinho está alto, ao invés de apenas reclamar, tampam os ouvidos e fazem o seu trabalho. São pessoas que não desistem de comprar o que necessitam só porque as filas dos caixas estavam gigantes. São pessoas que não ficam reclamando que o calor está forte, que barulho está alto, que o cronograma está apertado ou que não lhe explicaram direito como fazer. Em outras palavras, elas fazem o que precisa ser feito, afinal, dificuldades são pequenos muros e muros foram feitos para serem "pulados".
Existem pessoas que realmente têm grandes problemas. Antes que estas me xinguem, deixo claro que não é elas que este texto critica. Estas estão perdoadas porque só quem vivencia seus próprios problemas sabe a real dimensão deles. O texto se refere a pessoas que transformam situações superáveis em problemas maiores do que realmente são. É preciso maturidade e sabedoria para reconhecer o tamanho dos nossos problemas. As vezes enfrentamos problemas que realmente são têm solução. Para estes, existem opções: aceitar e apenas reclamar, ou aceitar e fazer algo para minimizar seus efeitos. Se não dá para cessar a tempestade, proteja-se da chuva e siga em frente. Por fim, cabe a cada um de nós refletir que tipos de atitudes temos tido diante dos nossos problemas: eles realmente são grandes problemas ou somos nós que os transformamos em "monstros"? Nossos problemas são intransponíveis, transformamo-os em fonte de motivação ou passamos por cima deles como se nem existissem?
sábado, 30 de maio de 2015
Quando o melhor não está evidente no primeiro contato
Muitas vezes, somos tentados na vida a sair do sério e reclamar raivosamente contra algo ou alguém que não age conforme esperamos ou que nos causa um prejuízo. Em algumas dessas situações, manter a calma e exercitar e parcimônia é uma tarefa muito difícil. No entanto, a vida é capaz de nos surpreender e, algumas vezes, o nosso esforço acaba trazendo algumas recompensas.
Era uma sexta-feira. Resolvi levar a bicicleta para a manutenção de rotina. Uma manutenção deste tipo, normalmente, dura menos de uma dia. Você leva a bicicleta na loja pela manhã e pega à tarde. Como era fim de tarde, o lojista avisou que o serviço só estaria pronto no dia seguinte. Era o esperado por mim. Mas, como no sábado já tinha outros compromissos, avisei que iria buscar a bicicleta na segunda-feira. Combinado. Tudo bem. Por iniciativa própria, resolvi também já deixar a manutenção paga antecipadamente.
Pois bem. Na segunda-feira, pela manhã, saí mais tarde que o habitual de casa, fui até a loja e esperei-a abrir. Atrasei alguns compromissos do dia para estar ali, naquele momento, e retirar a bike revisada para levá-la para casa, antes de seguir a rotina do dia. Para surpresa e decepção total, a atendente informou que o serviço ainda não havia sido concluído. Veio logo em mente a lembrança de que a bicicleta foi deixada na sexta e que o serviço deveria estar pronto, com folga, no sábado. Já era segunda-feira e não estava pronto. Lembrei também dos compromissos que adiei para estar na loja naquele horário na segunda-feira. Ainda, como mais um agravante, lembrei que o serviço já havia sido pago com antecedência. Tudo isso já seria motivo suficiente para iniciar uma reclamação ruidosa. Para alguns, já haveria motivo para esculhambar o estabelecimento pelo mau atendimento prestado e prometer não mais voltar ali. Por instante, realmente, esse sentimento veio à mente, mas, subita e surpreendentemente, se foi.
Tomado por uma quase inexplicável paciência, disse: "Tudo bem". E, em seguida perguntei: "Quando o serviço estará pronto?". A resposta foi que poderia retornar à tarde, horário este em que já tinha outro compromisso, desta vez, inadiável. Assim, só poderia retornar na terça-feira. Foi o que aconteceu. No entanto, passei a segunda-feira inteira pensando por que tive tamanha paciência, pensando como pude ter sido tão "bonzinho", enfim, pensando por que não havia usado meu direito de consumidor mal atendido para dar um esculacho geral e com toda razão.
Pois bem, tirados esses pensamentos ruins, fui no dia seguinte, finalmente, buscar a bicicleta e foi justamente aí que veio a surpresa. A atendente informou que a bicicleta ainda estava com bastante graxa nas partes internas e que, por isso, não foi preciso fazer a lubrificação, ficando a manutenção restrita à lavagem e ao ajuste dos freios. Sendo assim, a loja iria restituir parte do direito pago antecipadamente pelo serviço que não precisou ser realizado. Foi uma grata surpresa, principalmente, porque, hoje em dia, é difícil achar lojistas honestos ao ponto de não cobrar o preço total de um serviço, quando o mesmo já está facilitado. Ponto para aquela loja que, naquele momento, ganhava a confiança de um cliente que não hesitaria em voltar a tomar seus serviços. Justamente aquela loja que, um dia antes, poderia ter sido alvo da ira de um cliente insatisfeito pelo serviço demorado.
A vida tem dessas coisas. Muitas vezes, a primeira impressão, que afirmam ser a que fica, na verdade, é a que nos engana. Pior, esta primeira impressão negativa, quando levada muito sério nos faz perder oportunidades de conhecer um ou vários lados bons, que se encontram ocultos no primeiro contato. Na situação descrita, uma raiva causada por um serviço atrasado poderia ter me impedido de conhecer a honestidade da loja. Muitas vezes, um descontrole, uma raiva, uma ira motivada por um primeiro contato traumático, nos faz fechar nossas portas para pessoas, lojas ou situações que possuem muitas qualidades que nos fariam muito bem. Assim também ocorre muitas vezes no nosso dia-a-dia. Nos afastamos de pessoas por achá-las, num primeiro contato, muito "sem graça" e perdemos a oportunidade de conhecer suas melhores qualidades. Muitas vezes, de forma oposta, nos encantamos demais com pessoas pelo primeiro contato e nos abrirmos demais com elas, para só depois percebemos suas características ruins. Muitas vezes perdemos o controle e iniciamos uma briga com alguém por um pequeno desentendimento, logo no primeiro contato, e riscamos esta pessoa de vez de nossa vida, por resumir aquela pessoa apenas ao fato ocorrido. Quantas vezes nos afastamos de pessoas que acabamos de conhecer, só por causa de uma opinião diferente da nossa sobre um certo assunto e nos afastamos porque resumimos todas as qualidades da pessoa, apenas àquela divergente naquele momento?
A vida acaba nos ensinando a sermos mais cautelosos com nossos julgamentos. Ter calma nos primeiros contatos vai nos ajudar a não tomarmos a primeira impressão com verdade sempre. Experiências ruins, num primeiro instante, não significam que tudo que gira em torno daquilo ou daquela pessoa seja ruim. Não devemos nos afastar de pessoas logo no primeiro julgamento. Todos temos defeitos e virtudes. Alguns, mais defeitos que virtudes. Outros, mais virtudes que defeitos. Um defeito evidente logo de cara, pode esconder grandes e grandes virtudes. Então, que sejamos mais cautelosos com nossos julgamentos e tenhamos sabedoria para enxergar o melhor que está por vezes escondido no primeiro contato.
quinta-feira, 26 de março de 2015
Um copiloto pode estar no caminho
"Viver é uma arte, é um ofício, mas é preciso cuidado...", já dizia a música. Passamos a vida toda cercados pelo perigo e por diversas incertezas. Temos medo de sofrer, temos medo de nos machucarmos, temos medo de ficarmos sós, temos medo de passarmos fome, temos medo de adoecer, temos medo de sermos roubados, temos medo de morrer. E por causa dos riscos que ela oferece, passamos a viver constantemente tomando precauções. Tantas precauções para podermos viver que, muitas vezes, deixamos "de viver".
Evitamos sair à rua para não sermos assaltados e, assim, ficamos trancados em casa. Evitamos comidas gordurosas para não entupir nossas artérias e, assim, comemos o que não nos dá prazer. Evitamos fazer aquela pergunta ao professor para não passar vergonha de uma pergunta boba e, assim, ficamos com a dúvida mal esclarecida. Evitamos brincar na chuva para não ficarmos gripados e, assim, deixamos de aproveitar uma das melhores coisas da vida. Evitamos pedalar na pista para não sermos atropelados por um carro, assim, ficamos presos no trânsito ou dentro de um ônibus lotado. Evitamos passear na véspera de uma prova para ficar estudando de última hora e, assim, nem aprendemos direito nem curtimos o passeio. Resolvemos poupar dinheiro hoje para termos tranquilidade no futuro e, assim, nem aproveitamos o dinheiro hoje e nem sabemos se aproveitaremos no futuro. Evitamos revelar nosso amor para não sofrermos a decepção de uma rejeição e, assim, ficamos sem a chance de amar.
Enfim, passamos a vida com medo, evitando aquilo que pode nos fazer sofrer e perdemos a chance de aproveitar o melhor da vida. Tanta precaução, tanta preocupação, tantos cuidados, tanto investimento no futuro... no futuro... Aquele futuro que, muitas vezes, pode não chegar. Como não chegou para aquelas mais de 150 vidas que foram bruscamente interrompidas por um copiloto que resolveu derrubar o avião.
Evitamos sair à rua para não sermos assaltados e, assim, ficamos trancados em casa. Evitamos comidas gordurosas para não entupir nossas artérias e, assim, comemos o que não nos dá prazer. Evitamos fazer aquela pergunta ao professor para não passar vergonha de uma pergunta boba e, assim, ficamos com a dúvida mal esclarecida. Evitamos brincar na chuva para não ficarmos gripados e, assim, deixamos de aproveitar uma das melhores coisas da vida. Evitamos pedalar na pista para não sermos atropelados por um carro, assim, ficamos presos no trânsito ou dentro de um ônibus lotado. Evitamos passear na véspera de uma prova para ficar estudando de última hora e, assim, nem aprendemos direito nem curtimos o passeio. Resolvemos poupar dinheiro hoje para termos tranquilidade no futuro e, assim, nem aproveitamos o dinheiro hoje e nem sabemos se aproveitaremos no futuro. Evitamos revelar nosso amor para não sofrermos a decepção de uma rejeição e, assim, ficamos sem a chance de amar.
Enfim, passamos a vida com medo, evitando aquilo que pode nos fazer sofrer e perdemos a chance de aproveitar o melhor da vida. Tanta precaução, tanta preocupação, tantos cuidados, tanto investimento no futuro... no futuro... Aquele futuro que, muitas vezes, pode não chegar. Como não chegou para aquelas mais de 150 vidas que foram bruscamente interrompidas por um copiloto que resolveu derrubar o avião.
sexta-feira, 20 de março de 2015
A geração sem arranhão
Depois que você tem filhos, é inevitável não comparar a infância que você teve com a que tem proporcionado a eles. Sempre pensamos em resgatar aquilo que melhor aconteceu na nossa para possibilitar o mesmo aos nossos pequenos. Lembramos também o que de ruim aconteceu e tentamos eliminar estas experiências desagradáveis do crescimento dos nossos filhos. Enfim, baseamo-nos em nossa experiência para tornar a infância deles a melhor possível.
Quando lembramos da nossa infância, umas das primeiras lembranças são nossas brincadeiras com os amigos e nossos brinquedos. As brincadeiras com amigos eram muitas. Tinha polícia e ladrão, esconde-esconde e bola de gude. Tinham os jogos de queimado, futebol e vôlei. Tinha também tacobol, ping-pong, pular corda. Jogávamos vídeo-game (mas só quando a TV estava disponível). Juntávamos os amigos para brincar com os nossos brinquedos. Fazíamos campeonato de futebol de botão. Tinham também as travessuras: subir no muro, jogar pedra na casa da vizinha, colocar rojão na caixa do correio, apertar a cigarra do vizinho e sair correndo. A gente brincava muito, se sujava todo, rasgava a camisa no espinheiro ou rasgava quando um amigo a puxava numa ou noutra brincadeira. A gente corria, caía, se arranhava todo, pisava em prego, pisava em vidro. Brincávamos, nos machucávamos e éramos felizes.
Hoje nossos filhos também têm seus amiguinhos. Também têm seus brinquedos. Nossos filhos também se divertem, também são felizes, mas... mas..., mas de forma diferente. Nasceram e estão crescendo na geração do computador, do celular e dos jogos eletrônicos. Passam horas em frente a uma telinha, e, assim, percebemos nossos filhos divertindo-se de forma mais solitária e mais sedentária. Se, no passado, nossos pais se preocupavam em saber com quem nós estávamos brincando para não nos juntarmos com "pessoas ruins", hoje, nossos filhos brincam muito mais vezes sozinhos. Se antes a gente "ostentava" nossos machucados e arranhões, hoje, diante dos jogos eletrônicos, nossos filhos estão ficando intactos, sem marcas no corpo e até bem mais pesadinhos. Muitas vezes vemos um grupo de crianças reunidas e, de repente, aquela cena mais comum hoje em dia: uma criança ao lado da outra, todas sentadinhas e cada uma jogando com seu celular. Um silêêêêêêêncio! Bem diferente daquela baderna, daquela confusão, que enlouquecia nossos pais quando éramos crianças. Aquela baderna que, hoje, como pais, gostaríamos de ver.
É. Os tempos são outros. É difícil aceitar ou entender esta nova infância da "geração sem arranhão", ainda mais quando lembramos com tanta nostalgia da nossa. Fica uma estranha sensação de que estamos falhando na construção da infância que sonhamos para nossos filhos. Mais estranha ainda porque fica a dúvida: será que estamos realmente falhando ou será que não há nada de errado e nós é que temos dificuldade em aceitar os novos tempos? Em outras palavras, existe algo realmente errado com esta nova geração ou nós que estamos presos num passado que já não existe mais? Na dúvida, vamos viver o momento e aprender com ele. No futuro teremos a resposta.
Quando lembramos da nossa infância, umas das primeiras lembranças são nossas brincadeiras com os amigos e nossos brinquedos. As brincadeiras com amigos eram muitas. Tinha polícia e ladrão, esconde-esconde e bola de gude. Tinham os jogos de queimado, futebol e vôlei. Tinha também tacobol, ping-pong, pular corda. Jogávamos vídeo-game (mas só quando a TV estava disponível). Juntávamos os amigos para brincar com os nossos brinquedos. Fazíamos campeonato de futebol de botão. Tinham também as travessuras: subir no muro, jogar pedra na casa da vizinha, colocar rojão na caixa do correio, apertar a cigarra do vizinho e sair correndo. A gente brincava muito, se sujava todo, rasgava a camisa no espinheiro ou rasgava quando um amigo a puxava numa ou noutra brincadeira. A gente corria, caía, se arranhava todo, pisava em prego, pisava em vidro. Brincávamos, nos machucávamos e éramos felizes.
Hoje nossos filhos também têm seus amiguinhos. Também têm seus brinquedos. Nossos filhos também se divertem, também são felizes, mas... mas..., mas de forma diferente. Nasceram e estão crescendo na geração do computador, do celular e dos jogos eletrônicos. Passam horas em frente a uma telinha, e, assim, percebemos nossos filhos divertindo-se de forma mais solitária e mais sedentária. Se, no passado, nossos pais se preocupavam em saber com quem nós estávamos brincando para não nos juntarmos com "pessoas ruins", hoje, nossos filhos brincam muito mais vezes sozinhos. Se antes a gente "ostentava" nossos machucados e arranhões, hoje, diante dos jogos eletrônicos, nossos filhos estão ficando intactos, sem marcas no corpo e até bem mais pesadinhos. Muitas vezes vemos um grupo de crianças reunidas e, de repente, aquela cena mais comum hoje em dia: uma criança ao lado da outra, todas sentadinhas e cada uma jogando com seu celular. Um silêêêêêêêncio! Bem diferente daquela baderna, daquela confusão, que enlouquecia nossos pais quando éramos crianças. Aquela baderna que, hoje, como pais, gostaríamos de ver.
É. Os tempos são outros. É difícil aceitar ou entender esta nova infância da "geração sem arranhão", ainda mais quando lembramos com tanta nostalgia da nossa. Fica uma estranha sensação de que estamos falhando na construção da infância que sonhamos para nossos filhos. Mais estranha ainda porque fica a dúvida: será que estamos realmente falhando ou será que não há nada de errado e nós é que temos dificuldade em aceitar os novos tempos? Em outras palavras, existe algo realmente errado com esta nova geração ou nós que estamos presos num passado que já não existe mais? Na dúvida, vamos viver o momento e aprender com ele. No futuro teremos a resposta.
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domingo, 15 de fevereiro de 2015
Nós diante da segunda tela
"Você aguarda ansiosamente durante o dia todo. Chega a hora do programa. Você está de olhos grudados na TV. Você não quer nem piscar para não perder nem um segundo sequer..."
Parou! Parou! Está errado. Não é mais assim que acontece. Onde está o erro? Vamos começar de novo sendo mais atual.
"Você aguarda ansiosamente durante o dia todo. Chega a hora do programa. Você está com um olho na TV e outro olho no celular. Você assiste e comenta. Comenta e assiste. Você não quer perder uma curtida ou comentário dos amigos. E você comenta de novo..."
Agora sim. O segundo trecho descreve o fenômeno chamado "segunda tela". É a nova forma de assistir TV da geração sempre conectada. Para esta geração, não basta mais assistir, é preciso comentar, é preciso opinar, é preciso ver as reações de outras pessoas e, claro, sempre durante o programa. É assim durante um jogo de futebol, durante o último capítulo da novela, durante aquela luta da madrugada, um debate pré-eleitoral ou mesmo durante o concurso de novos cantores na TV. Por uns instantes, a "atração principal" chega a ficar em segundo plano. A impressão que dá é que tem mais gente de olho na segunda tela que na primeira. Para alguns, a segunda tela chega a ser até mais interessante que a primeira.
Essa nova forma de ver TV mudou nossos hábitos e a nossa forma de interação. A quantidade de comentários durante os programas é tanta, e em tão pouco tempo, que é possível "assistir" ao programa sem ao menos ligar a TV. Basta olhar a rede social e você sabe o que está ocorrendo naquele jogo que você não está vendo. Você "vê" tudo através dos olhos dos outros. Alguns chegam até a opinar sobre o andamento do programa, mesmo sem vê-lo literalmente.
Lembro de tempos atrás, desde o tempo dos vídeos-cassetes, quando a gente gravava os programas que não poderia assistir para vê-los depois. Hoje, com os registros (quase) permanentes na internet, a "gravação" na segunda tela é instantânea. Um dia desses, por exemplo, utilizei este "recurso". Não costumo ficar acordado para assistir MMA, mas, ao acordar num dia de domingo, bateu a curiosidade de saber o resultado da última luta de Anderson Silva. Poderia ter apenas consultado um site de notícia, mas preferi olhar a timeline em ordem cronológica, desde antes da luta. Acompanhei cada round e o desempenho dos lutadores somente pelos comentários de quem assistia à luta. Fiquei sabendo tudo como ocorreu, quem estava melhor a cada momento, até o resultado final. Praticamente assisti a um "vídeo tape".
Fico curioso de saber quanto tempo as pessoas que costumam usar a segunda tela, efetivamente, conseguem assistir na primeira tela. Por exemplo, num jogo de futebol, quanto tempo de uma partida de noventa minutos você está olhando para TV ao invés de olhando o celular, ou seja, quanto tempo você realmente viu do jogo? Arrisco-me a dizer que é meio a meio. Chega a ser engraçado: você esperou tanto por aquele jogo e só viu 45 minutos. Os outros 45 minutos você estava de olho na segunda tela, escrevendo ou lendo. Coitados dos patrocinadores, que pagam milhões para estampar suas marcas em volta do campo. Pagam por duas horas de exposição e são vistos por metade do tempo. Mas você também não ria deles. Você também caiu nessa: pagou caro pelo pay-per-view e viu só metade do jogo. :)
Os veículos de comunicação já há algum tempo se adaptaram a esse novo comportamento do seu público. Hoje, alguns programas de TV costumam mostrar na tela os comentários dos telespectadores, escritos, claro, nas redes sociais. Antigamente, alguns programas, quando tinham alguma interação com o público, pediam para o telespectador ligar para um número de telefone; hoje pedem para "curtir" sua página ou deixar uma mensagem. De certa forma, perceberam que seu público olha para outra tela e busca a atenção dele, trazendo-o de volta para a primeira.
Uma outra curiosidade me vem a mente: se as pessoas não estão olhando constantemente para a TV, como podem opinar com alguma precisão em rede social? Não é verdade? Lembro logo do tempo da escola, quando a professora dizia: "primeiro, prestem atenção, depois vocês copiam". Em outras palavras, com a atenção dividida, a chance de não compreender a cena, o lance, o acontecimento é enorme. E esse ruído se reflete na qualidade dos comentários. Em programas de entretenimento,não chega a ser tão problemático, mas, e nos programas mais "sérios"? Num programa de entrevista, por exemplo, ou num debate político? Como opinar sobre algo que você não prestou atenção, ou seja, que você não compreendeu direito? E como faz quando, ao invés dos telespectadores, são os "artistas" da TV que, enquanto estão apresentando o programa, simultaneamente, também estão de olho na segunda tela? Em determinado canal de TV, por exemplo, o comentarista do jogo de futebol divide seu tempo comentando a partida e lendo alguns comentários da rede social. Com a atenção dividida, é capaz de sua interpretação da partida ser tão imprecisa quando dos telespectadores.
A interação social vem mudando muita coisa no mundo. Essa nova forma de ver TV é apenas um exemplo desta mudança. A segunda tela já se incorporou de um jeito em nossos hábitos que praticamente não nos demos conta. Quando percebemos, ela já estava ali. Este artigo trouxe alguns exemplos de situações que já se incorporaram no nosso cotidiano e algumas reflexões a respeito. Os canais de documentários estão cheios de reportagens sobre a segunda tela. Assista algumas e veja outras reflexões sobre o tema. Se você ligar a TV agora, pode até estar passando uma neste momento. Vá lá e ligue a TV! Aposto que você também vai olhar, na segunda tela, o que estão comentando a respeito.
Parou! Parou! Está errado. Não é mais assim que acontece. Onde está o erro? Vamos começar de novo sendo mais atual.
"Você aguarda ansiosamente durante o dia todo. Chega a hora do programa. Você está com um olho na TV e outro olho no celular. Você assiste e comenta. Comenta e assiste. Você não quer perder uma curtida ou comentário dos amigos. E você comenta de novo..."
Agora sim. O segundo trecho descreve o fenômeno chamado "segunda tela". É a nova forma de assistir TV da geração sempre conectada. Para esta geração, não basta mais assistir, é preciso comentar, é preciso opinar, é preciso ver as reações de outras pessoas e, claro, sempre durante o programa. É assim durante um jogo de futebol, durante o último capítulo da novela, durante aquela luta da madrugada, um debate pré-eleitoral ou mesmo durante o concurso de novos cantores na TV. Por uns instantes, a "atração principal" chega a ficar em segundo plano. A impressão que dá é que tem mais gente de olho na segunda tela que na primeira. Para alguns, a segunda tela chega a ser até mais interessante que a primeira.
Essa nova forma de ver TV mudou nossos hábitos e a nossa forma de interação. A quantidade de comentários durante os programas é tanta, e em tão pouco tempo, que é possível "assistir" ao programa sem ao menos ligar a TV. Basta olhar a rede social e você sabe o que está ocorrendo naquele jogo que você não está vendo. Você "vê" tudo através dos olhos dos outros. Alguns chegam até a opinar sobre o andamento do programa, mesmo sem vê-lo literalmente.
Lembro de tempos atrás, desde o tempo dos vídeos-cassetes, quando a gente gravava os programas que não poderia assistir para vê-los depois. Hoje, com os registros (quase) permanentes na internet, a "gravação" na segunda tela é instantânea. Um dia desses, por exemplo, utilizei este "recurso". Não costumo ficar acordado para assistir MMA, mas, ao acordar num dia de domingo, bateu a curiosidade de saber o resultado da última luta de Anderson Silva. Poderia ter apenas consultado um site de notícia, mas preferi olhar a timeline em ordem cronológica, desde antes da luta. Acompanhei cada round e o desempenho dos lutadores somente pelos comentários de quem assistia à luta. Fiquei sabendo tudo como ocorreu, quem estava melhor a cada momento, até o resultado final. Praticamente assisti a um "vídeo tape".
Fico curioso de saber quanto tempo as pessoas que costumam usar a segunda tela, efetivamente, conseguem assistir na primeira tela. Por exemplo, num jogo de futebol, quanto tempo de uma partida de noventa minutos você está olhando para TV ao invés de olhando o celular, ou seja, quanto tempo você realmente viu do jogo? Arrisco-me a dizer que é meio a meio. Chega a ser engraçado: você esperou tanto por aquele jogo e só viu 45 minutos. Os outros 45 minutos você estava de olho na segunda tela, escrevendo ou lendo. Coitados dos patrocinadores, que pagam milhões para estampar suas marcas em volta do campo. Pagam por duas horas de exposição e são vistos por metade do tempo. Mas você também não ria deles. Você também caiu nessa: pagou caro pelo pay-per-view e viu só metade do jogo. :)
Os veículos de comunicação já há algum tempo se adaptaram a esse novo comportamento do seu público. Hoje, alguns programas de TV costumam mostrar na tela os comentários dos telespectadores, escritos, claro, nas redes sociais. Antigamente, alguns programas, quando tinham alguma interação com o público, pediam para o telespectador ligar para um número de telefone; hoje pedem para "curtir" sua página ou deixar uma mensagem. De certa forma, perceberam que seu público olha para outra tela e busca a atenção dele, trazendo-o de volta para a primeira.
Uma outra curiosidade me vem a mente: se as pessoas não estão olhando constantemente para a TV, como podem opinar com alguma precisão em rede social? Não é verdade? Lembro logo do tempo da escola, quando a professora dizia: "primeiro, prestem atenção, depois vocês copiam". Em outras palavras, com a atenção dividida, a chance de não compreender a cena, o lance, o acontecimento é enorme. E esse ruído se reflete na qualidade dos comentários. Em programas de entretenimento,não chega a ser tão problemático, mas, e nos programas mais "sérios"? Num programa de entrevista, por exemplo, ou num debate político? Como opinar sobre algo que você não prestou atenção, ou seja, que você não compreendeu direito? E como faz quando, ao invés dos telespectadores, são os "artistas" da TV que, enquanto estão apresentando o programa, simultaneamente, também estão de olho na segunda tela? Em determinado canal de TV, por exemplo, o comentarista do jogo de futebol divide seu tempo comentando a partida e lendo alguns comentários da rede social. Com a atenção dividida, é capaz de sua interpretação da partida ser tão imprecisa quando dos telespectadores.
A interação social vem mudando muita coisa no mundo. Essa nova forma de ver TV é apenas um exemplo desta mudança. A segunda tela já se incorporou de um jeito em nossos hábitos que praticamente não nos demos conta. Quando percebemos, ela já estava ali. Este artigo trouxe alguns exemplos de situações que já se incorporaram no nosso cotidiano e algumas reflexões a respeito. Os canais de documentários estão cheios de reportagens sobre a segunda tela. Assista algumas e veja outras reflexões sobre o tema. Se você ligar a TV agora, pode até estar passando uma neste momento. Vá lá e ligue a TV! Aposto que você também vai olhar, na segunda tela, o que estão comentando a respeito.
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