segunda-feira, 25 de junho de 2012

Manaus e o exemplo inglês

A influência dos ingleses foi marcante na Manaus do final do século XIX e início do século XX. Tal influência deixou reflexos até hoje vistos na arquitetura e na infra-estrutura urbana da área central da cidade. As semelhanças entre Manaus e Londres, na época, iam além da arquiterura urbana e se manifestava também nas características naturais: enquanto a capital inglesa era banhada pelo Rio Tâmisa, a capital amazonense crescia ao lado do Rio Negro e era cortada com uma grande quantidade de pequenos rios, conhecidos como igarapés, todos afluentes do Negro.

Ao longo de muitos anos, Londres despejou todo seu esgoto diretamente no Tâmisa, situação que decretou a morte do rio. No Tâmisa do século XIX, a pesca do salmão já não mais existia e o rio ganhou um apelido nada orgulhoso: O Grande Fedor. O mau cheiro era tanto que várias sessões do Parlamento Britânico chegavam a ser interrompidas. A Manaus do século XIX parecia copiar Londres em tudo. Como era de se esperar, o esgoto manauara teve o mesmo destino dado pelos ingleses: o rio. Ou melhor, os igarapés que cortavam a cidade. Da mesma forma que os peixes e os banhistas sumiram no Tâmisa, os igarapés de Manaus também tiveram a mesma má sorte.

Entre 1850 e 1860, uma grande epidemia de cólera assolou a capital inglesa. Na mesma época, o Príncipe Alberto morreu por febre tifóide. Todos esses fatos foram atribuídos à poluição do Rio Tâmisa. Foi então, que os ingleses tomaram uma sábia decisão: era preciso despoluir o seu rio. Neste ponto, Manaus rompeu seu pacto de copiar a cidade de Londres. O projeto londrino foi em frente. Manaus não fez o seu.

O projeto de limpeza do Tâmisa começou em 1895. Era um longo e sério projeto de captação e tratamento de esgoto que só começou a dar seus primeiros resultados 35 anos depois, quando as águas voltaram a clarear. Mas não parava por aí. 75 anos depois, os salmões começaram a reaparecer. Hoje é possível velejar, remar e até mesmo pescar no rio. O Tâmisa virou exemplo de sucesso em programas de despoluição de rios.

Já em Manaus, mais de 100 anos após o projeto inglês começar, nada de tão relevante foi feito. Pelo contrário, os seus rios se tornaram mais e mais poluídos. Os peixes sumiram. O lixo e o mal cheiro dominam. Tirar toneladas de lixo dos rios numa semana não é projeto de despoluição. Manaus copiava os ingleses em tudo, mas parou no tempo. O exemplo do Tâmisa esta aí para mostrar que os igarapés de Manaus não estão predestinados a serem rios mortos. Pelo contrário, o destino deles está nas mãos das autoridades. É preciso um projeto sério, a ser tocado por vários governantes (municipal e estadual) e seguidos governos, para que os resultados sejam obtidos a médio e longo prazos. Cabe às autoridades executarem projetos que visem o bem da cidade de forma permanente, não apenas projetos paleativos, de curta duração, cujo real objetivo é apenas a próxima eleição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário