domingo, 13 de novembro de 2016

De que lado do muro político estou? E este muro precisa existir?

Ah, essa danada dessa política! Maldito foi o dia em que me meti a opinar sobre ela, especialmente em redes sociais. De uma hora para outra, deixei de ser eu para ser o que os apaixonados por partidos políticos queriam que eu fosse. Não. Não fui eu que me transformei, mas as pessoas que me colocaram numa verdadeira "metamorfose ambulante." Afinal, de que lado eu estou? Vocês precisam se decidir. Amigos, devido a essa indecisão de vocês, acho que vale pena fazer uma breve recapitulação para lhes dar uma forcinha.

Tudo começou em 2002, quando votei em Lula para presidente. Eu dizia que, apesar de reconhecer os méritos do governo FHC com o Plano Real, seu segundo mandato não fora tão bom. Por isso, era momento de mudar. Naquele momento, resolveram dizer que eu era da turma da esquerda.

Em 2005, explodiu o mensalão. Que decepção! Ousei dizer que era lógico que Lula sabia de tudo. Para quê? Fui acusado de ser cúmplice da mídia que queria derrubar o "ex-operário", "filho do Brasil".

Do mensalão, Lula saiu ileso. Igual sorte não tiveram outros políticos petistas. Quando eu já comemorava suas condenações, surgiram os tais "embargos infringentes", espécie de recurso que, na prática, iria adiar a condenação dos réus. Resolvi opinar e disse que não era correto acusar o STF de conivência. Se os embargos estavam previstos no regimento, não tinha escapatória: os embargos teriam que ser julgados. Pronto, naquele momento, eu era acusado de "defensor de mensaleiros".

O exemplo do mensalão fez-me perder a confiança no Partido dos Trabalhadores. Por este motivo, votei em Alckmin na eleição presidencial de 2012. Naquele momento, passei a ser chamado pejorativamente de "tucano".

Dilma venceu a eleição. Alguns anos depois, eu critiquei as vaias que a presidenta recebeu na abertura da Copa das Confederações. Eu disse que ali era um evento internacional, não era lugar nem momento adequados para manifestar aprovação ou reprovação por seu governo. Naquele momento, passei a ser visto novamente como um "esquerdista", "defensor do petismo". Três anos depois, mantive minha opinião e critiquei a vaias a Michel Temer nas Olimpíadas do Rio. Agora, era visto como "de direita" novamente.

Durante a campanha eleitoral de 2014, alguns amigos disseram que nada melhorou no país nos anos do PT. Fui dizer que, apesar do caos econômico, era preciso reconhecer muitos avanços, especialmente na diminuição da desigualdade. Pronto, agora seria eu acusado de "petralha"

Ainda durante a campanha, amigos argumentaram que os avanços sociais na qualidade de vida dos brasileiros eram todos méritos do PT. Eu falei que houve méritos, mas que tais políticas sociais só puderam ser aplicadas, especialmente nos anos de Lula, devido à estabilidade econômica construída pelo Plano Real. Naquele momento, fui acusado de ser um "coxinha". Foi quando ouvi este termo estranho pela primeira vez.

Veio a eleição de 2014 e votei em Aécio no segundo turno. Ganhei novamente o adjetivo "coxinha".

Com a explosão da crise econômica, logo começou a campanha pró-impeachment. Então, quando eu disse que crise econômica não era justificava jurídica para um impeachment, eu era acusado de "pró-Dilma".

Logo alguns dias após a eleição, o governo anunciou aquilo que escondeu durante a campanha eleitoral: que as contas do país estavam no vermelho e que seria preciso um pacote de medidas para aumentar impostos e cortar gastos. Eu afirmei que aquela situação era consequência de erros do governo, que aumentou exageradamente os gastos públicos nos últimos anos e falsamente propagandeava que as conquistas sociais eram todas sustentáveis. Pronto. Naquela hora, eu era chamado não só de "coxinha", mas também de "magoadinho de 'mimimi' por ter perdido a eleição".

Veio à tona o escândalo das pedaladas fiscais e, junto com ele, a instauração do processo de impeachment. A grande discussão no Congresso e nas redes sociais era se as pedaladas configuravam ou não crime de responsabilidade. Tive a ousadia de dizer sim, que era crime de responsabilidade, e até apontei os artigos da constituição e das leis que embasavam meu argumento. Naquele momento, passei a ser chamado de "golpista".

Por falar em "golpe", palavra mais repetida do ano, também opinei sobre ele. Disse que estava muito claro que os congressistas que julgaram o processo de impeachment não estavam nem aí se havia ou não crime de responsabilidade e que seus votos eram claramente políticos (os governistas defendiam e os anti-governo acusavam). Tecnicamente não era um golpe de Estado, mas era um claro golpe político. Pronto. Voltei a ser um "petralha".

Agora, quando o novo governo assumiu, fui inventar de dizer ser favorável à PEC do teto dos gastos públicos para, novamente, ser visto como um "coxinha pobre de direita".

E assim, as acusações vêm permanentemente se alternando. Hora me acusam de uma coisa, hora de outra. A culpa deve ser minha. Quem manda eu opinar de acordo com minha consciência? Infelizmente, muitas pessoas enxergam a política como um jogo em que você precisa escolher um
lado e prestar juras de lealdade eterna a este lado. Elas pensam assim: tudo que os políticos "do meu lado" falam ou fazem é o certo e tudo que o dos outros lados fazem é o errado.

Esta neura em criar lados fez surgir, mais recentemente nas redes sociais, um novo termo pejorativo: o "isentão", usado para designar pessoas que não escolhem um lado, mas que também têm medo de dar opinião e não se comprometem com nada. No popular, os que ficam "em cima do muro". Deste termo pelo menos escapei, pois, se não tenho um lado, opinião foi algo que nunca neguei. Sou isento, sim, "isentão", jamais! Imparcial, sim, ou pelo menos eu tento ser, já que dizem não haver imparcialidade absoluta.

Ficam, então, meus questionamentos:
  • Qual a vergonha em apontar erros de políticos em quem você votou? 
  • Quando a vergonha em apontar os acertos de políticos em quem você não votou? 
  • Para que ter um lado? 
  • Por que ter um lado? 
  • Para que este antagonismo: mortadela x coxinha, direita x esquerda, petista x tucano, democratas x socialistas x neo-liberais x comunistas? 
A política precisa desses muros que separam os cidadãos em blocos distintos? Não. A política não é time de futebol, que escolhemos um e vamos com ele até o fim, ou uma religião, que seguimos os mandamentos sem questioná-los. O importante é apoiar ações que nossa consciência diz serem certas e criticar o que ela diz serem erradas, independentemente de partido.

Espero ter ajudado a mostrar de que lado estou. Bons "entendedores entenderão". Aos que só enxergam o que querem, resta continuarem me chamando por vezes de "coxinha", por outras de "mortadela".

sábado, 3 de setembro de 2016

Métafora do Impeachment

Era uma vez uma garotinha chamada Dilma. Desde os tempos de escola, ela sempre foi atuante e participativa. Ao longo da vida escolar, chegou até a ser punida por contrariar os diretores da escola, pela forma com que defendia seus ideais e de seus colegas estudantes. Dilma cresceu, começou a trabalhar e não mais se envolveu com conflitos.

Um dia, Dilma resolveu participar de algo que nunca tinha feito em toda sua vida: participar de um reality show. Era uma competição em que os participantes precisariam mostrar qualidades e ganhar a preferência do público. O vencedor, definido pela escolha dos espectadores, receberia como prêmio um carro de luxo. Apesar de sua pouca experiência, ela não estava só e teve o apoio importantíssimo de ex-participantes deste mesmo reality, inclusive apoio do último vencedor. E quem diria? Após uma dura disputa, o público a escolheu como vencedora.

Dilma recebeu o prometido prêmio e, junto com ele, algumas regalias: poderia desfrutar do seu carro de luxo a toda hora e também, durante alguns anos, não pagaria os impostos, a manutenção e o combustível. Tudo seria perfeito, exceto por uma condição: durante o tempo de carência do seu prêmio, Dilma não poderia se envolver em acidentes de trânsito, nem cometer nenhuma infração. Caso contrário, perderia imediatamente o prêmio, que seria repassado a um dos participantes derrotados no reality.

Apesar do êxito na disputa, a vitória de Dilma foi apertadíssima e nunca foi muito bem aceita nem pelos concorrentes derrotados, nem pela parte do público simpatizante desses outros concorrentes. Ainda durante o programa, alguns competidores se tornaram seus inimigos e assim continuaram após o reality. Alguns desses inimigos, por diversas vezes, questionaram sua vitória e pleitearam a devolução do prêmio. As alegações não chegaram a ser aceitas e Dilma desfrutou de seu carrão à vontade. Ela ia ao trabalho, ao parque, ao cinema, ao supermercado... Muitas pessoas a reconheciam na rua e ficavam felizes ao vê-la passar motorizada. Já outros, simpatizantes de concorrentes derrotados, torciam o nariz.

Nossa personagem aproveitou bastante seu prêmio, porém ela tinha um defeito: não era muito cuidadosa com seu carro. Era comum deixar o carro vários meses sem lavar, abastecia o combustível em postos de qualidade duvidosa, estacionava na rua ou em vagas apertadas... Seu carro já tinha tantos arranhões que muitas pessoas chegaram a dar conselhos para que cuidasse melhor dele, mas ela ignorava. Devido à falta de cuidados, seus inimigos até chegaram a pedir a devolução do carro e um novo reality, mas esta hipótese não era prevista no regulamento do programa. Somente haveria perda do prêmio nos casos já citados anteriormente.

Dilma também tinha um outro defeito, vivia se atrasando para ir trabalhar. De tanto chegar tarde, muitas vezes o estacionamento da empresa já se encontrava lotado e o carro acabava sendo estacionado nas ruas próximas. Em uma dessas ruas, era comum ver carros de outros funcionários estacionados, apesar de existirem placas de estacionamento proibido. A cena se repetia todos os dias e, mesmo com as placas, ninguém era multado. Mas, como já sabíamos, Dilma colecionou muitos inimigos e, numa dessas vezes em que ela estacionou na tal rua, um de seus inimigos a denunciou. A autoridade de trânsito, então, rebocou seu carro e aplicou-lhe uma multa. A agora infratora tentou se defender. Alegou que outras pessoas também estacionavam naquela rua há anos e nunca foram multadas, mas sua tentativa de defesa foi em vão. A lei era clara.

Com a infração consumada, os inimigos trataram logo de pleitear a posse do carro junto à organização do reality show. Dilma também tentou se defender, alegando que não havia cometido nenhuma infração tão grave assim e que outras pessoas, inclusive as que estavam requerendo o carro, também estacionavam ali sem nunca terem sido multadas. Além do mais, em sua defesa, Dilma alegou que não houve dolo na sua conduta e que, na verdade, estava sendo vítima de um golpe, pois sua multa só foi aplicada como fruto de uma armação dos seus inimigos, que aguardaram exatamente ela estacionar ali para chamar o agente de trânsito. A defesa de Dilma foi em vão por dois motivos: a punição estava claramente prevista no regulamento e, principalmente, porque a maior parte dos seus julgadores também era formada por seus inimigos ou por quem tinha interesse na perda de seu prêmio. Dessa forma, suas alegações sequer foram levadas em consideração e o regulamento do programa foi aplicado ao pé da letra: infração de trânsito = perda do carro.

E assim, Dilma agora anda a pé. O carrão de luxo agora está nas mãos de quem não venceu na preferência popular.

De tudo isso, ficam algumas lições para Dilma e para todos nós:

1) Não seja adepto do “se todo faz, que mal tem”. Um dia o agente de trânsito pode passar bem na hora e a lei será aplicada.
2) Tenha amigos. Quem tem inimigos corre o risco de tê-los o tempo todo de olho na sua vida, esperando seus deslizes para denunciá-los.
3) Ande sempre na linha. Assim, mesmo que tenha muitos inimigos, se você não cometer erros, seus inimigos não terão o que denunciar.

Foi isso que aconteceu com você, querida. Um monte de gente estava de olho no seu carrão e fazendo de tudo para tirá-lo de ti. Você pisou na bola sim e eles astutamente aproveitaram. Era só não ter cometido o “erro de responsabilidade” que você não teria dado a chance que eles queriam e você continuaria, até hoje, com seu carro de luxo. Mesmo malcuidado e quase acabado, ele continuaria sendo seu.

domingo, 3 de julho de 2016

Lições que a corrida traz para a vida

Vez por outra sou surpreendido por perguntas ou comentários do tipo: "Por que você vai participar desta corrida?", "Para quê correr?", "Levantar seis da manhã de um domingo para correr não dá."... Nunca me preocupei em explicar em detalhes alguns comportamentos, até porque a explicação nem sempre é tão simples e direta quanto parece, mas, após ser questionado pelo filho de seis anos, chegou o momento de falar mais sobre isso.

Nada na vida é tão óbvio quanto parece. Seria muito básico apenas dizer "porque faz bem para saúde" ou "porque praticar exercício é bom". Existem muitos outros aspectos envolvidos. A verdade é que correr não é bom. O que? Como assim? Mas é isso mesmo: correr não é bom. Afinal, quem gosta de se sentir cansado? Quem sente prazer ao ouvir o despertador acabar com seu sono às cinco e meia da manhã? Quem acha bom se sentir ofegante e esgotado, achando que vai ter um "piripaque" antes de atingir a linha de chegada? Creio que nenhum ser humano em suas CNTP, já que a corrida, em si, é uma tortura para o corpo. Então, não se iluda: correr é ruim para caramba!

Mas, como tudo na vida, o melhor sempre fica para o final. Com a corrida também é assim. O "durante" de uma corrida é um grande sofrimento. O grande barato é quando você termina. Aí, sim, vem a grande sensação de prazer e satisfação. É a sensação do dever cumprido. A sensação do "eu consegui" ou "eu atingi a meta". O tamanho desse sentimento é proporcional ao tamanho da dificuldade. Quanto mais desgastante for a corrida, maior será o prazer ao completá-la. A partir daí, o que vai ficar na memória é justamente esse momento. O sofrimento da corrida fica esquecido e o prazer proporcionado durará por horas e até dias. Prevalece, então, o sentimento que tanto motiva os corredores a desejar "sofrer" tudo novamente. É por isso que esses seres estranhos, chamados corredores, conseguem dizer que correr é bom demais.

Toda essa explicação sobre a paixão por correr pode ser aplicada a muitas outras coisas. Em outras palavras, o mesmo prazer proporcionado não é exclusividade da corrida e pode ser obtido, de forma semelhante, por outras atividades. O que existe em comum entre elas é o desafio, o cumprimento de metas e o prazer resultante. Todos nós devemos procurar algo em nossas vidas que nos motive e que nos faça "sair do cama confortável" para "sofrer" de forma prazerosa. Pode ser correr, pode ser pedalar, pode ser fazer caridade, pode ser ir à missa, pode ser cortar a grama, desenvolver um projeto pessoal, ou, até mesmo, lavar o carro. A satisfação não está no "durante", mas, exatamente, no resultado obtido ao final. Se você ainda não achou algo semelhante que lhe traga essa motivação, sua vida pode estar incompleta. Olhe a seu redor. A felicidade pode estar batendo na sua porta. E se você já achou, mas não consegue dar o primeiro passo, busque inspiração, pois o sucesso também exige disciplina e força de vontade.

sábado, 12 de março de 2016

Impeachment e manifestações. O problema é maior que isso!

Mais uma grande manifestação de rua se aproxima. Mais uma vez, o povo vai às ruas, convocado por movimentos pró-impeachment, para protestar contra a corrupção e dizer "basta". Muitos estão eufóricos com o ato em si e com a possibilidade de mais um impeachment de presidente desta República. As questões que ficam são: O que ganharíamos de verdade com isso? Impeachment muda algo na estrutura corrupta do país? O foco das manifestações deveria ser a favor de um impeachment ou de uma reforma legislativa e política mais ampla que dificultasse a corrupção?

Chegar a respostas para estas questões exige uma grande reflexão e longos debates. Enquanto não conseguimos, o que mais preocupa são outros dois aspectos. Um deles é o cenário de "fundo de poço" a que nossa política chegou. O outro é a forma meio irresponsável com que o cidadão brasileiro contemporâneo tem tratado as questões políticas. Vamos detalhar esses dois aspectos.

Primeiramente, vamos ao cenário político atual. Parece óbvio, mas não conseguimos mais enxergar coisas básicas na nossa política do tipo: o executivo deve governar para o interesse público, o legislativo deve aprovar leis para o bem da população e o judiciário deve julgar os que cometem infrações à lei e a ordem. Isso, de forma grosseira, resume a política. Mas, ao abrirmos um jornal, no seu caderno de política, podemos contar muito mais ocorrências das palavras "propina", "aliança", "delação", "cadeia", "Polícia Federal", "Ministério Público", "denúncia", "arquivamento", "esquema" e "corrupção" (palavras muito ligadas ao caderno policial), que de palavras como "projeto", "proposta", "investimento", "aprovação", "inauguração", palavras estas, sim, que são relacionadas ao tema política.

O noticiário político, atualmente, tornou-se uma novela onde os personagens, em sua quase totalidade, estão envolvidos em todo tipo de esquema e conchavos com o intuito apenas de brigar por poder. Vale para quem está na situação. Vale para quem está na oposição. Observamos apenas ações que visam benefício próprio ou benefício de seu grupo político. É político mudando de partido. É político mudando de discurso. É político se aliando a pessoas que até um ano atrás parecia "inimigo mortal". Não vemos mais um projeto político, nem mesmo alguma personalidade política em quem possamos dizer: "este me representa" ou "por este boto a mão no fogo". A decepção do cidadão é maior ainda quando vemos que os últimos políticos que pareciam ser estes "políticos diferenciados", cheios de admiradores, quando chegaram ao poder, se mostraram exatamente iguais aos políticos comuns, cometendo os mesmos crimes e atuando sempre em benefício próprio ou de seu partido. Em resumo, vemos um cenário onde os partidos mudam apenas de situação para oposição e vice-versa, mas não há mudança alguma. Os esquemas maléficos apenas trocam de mãos.

O segundo aspecto preocupante, é o comportamento do cidadão diante de toda essa situação política. É incrível a quantidade de pessoas que enxerga a política com emoção. Emoção mesmo, praticamente amor por partidos e políticos. Emoção que chega a cegar para aspectos importantes. Enquanto a PF investiga o político "idolatrado", seus seguidores não se preocupam com seus (possíveis) crimes. Eles preferem questionar "Mas por que só ele é denunciado e não aquele?", "Essa investigação é tendenciosa, é golpe!", etc. Esses cidadãos acabam se comportando como torcedores de times de futebol. São levados pela paixão. Não se pode mexer com seus ídolos (investigar, prender parece uma afronta). Os possíveis crimes, para eles, parecem coisa boba, coisa permitida. É a política vista com emoção, sem qualquer razão.

Da mesma forma que existem os "torcedores de partido", existem os antagonistas. Estes nutrem um ódio por um determinado partido. Para estas pessoas, todos os problemas do país parecem que estão representados num determinado partido. Quando este partido está governando, então, tudo que ele fizer é visto como ruim. Não há um julgamento imparcial. No fim das contas, não são julgadas as ações, mas, sim, quem fez a ação. Em outras palavras, tais pessoas são incapazes de diferenciar as ações boas e ruins de um governo. Para elas, por ódio ao partido governante, tudo que ele fez é ruim. Dessa forma, a discussão política se torna uma disputa chata de "petralhas" versus "coxinhas", onde as pessoas escolhem um lado e passam a defendê-lo com todo vigor, ao mesmo tempo que passam a questionar e criticar o lado contrário.

Não deveria ser assim. Não deveríamos ter lado. Nosso lado deve ser com o interesse da população. Deveríamos votar em quem acreditamos e avaliá-los criticamente após eleitos, apontando seus acertos e seus erros. O que vemos são as pessoas que "torcem para partido" defenderem absolutamente todas as suas ações e, os que os odeiam, reclamarem de tudo. Não é vergonhoso votar em alguém e mudar de opinião da eleição seguinte. "Virar a casaca" só é feio no futebol.

Por causa de tudo isso, não é impeachment e não são as manifestações de ruas o que realmente preocupam. Estes não parecem que serão capazes de mudar alguma coisa. O que mais preocupa é o cenário político totalmente contaminado pela corrupção e o comportamento do cidadão diante de tudo isso. Estes parecem fazer muito mais estrago que as consequências de um possível impeachment. É como se um impeachment não abalasse em nada as estruturas desta política nefasta.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Está em dúvida? Não compartilhe!

Entrou na internet, abriu o site, leu a notícia e o que você logo vê: "Comentar, Compartilhar no Twitter, Compartilhar no Facebook, ...". Abriu a rede social, viu a postagem e o que aparece logo em seguida: "Retuitar, Curtir, Compartilhar, ...". Olhou seus grupos no celular, leu uma mensagem impactante e não pensou duas vezes após ler a frase mágica no final: "Divulgue em todos os seus grupos!".

Hoje, o incentivo a disseminar postagens em redes sociais é constante: basta abrir um site de notícias, de uma farmácia, de uma academia, de um clube de futebol, da sua faculdade, ... Basta entra num chat, nos seus inúmeros grupos de WhatsApp... Em todo lugar, lá estão as opções de interação. Ótimo para difundir informações interessantes, de utilidade geral, porém péssimo por inundar a rede com informações fúteis. Tudo bem que futilidade é um conceito relativo (fútil para quem?) e menos mau quando o conteúdo é inofensivo. O grande problema são as informações falsas, difundidas amplamente como se fossem verdade, e que podem ter consequências negativas, das mais simples às mais graves. Um perigo!

São muitos exemplos. Quem nunca recebeu mensagens como esta abaixo?

"Cuidado com este homem da foto (foto anexa à mensagem). Ele é um pedófilo, foragido da polícia. Foi visto pela última vez no parque Tal. Compartilhe com todos os seus grupos!..."

Aí, o homem da foto é reconhecido e linchado. Mas o homem era inocente e foi vítima de um boato que foi amplamente compartilhado em redes sociais. Alguma coisa parecida com isto aqui ou com o que aconteceu com esta mulher.

Algumas mensagens falsas são propositais, feitas para prejudicar alguém, enquanto outras são produzidas por engano. Mas existem também as que são criadas sem citar pessoas, apenas pela satisfação de seu autor em ver a mensagem "circular" na rede, como a famosa mensagem do carro roubado com um bebê dentro. Algo parecido com esta mensagem:

"Pessoal, um carro de marca Tal foi roubado agora no Centro da cidade X . Os ladrões fizeram o motorista descer e levaram o carro com um bebê dentro. O pai está desesperado! A placa do carro é ABC-1234. Espalhe para todos os seus contatos.

E na intenção de ajudar, muitos se sensibilizam e compartilham este boato. Aí um carro com a mesma placa é visto e seu motorista hostilizado na rua. Uma simples pesquisa na internet, antes de compartilhar a mensagem, poderia facilmente ter mostrado que uma mensagem idêntica circulava na internet, há pelo menos cinco anos, e que era falsa. Além disso, a pesquisa poderia achar a verdade como este texto que desmente o boato

E os exemplos não param. Teorias que dizem que a apresentadora de TV falou mal de crianças nordestinas, que o Governo esconde que o surto de microcefalia foi causado pelo uso de um lote de vacina vencida, que o governo americano está instalando suas forças armadas na Amazônia, que o dinheiro do Bolsa-Família deve ser sacado imediatamente porque o programa vai acabar, etc. Tudo mensagem falsa, compartilhadas amplamente na internet e que fazem muitos acreditarem e reagirem como se fossem verdade.

As consequências do compartilhamento deste tipo de histórias são óbvias e são bem diversificadas. Vão desde o prejuízo à honra e à reputação de pessoas ou empresas citadas até a proliferação de lixos eletrônicos, que consomem recursos dos provedores de internet e o limite da franquia de dados dos usuários. O mais interessante é a causa de tudo isso: o mau hábito dos usuários da internet, ou seja, a culpa é nossa! Tudo isso poderia ser evitado se nós tivéssemos um pouco de bom senso e refletíssemos um pouco antes da tentação de sair compartilhando tudo de forma imediata.

Atualmente, muitos internautas compartilham ou comentam notícias recebidas em suas redes sociais logo após lerem o título, sem ao menos abrirem o texto. Da mesma forma, ao receberem uma mensagem, compartilham sem fazerem um mínimo esforço para verificar sua veracidade. Muitos de nós já recebemos algum e-mail ou vimos postagens em redes sociais onde a pessoa escreve algo como "Não sei se é verdade, apenas compartilhando" ou "Será que é verdade?". Ora, ao invés de jogar na rede, por que não pesquisar um pouco sobre o assunto? O tempo gasto para fazer uma rápida pesquisa certamente não seria muito maior que o gasto para compartilhar a mensagem. Um pouco de critério, evitaria a disseminação de boatos e melhoraria sua própria credibilidade. Afinal, quem vai gostar das postagens de alguém que vive publicando boatos?

A nossa postura diante das notícias e histórias que gostaríamos de compartilhar precisa ser mais responsável. Existe "vida" na internet além das redes sociais. Você pode (e deve) buscar informações fazendo pesquisa, consultando fóruns ou acessando blogs e sites com boa credibilidade. Não cometa o erro de acreditar em tudo que você recebe nas redes. Se você tem dúvidas sobre algo que recebeu, não compartilhe! O danado é que, muitas vezes, não temos dúvidas e acabamos por compartilhar mentiras. Por isso, em todos os casos, é sempre bom desconfiar um pouco e buscar mais informações. Mesmo que você se sensibilize com determinadas histórias e sua intenção seja apenas ajudar, resista à tentação! Tenha certeza do que você está querendo compartilhar com o mundo. Você não é obrigado a postar algo, todo dia ou a cada minuto. Pare e reflita. Você não estará perdendo tempo. Melhor que a quantidade de postagens suas é a qualidade do que você publica.