sábado, 21 de maio de 2011

Amazonas para o Mundo Ver

Em março de 2011, um vídeo gravado há mais ano mostra integrante da Banda Restart dizendo que gostaria de tocar no Amazonas, pois deveria ser "legal" tocar no meio do mato e que não sabia se tinha civilização. Em maio de 2011, integrante da banda McFly, afirma que shows no Brasil em 2009 foram inesquecíveis, principalmente por tocar no Amazonas, pois antes não sabia que existia uma cidade de verdade na floresta.

Nos dois casos, a repercussão foi negativa entre os amazonenses. Uns xingaram, outros se indignaram. Uns acharam falta de respeito, outros pregaram ódio a ambas as bandas. Em resumo, a reação com sentimento de revolta foi grande. Para mim, uma reação descabida e explico por que.

Os comentários citados acima não revelaram nenhuma falta de respeito. A não ser que desconhecimento agora seja considerado falta de respeito. Ficou muito claro que os indivíduos mencionados nunca botaram os pés neste chão e que tudo que sabem sobre o norte do país é a existência da floresta amazônica. Pura ignorância sobre a realidade desta região.

Esta situação de desconhecimento não é exclusiva destes “artistas”. Nordestinos, sulistas, paulistas e cariocas, ... enfim, todo o Brasil conhece muito pouco daqui. Pouco se fala daqui, pouco se ouve algo daqui. Isso é (ou deveria ser) muito mais preocupante para quem vive no Amazonas do que esses comentários que são conseqüência direta desta situação.

Se você liga a TV em Manaus, em um dia qualquer, certamente verá notícias “nacionais” como um traficante morto no Rio de Janeiro, um carteiro que encontrou e devolveu uma carteira cheia de dinheiro em Nova Iguaçu, um congestionamento enorme em São Paulo, greve de motoristas de ônibus em Campinas... Tudo isso será notícia aqui, porém, quando o mesmo evento ocorre aqui (e sabemos que ocorre), dificilmente será notícia lá “no Brasil”. Um novo funk que vira moda no Rio de Janeiro vai para o Faustão no domingo e na segunda já toca nas rádios locais. Enquanto isso, o novo CD do Garantido ou do Caprichoso busca espaço nas rádios locais e luta para ficar conhecido aqui. Ficar conhecido lá fora? Difícil. Uma peça no Teatro Amazonas com atores “globais” sempre lota (mesmo sem o público conhecer o roteiro), já o festival de Teatro do Amazonas, que ocorre todos os anos, sempre tem assentos livres (mesmo com entrada franca). Notícias do Amazonas lá fora? Somente fatos extraordinários como uma matança de indiscriminada de botos, desmatamento recorde da floresta, erro médico em hospital público, cheia dos rios, seca recorde ou festival de Parintins (uma vez por ano).

Essa situação tem duas explicações. Uma delas é o isolamento: longe dos grandes centros, é natural que tenhamos menos visibilidade e olhemos muito para lá. É normal, mas poderia ser algo superável. A outra explicação é o que pouco se faz para valorizar e mostrar o Amazonas para o mundo. Engolimos tudo o que vem de fora e pouco valorizamos e divulgamos o que é nosso. Daqui para fora, só divulgamos a imagem de “pulmão do mundo”. E o resto? Divulguemos mais o boi-bumbá, divulguemos mais a Zona Franca, o Festival de Ópera, o futebol local, o encontro da águas, os cantores regionais, as peças teatrais locais, as festas nas cidades do interior, os pontos turísticos, o ecoturismo, divulguemos o que é nosso.

Sem essa mudança de postura, o Amazonas continuará a ser desconhecido. Outros artistas ignorantes cometerão novas gafes. Continuarão a pensar que somos apenas uma floresta, onde somente há água, animais e índios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário