quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

As lições que nos deixa a exoneração do delegado


Quando o delegado Pedro Pinho foi desabafar no Twitter, na tarde desta segunda-feira, 21 de janeiro de 2013, não imaginava a repercussão que suas declarações iriam causar. O delegado utilizou a rede social para criticar o desempenho de colegas de sua corporação, especialmente das mulheres, as quais acusou de não terem vocação e nem dedicação para a atividade policial. O resultado foi sua exoneração do cargo no dia seguinte. Saiba mais sobre o caso clicando aqui.

As declarações do referido delegado se parecem como um desabafo de alguém que está incomodado com uma situação. Ele utilizou a rede social para expôr sua indignação, aparentemente verdadeira. E se não escreveu nenhuma mentira, por que foi exonerado? Injustiça? Não. Sua punição deveu-se ao erro por ele cometido, um erro muito comum também cometido por milhares de usuários de redes sociais: usar a rede de forma errada (ou como canal errado) para solucionar seus problemas. Em outras palavras, no bom popular, usar a rede para jogar a "merda no ventilador".

Já imaginou se todo funcionário insatisfeito com o desempenho de seus colegas de trabalho subir em um trio elétrico, na frente da empresa, e usar o microfone para dizer, para todas pessoas que estão passando na rua e para aquelas que estão dentro do prédio da empresa, que trabalha com pessoas incompetentes? Pois foi exatamente isso que o delegado fez. No caso, a rede social fez o papel do trio elétrico com microfone aberto para o mundo. Não importa se o que foi dito é verdade ou não. Ao criticar seus colegas na rede social, o delegado os ofendeu publicamente e, ao contrário do que muitos pensam, não contribuiu em nada para melhorar a situação ou resolver o problema de sua corporação. Pior ainda, gerou uma imagem perante a sociedade que a referida corporação seria formada por pessoas não comprometidas. Manchou a imagem da corporação. A atitude mais correta seria denunciar a situação ao órgão interno competente ou a chefia imediata, ou seja, procurar de fato resolver o problema, mas nunca procurar tornar o caso público. Além do mais, a opinião do delegado é algo muito particular. Já imaginou se o que foi dito pelo delegado não for verdade? E se suas declarações forem motivadas por uma frustração, por exemplo, pelo fato de o desempenho das mulheres ser melhor em relação ao seu? Não acho que seja o caso, mas a opinião pública já foi influenciada pelos seus primeiros comentários. Perigoso isso.

O delegado mereceu ser punido, mas, sem entrar no mérito se a punição foi exagerada ou não (no caso, a exoneração) a verdade é que este caso é mais um exemplo de mau uso das redes sociais. Muitas pessoas ainda tratam as redes como uma "terra sem lei", um espaço que pode ser usado para dizer o que bem entendem, sem se preocupar se as declarações são ofensivas, imorais, caluniosas ou anti-éticas. Pelo contrário, a rede social é um microfone aberto para o mundo. É preciso compreender que as declarações atingem um público grande e variado, público este que não tem nenhum conhecimento dos fatos e que facilmente tenderá a ser influenciado pelos comentários unilaterais do interlocutor. Este mesmo público estará prontinho para emitir suas opiniões baseadas apenas no que está lendo. É preciso ter responsabilidade pelas consequências que certas declarações poderão gerar.

Problemas no trabalho, problemas na família, problemas no condomínio, entre outros devem ser resolvidos e discutidos entre os envolvidos ou entre aqueles que são diretamente impactados pelo impasse. Extrapolar os limites deste círculo é expôr os envolvidos a constrangimentos desnecessários. É preciso lembrar também que nem tudo aquilo que nós achamos é de fato verdade. Muitas vezes, cometemos enganamos e criticamos alguém de forma injusta. Tornar público certas impressões só aumenta o constrangimento e o tamanho do estrago causado aos envolvidos.

Só utilize a rede social, de forma pública, se for para discutir ou criticar algo que seja de interesse público. Não a utilize para falar mal de algo ou alguém simplesmente para desabafar e tornar público um problema restrito. Não torne pública uma desavença com o síndico de seu condomínio; mantenha a questão dentro de seu condomínio. Não torne público um desentendimento com seu chefe; restrinja a situação ao seu chefe ou ao nível hierárquico imediatamente superior a ele (que, neste caso, está envolvido). Não fale mal publicamente do seu vizinho, do seu colega de trabalho, do seu familiar... Procure solucionador o problema pelos meios corretos ou pelos canais competentes. Discuta publicamente aquilo que de fato seja de interesse público. Roupa suja se lava em casa.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A política que nos desilude a cada dia

A política é uma das ciências mais presentes em nosso cotidiano. Na conceituação erudita, política é "a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo". Numa conceituação moderna, "política é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil". Não há dúvidas que o interesse pela política é não apenas importante para o cidadão, mas um dever que todos devem ter, pois é justamente dos fatos e das decisões políticas que depende o futuro da sociedade. Mas como manter-se entusiasmado por ela vendo, a cada dia, exemplos e mais exemplos de fatos e pessoas que estragam esta arte e decepcionam aqueles que por ela se interessam?

Conceitualmente política denomina arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados. Os políticos são os agentes que fazem a política, ou seja, participam diretamente desta administração. "Ser político", na teoria, parece uma missão, algo que visa o bem da coletividade. Infelizmente, vemos que o bem que é visado se restringe não mais que até os limites dos muros das casas de cada político.

Vejamos os exemplos que nos rodeiam. No período eleitoral, deveríamos ter um momento para "debates e propostas", mas o que temos são "embates e chacotas". Em busca de votos, os candidatos passam mais tempo procurando desqualificar os adversários que discutindo e apresentando projetos para apreciação dos eleitores. Os postulantes aos diversos cargos não fazem uso do fair play, tão pregado nas competições esportivas, mas se utilizam de todo e qualquer tipo de baixaria para "destruir o inimigo". Passadas as eleições, durante o mandato, estabelece-se quem é situação e oposição. Estes dois grupos passam a confrontar-se e a agredir-se. Mais importante que os projetos é destruir o outro grupo.

No Brasil, os cargos políticos são disputados praticamente "a tapa". Pelo comportamento dos políticos, ocupar um cargo não é um objetivo motivado por um projeto ou pelo desejo de fazer o melhor pela sociedade, mas sim motivado por um bom emprego. Um emprego que trará bons rendimentos financeiros, mordomias e benefícios. Isso fica muito claro, quando vemos políticos não concluindo mandatos e sim "pulando" de cargo em cargo, seja para ocupar uma posição mais atrativa ou para ficar mais tempo no poder. Assim vemos alguém ser eleito vereador para um mandato de quatro anos, mas, dois anos depois, ele já está concorrendo a deputado. E, após ser eleito deputado, já concorre dois anos depois a prefeito. Já quando é eleito senador, para um mandato de oito anos, na primeira eleição seguinte já tenta se eleger prefeito. Já em outra oportunidade se afasta do senado (ou da câmara de vereadores) para ser ministro (ou secretário). Uma infinita repetição de mandatos interrompidos.

Algumas vezes, surgem políticos que parecem ser diferenciados e se tornam "herois. Estes conquistam a confiança e o respeito por sua bela história política, mas parecem se contaminar pelo submundo político e destroem sua reputação em segundos. Veja o exemplo do ex-presidente Lula. Teve uma infância pobre, entrou para a política e teve uma trajetória brilhante. Tornou-se o primeiro presidente ex-operário. Conquistou muitos simpatizantes, mas a podridão dos bastidores que o cercava o contaminou. É verdade que Lula, até o presente momento, não tem sobre suas costas qualquer acusação grave de que tenha participado de esquemas de corrupção. Como disse uma vez um amigo, qualquer jornalista tem o sonho de publicar algo grave contra ele, mas, se até agora não fez, deve ser porque realmente não existe, mas, mesmo aparentemente não se corrompendo, o "heroi" Lula ficou cercado de corruptos e não foi capaz de denunciá-los. Pelo contrário, ganhou o estigma daquele que "não sabia" ou "não viu". O comportamento do ex-presidente com relação aos corruptos de seu partido é bem diferente dos tempos em que ele era oposição e denunciava os corruptos de outros partidos.

Também temos muitos outros comportamentos que nos decepcionam. Políticos que hoje se dão as mãos, nas próximas eleições se tornam inimigos mortais. E inimigos de longas datas, magicamente, se unem. Tudo pela conveniência do jogo político. Outros cumprem mandatos inteiros e não apresentam projetos ou não defendem causa alguma, mas baixam a cabeça e obedecem a todas as ordens do seu grupo político. Os políticos de "nome", os mais poderosos, usam sua influência para conquistar cargos para seu partido, quando poderiam estar trabalhando pela sociedade. Assim vemos governadores se metendo em eleição para presidentes de câmara municipal e senadores influenciando eleições para prefeitos. Até mesmo denúncia de chantagem foi comentada na última eleição para fazer um ou outro pré-candidato desistir da candidatura em favor de outra pessoa.

O comportamento dos eleitos também desilude o mais otimista dos cidadãos. Vemos a dificuldade que é aprovar determinados projetos de relevância para a sociedade em contraste com a velocidade em tempo recorde para votar e aprovar um aumento de salários para eles mesmos. Vemos superfaturamentos e desvios de dinheiro aos montes em contraste com a falta de verba e de investimentos em setores como educação, saneamento, transportes e segurança pública. Vemos ações e obras necessárias, mas que não são feitas porque não dão "ibope", afinal a prioridade é fazer algo que chame a atenção de eleitores visando as próximas eleições. No Congresso Nacional, diversos partidos vendem apoio ao governo federal em troca de "conquistar" um ou mais ministérios. Mais recentemente, presenciamos até uma vereadora que foi capaz de forjar o próprio sequestro como uma manobra para adiar a votação para a eleição do presidente na câmara.

Enfim, a política vai decepcionando aqueles que têm consciência de sua relevância. Não a política, necessariamente, mas aqueles que a fazem. Uma arte mal aproveitada que mais parece um jogo de intrigas, e maracutaias que visa o interesse pessoal. A política não perde sua importância, mas desilude quem a acompanha, cada vez mais, a cada dia.