Antigamente, eu via brasileiros indo às ruas para protestar contra algo. Era contra um aumento de impostos, era por uma mudança numa Lei, era contra aumento de passagem de ônibus, era para tirar um político corrupto do poder...
Antes os protestos aconteciam como uma resposta IMEDIATA a algo. Por exemplo, um aumento das passagens era anunciado numa terça e logo organizava-se um protesto para os dias seguintes. Enfim, protestos para mudar uma situação e reclamar de quem estava no poder.
Hoje, vejo protestos organizados por quem já está no poder, planejados com semanas de antecedência e em datas estratégicas: dia do Golpe Militar de 64, Dia do Trabalhador...
Antigamente, você ia para um protesto que tinha uma pauta única e bem definida: é contra "isso aqui" e pronto. Na semana seguinte, tinha outro protesto com a mesma pauta. Era de fato uma luta por uma causa até que ela fosse alcançada.
Hoje vejo que cada um desses protestos bimestrais da seita bolsonarista tem uma pauta com pelo menos três justificativas. Somados todos os inúmeros protestos que vêm acontecendo desde que o maníaco chegou ao poder, já entraram nas pautas: pela reforma da previdência, pelo pacote anticrime, pelo fechamento do congresso, pela intervenção militar, contra Alexandre de Moraes, pela cloroquina, contra a vacina chinesa, contra a liberdade de Lula, contra o lockdown, pela liberdade de expressão, contra a ditadura do STF, pelo voto auditável...
Interessante é como, entre um protesto e outro, os itens da pauta mudam com uma facilidade imensa. Antes, acontecia um fato que gerava o protesto. Hoje, o protesto é marcado primeiro, com data e hora e definidos, depois cria-se a pauta para justificá-lo.
Antes, você ia para um protesto com um sentimento de "raiva", "revoltado" com uma situação que você queria mudar. Hoje vejo gente indo protestar como se tivesse indo para uma festa. Organizadores em cima do trio elétrico na Avenida Paulista comandando a torcida e puxando um "hola", como num estádio de futebol. Vejo gente postando fotos e vídeos em rede social, sorrindo, "olha eu aqui, estou no protesto", "veja que lindo, quanta gente". Não vejo nos comentários ninguém nem mencionar os itens da pauta. Voto auditável? Não tem nos comentários, mas sobra muito: "Meu presidente isso", "meu presidente aquilo", ... Antes não era assim. Nos protestos pelo impeachment, não se via o nome de político. Era "pelo impeachment" e não pelo meu político de estimação.
![]() |
Pessoas sorrindo, aglomeradas e sem máscaras |
Enfim, vamos para a real. Isso não é protesto. É sim um culto a um político. Uma espécie de movimento PLANEJADO de engajamento. Um ato voltado para manter apoiadores "aquecidos". PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA. No bom português, LAVAGEM CEREBRAL. Sim, lavagem cerebral. Porque, num protesto de verdade, protesta-se contra algo e não a favor de um político. "Ah, mais as pautas dele também são as minhas". Sim, sim, claro, claro...
E a pandemia, hein? Na Avenida Paulista, trio elétrico, pessoas sem máscaras e aglomeradas. Nenhuma palavra sobre isso por parte dos organizadores e dos políticos que apoiaram. Não é estranho que, numa semana onde se inicia uma CPI para investigar ERROS E OMISSÕES do governo federal durante a pandemia, o presidente e seus parlamentares aliados organizem, divulguem, apoiem e participem de atos com AGLOMERAÇÕES que contribuem para propagação do vírus?
![]() |
Nem precisa de legenda |
Essa manifestação de ontem não foi a última. Daqui a dois ou três meses vai ter mais. Daqui para lá, inventa-se a nova pauta. Mas o "evento" é certo. As manifestações têm um papel importante no projeto de poder desta seita que hoje comanda o país. Têm a mesma função de um culto ou uma missa para a religião ou um encontro de alcoólicos anônimos para quem quer se libertar de um vício. Você pode estar ficando desestimulado e cabisbaixo, mas sai de casa e vai ao encontro. Lá você reza, canta e encontra pessoas com a mesma crença e reforça sua fé. Volta para casa com a fé renovada. Essa é a lógica que mantém o bolsonarismo vivo e a real motivação destes "protestos".
Realmente, Gil do Vigor, o Brasil está lascado! Um dia, quem sabe, as pessoas acordem e pensem de fato no seu país e não em quem as manipula em proveito próprio.