2014 chegou e, com ele, dois eventos que tendem a dominar os debates durante o ano todo: Copa do Mundo e Eleições. A Copa é o evento máximo do futebol, assunto que é debatido com muita emoção e pouca ou nenhuma razão. Já as eleições, o evento máximo da política, são o assunto a ser debatido com racionalidade e pouca emoção. Pelo menos deveria ser. Na prática, o que muita gente parece fazer é tratar a política e futebol da mesma forma.
Gostaria de poder discutir política de forma imparcial e racional. Participar de uma mesa de debates onde os participantes discutissem as propostas dos candidatos, com seus pontos positivos e negativos. Gostaria que essa mesa discutisse os acertos e erros dos governos passados e dos governos atuais, com opiniões fundamentadas em fatos e não apenas baseada em quem ocupavam os cargos. Gostaria que fosse debatido o que melhorou, o que piorou, porque melhorou e porque piorou e não ouvir coisas do tipo "com este partido no governo, tudo melhorou" ou "com aquele, tudo piorou". Em outras palavras, gostaria que a política fosse debatida com seriedade, como realmente deve ser.
Muitas pessoas parecem tratar a política cada vez mais como futebol. Primeiramente, escolhem um partido (um time) e passam a torcer por ele. Falam maravilhas do seu partido, defendem tudo que seus membros (os jogadores) fazem e falam mal do partido rival (time rival). Para estas pessoas, tudo de ruim que ocorre no país é culpa do partido rival. Para eles, tudo piorou, só houve corrupção e todos eram mal intencionados. Tais pessoas são incapazes de reconhecer qualquer acerto de um governo anteriormente administrado por um partido rival. É como se sentissem vergonha de elogiar uma medida ou ação de um governante em quem não votou ou não simpatize (no futebol, seria como parabenizar um gol do rival).
As redes sociais estão cheias de exemplos de pessoas que agem assim. Para só pegar um exemplo, vejam o comportamento de algumas pessoas nas redes sociais em relação ao partido que hoje governa o país, o PT. Os "a favor" publicam (e elogiam) as medidas do governo, só falam mal do governo anterior do partido "contrário", exibem dados que mostram o crescimento atual do país em algumas áreas, mas nada falam onde o governo vai mal. Pelo contrário, onde vai mal, procuram sempre um lado positivo para defender o partido e justificar o injustificável. Por outro lado, suas críticas são direcionadas somente à administração passada. Os "anti-petistas" fazem o mesmo. São incapazes de comentar onde o país melhorou, não fazem elogios a nenhuma medida ou ação do governo atual reconhecidamente eficazes, mas não deixam passar em branco nenhum erro do governo. Qualquer ação é vista com maus olhos e comentários ácidos. Fecham os olhos para os acertos e gritam bem alto todos os erros. Chegam ao ponto de generalizar e falar inverdades com expressões do tipo "governo desastroso", "pior da história", "piorou o país em todos os setores".
Óbvio que o país melhorou muito nas duas últimas décadas e muito se deve a ações de vários governos. Bons frutos foram plantados nos governos passados e no atual, da mesma forma que muitas sementes podres também foram usadas com resultados desastrosos. Mas tem muita gente mais preocupada em briga de partidos que com suas ações. No fim das contas, todos se parecem torcedores de times futebol: "o meu time é melhor", "o seu time é pior", "o juíz roubou para seu time", "o jogador do meu time é craque", "o seu time teve sorte", "meu jogador fez falta, mas não merecia o cartão vermelho",... Como seria bom se a política fosse discutida com mais responsabilidade. Não é vergonhoso ser imparcial. Não é vergonhoso votar em um candidato e depois criticar seu governo, como também não é vergonhoso elogiar o governo de um candidato a quem você criticava antes da eleição. O comportamento do "eleitor-torcedor" é danoso para a democracia, pois, quando alguém se comporta desta forma, mascara a realidade e influencia outras pessoas a enxergá-la desta forma distorcida. Deixemos nossa paixão somente no futebol. Política é razão. Sejamos cidadãos mais responsáveis. Todos nós teremos a ganhar. Pensemos nisso!
sábado, 11 de janeiro de 2014
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
O drama nosso de cada dia na TV
A programação da TV aberta brasileira mudou bastante. Cada vez mais em busca de audiência, não é novidade para ninguém que as grandes emissoras procuram colocar no ar aquilo que as pessoas queiram ver, não importando a qualidade do conteúdo. O importante é prender o telespectador na frente da telinha. Foram anos de experiências e diversos temas foram testados até que parecem ter chegado à formula definitiva para seu sucesso: a exploração do drama pessoal.
Quem tem pelo menos trinta anos deve lembrar de alguns tipos de programas que existiam há anos atrás e que agora desapareceram ou são raros atualmente. Programas de perguntas e respostas, gincanas, show de calouros, paradas de sucesso musical, programas infantis, programas de entrevista, documentários, dentre outros, sumiram e os que sobraram, hoje, são contados a dedo. Em sentido contrário, proliferaram os programas cujo tema principal é contar uma história dramática de algum anônimo ou famoso da última semana. O objetivo é claro: prender a atenção dos telespectadores através da exploração de um momento de dificuldade ou dor do envolvido. Aí proliferam programas inteiros ou alguns quadros de programas como aqueles em que o "bondoso" apresentador reforma a casa ou o carro velho do cidadão, como aquele quadro que explora a saudade da terra natal um de retirante nordestino em São Paulo ou aqueles programas que buscam ser os primeiros a entrevistar a família de uma vítima de uma tragédia que tenha causado forte comoção nacional.
Essa tendência da exploração do drama alheio não é novidade, mas chamou ainda mais a atenção na última exibição do programa Fantástico do ano de 2013. O programa já começou com as imagens fortes da fratura da perna do lutador Anderson Silva, drama que foi exaustivamente explorado no programa. Neste caso específico, ainda é possível perdoar um pouco o programa, pois este era um dos assuntos mais comentados do dia. Mas, em seguida, vieram as outras reportagens e o perdão terminou ali.
O programa mostrou uma reportagem com o cantor San Alves, que havia vencido o programa The Voice Brasil três dias antes. O programa mostrou a repercussão de sua vitória no estado natal, mostrou seus novos fãs, etc. Mas faltava o momento dramático. Então, o programa revelou que o cantor fora abandonado pela mãe biológica nos primeiros dias de vida e explorou este tema durante boa parte da reportagem. O fato pessoal não tinha relação com o programa, mas era preciso fazer o país se comover com mais este drama.
Em seguida, uma reportagem que tinha tudo para ser alegre. Uma entrevista com uma das jogadoras da seleção brasileira de handebol, que havia sido campeã mundial na semana anterior. A reportagem poderia mostrar a trajetória da equipe, as vitórias, a festa do título, mas era preciso mostrar o drama. Então, o que dominou a reportagem foi a revelação de que a referida jogadora, poucos anos antes, havia sofrido um AVC. Era para ser uma entrevista sobre o título, mas era preciso comover o país com mais este drama.
A próxima reportagem era a exploração do drama propriamente dito. O programa lembrava que, nos próximos meses, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, iria completar um ano. Entrevistas com familiares das vítimas se seguiam e a exploração da dor alheia a torto e a direito.
Para completar a noite, duas entrevistas. A primeira, com um fotógrafo brasileiro para contar sua experiência em um país devastado por uma guerra civil. O objetivo: mostrar o que ele sentiu ao ver mortes de inocentes, conflitos com a polícia, etc. E a outra entrevista, com um casal que perdeu os filhos na tragédia das enchentes na baixada fluminense, há alguns anos, e que agora se tornava pai de trigêmeos. Para não dizer que o programa foi só tragédia, no final teve ainda o momento mais light com o quadro de humor de Marcelo Adnet e os peladeiros do Bola Cheia e Bola Murcha.
Como se percebeu, o último Fantástico do ano foi repleto de "emoções" ou, como cabe melhor dizer, "exploração do drama alheio" ou "exploração midiática de tragédias". Esta edição do programa foi tomada como exemplo do que a TV aberta se tornou. Emocionar o público com histórias "comoventes" foi a grande sacada da produção do programa. É fácil perceber que esta fórmula se repete em vários outros programas e que drama é o tema recorrente. Nada educativo, nada construtivo, nada divertido. Infelizmente, as TVs perceberam que o povo gosta disso. Elas, sabiamente, apenas exploram o que vai lhes trazer audiência. Que venha a próxima tragédia!
Quem tem pelo menos trinta anos deve lembrar de alguns tipos de programas que existiam há anos atrás e que agora desapareceram ou são raros atualmente. Programas de perguntas e respostas, gincanas, show de calouros, paradas de sucesso musical, programas infantis, programas de entrevista, documentários, dentre outros, sumiram e os que sobraram, hoje, são contados a dedo. Em sentido contrário, proliferaram os programas cujo tema principal é contar uma história dramática de algum anônimo ou famoso da última semana. O objetivo é claro: prender a atenção dos telespectadores através da exploração de um momento de dificuldade ou dor do envolvido. Aí proliferam programas inteiros ou alguns quadros de programas como aqueles em que o "bondoso" apresentador reforma a casa ou o carro velho do cidadão, como aquele quadro que explora a saudade da terra natal um de retirante nordestino em São Paulo ou aqueles programas que buscam ser os primeiros a entrevistar a família de uma vítima de uma tragédia que tenha causado forte comoção nacional.
Essa tendência da exploração do drama alheio não é novidade, mas chamou ainda mais a atenção na última exibição do programa Fantástico do ano de 2013. O programa já começou com as imagens fortes da fratura da perna do lutador Anderson Silva, drama que foi exaustivamente explorado no programa. Neste caso específico, ainda é possível perdoar um pouco o programa, pois este era um dos assuntos mais comentados do dia. Mas, em seguida, vieram as outras reportagens e o perdão terminou ali.
O programa mostrou uma reportagem com o cantor San Alves, que havia vencido o programa The Voice Brasil três dias antes. O programa mostrou a repercussão de sua vitória no estado natal, mostrou seus novos fãs, etc. Mas faltava o momento dramático. Então, o programa revelou que o cantor fora abandonado pela mãe biológica nos primeiros dias de vida e explorou este tema durante boa parte da reportagem. O fato pessoal não tinha relação com o programa, mas era preciso fazer o país se comover com mais este drama.
Em seguida, uma reportagem que tinha tudo para ser alegre. Uma entrevista com uma das jogadoras da seleção brasileira de handebol, que havia sido campeã mundial na semana anterior. A reportagem poderia mostrar a trajetória da equipe, as vitórias, a festa do título, mas era preciso mostrar o drama. Então, o que dominou a reportagem foi a revelação de que a referida jogadora, poucos anos antes, havia sofrido um AVC. Era para ser uma entrevista sobre o título, mas era preciso comover o país com mais este drama.
A próxima reportagem era a exploração do drama propriamente dito. O programa lembrava que, nos próximos meses, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, iria completar um ano. Entrevistas com familiares das vítimas se seguiam e a exploração da dor alheia a torto e a direito.
Para completar a noite, duas entrevistas. A primeira, com um fotógrafo brasileiro para contar sua experiência em um país devastado por uma guerra civil. O objetivo: mostrar o que ele sentiu ao ver mortes de inocentes, conflitos com a polícia, etc. E a outra entrevista, com um casal que perdeu os filhos na tragédia das enchentes na baixada fluminense, há alguns anos, e que agora se tornava pai de trigêmeos. Para não dizer que o programa foi só tragédia, no final teve ainda o momento mais light com o quadro de humor de Marcelo Adnet e os peladeiros do Bola Cheia e Bola Murcha.
Como se percebeu, o último Fantástico do ano foi repleto de "emoções" ou, como cabe melhor dizer, "exploração do drama alheio" ou "exploração midiática de tragédias". Esta edição do programa foi tomada como exemplo do que a TV aberta se tornou. Emocionar o público com histórias "comoventes" foi a grande sacada da produção do programa. É fácil perceber que esta fórmula se repete em vários outros programas e que drama é o tema recorrente. Nada educativo, nada construtivo, nada divertido. Infelizmente, as TVs perceberam que o povo gosta disso. Elas, sabiamente, apenas exploram o que vai lhes trazer audiência. Que venha a próxima tragédia!
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