Tudo começou em 2002, quando votei em Lula para presidente. Eu dizia que, apesar de reconhecer os méritos do governo FHC com o Plano Real, seu segundo mandato não fora tão bom. Por isso, era momento de mudar. Naquele momento, resolveram dizer que eu era da turma da esquerda.
Em 2005, explodiu o mensalão. Que decepção! Ousei dizer que era lógico que Lula sabia de tudo. Para quê? Fui acusado de ser cúmplice da mídia que queria derrubar o "ex-operário", "filho do Brasil".
Do mensalão, Lula saiu ileso. Igual sorte não tiveram outros políticos petistas. Quando eu já comemorava suas condenações, surgiram os tais "embargos infringentes", espécie de recurso que, na prática, iria adiar a condenação dos réus. Resolvi opinar e disse que não era correto acusar o STF de conivência. Se os embargos estavam previstos no regimento, não tinha escapatória: os embargos teriam que ser julgados. Pronto, naquele momento, eu era acusado de "defensor de mensaleiros".
O exemplo do mensalão fez-me perder a confiança no Partido dos Trabalhadores. Por este motivo, votei em Alckmin na eleição presidencial de 2012. Naquele momento, passei a ser chamado pejorativamente de "tucano".
Dilma venceu a eleição. Alguns anos depois, eu critiquei as vaias que a presidenta recebeu na abertura da Copa das Confederações. Eu disse que ali era um evento internacional, não era lugar nem momento adequados para manifestar aprovação ou reprovação por seu governo. Naquele momento, passei a ser visto novamente como um "esquerdista", "defensor do petismo". Três anos depois, mantive minha opinião e critiquei a vaias a Michel Temer nas Olimpíadas do Rio. Agora, era visto como "de direita" novamente.
Durante a campanha eleitoral de 2014, alguns amigos disseram que nada melhorou no país nos anos do PT. Fui dizer que, apesar do caos econômico, era preciso reconhecer muitos avanços, especialmente na diminuição da desigualdade. Pronto, agora seria eu acusado de "petralha".
Ainda durante a campanha, amigos argumentaram que os avanços sociais na qualidade de vida dos brasileiros eram todos méritos do PT. Eu falei que houve méritos, mas que tais políticas sociais só puderam ser aplicadas, especialmente nos anos de Lula, devido à estabilidade econômica construída pelo Plano Real. Naquele momento, fui acusado de ser um "coxinha". Foi quando ouvi este termo estranho pela primeira vez.
Veio a eleição de 2014 e votei em Aécio no segundo turno. Ganhei novamente o adjetivo "coxinha".
Com a explosão da crise econômica, logo começou a campanha pró-impeachment. Então, quando eu disse que crise econômica não era justificava jurídica para um impeachment, eu era acusado de "pró-Dilma".
Veio à tona o escândalo das pedaladas fiscais e, junto com ele, a instauração do processo de impeachment. A grande discussão no Congresso e nas redes sociais era se as pedaladas configuravam ou não crime de responsabilidade. Tive a ousadia de dizer sim, que era crime de responsabilidade, e até apontei os artigos da constituição e das leis que embasavam meu argumento. Naquele momento, passei a ser chamado de "golpista".
Por falar em "golpe", palavra mais repetida do ano, também opinei sobre ele. Disse que estava muito claro que os congressistas que julgaram o processo de impeachment não estavam nem aí se havia ou não crime de responsabilidade e que seus votos eram claramente políticos (os governistas defendiam e os anti-governo acusavam). Tecnicamente não era um golpe de Estado, mas era um claro golpe político. Pronto. Voltei a ser um "petralha".
Agora, quando o novo governo assumiu, fui inventar de dizer ser favorável à PEC do teto dos gastos públicos para, novamente, ser visto como um "coxinha pobre de direita".
E assim, as acusações vêm permanentemente se alternando. Hora me acusam de uma coisa, hora de outra. A culpa deve ser minha. Quem manda eu opinar de acordo com minha consciência? Infelizmente, muitas pessoas enxergam a política como um jogo em que você precisa escolher um
lado e prestar juras de lealdade eterna a este lado. Elas pensam assim: tudo que os políticos "do meu lado" falam ou fazem é o certo e tudo que o dos outros lados fazem é o errado.
Esta neura em criar lados fez surgir, mais recentemente nas redes sociais, um novo termo pejorativo: o "isentão", usado para designar pessoas que não escolhem um lado, mas que também têm medo de dar opinião e não se comprometem com nada. No popular, os que ficam "em cima do muro". Deste termo pelo menos escapei, pois, se não tenho um lado, opinião foi algo que nunca neguei. Sou isento, sim, "isentão", jamais! Imparcial, sim, ou pelo menos eu tento ser, já que dizem não haver imparcialidade absoluta.
Ficam, então, meus questionamentos:
- Qual a vergonha em apontar erros de políticos em quem você votou?
- Quando a vergonha em apontar os acertos de políticos em quem você não votou?
- Para que ter um lado?
- Por que ter um lado?
- Para que este antagonismo: mortadela x coxinha, direita x esquerda, petista x tucano, democratas x socialistas x neo-liberais x comunistas?
Espero ter ajudado a mostrar de que lado estou. Bons "entendedores entenderão". Aos que só enxergam o que querem, resta continuarem me chamando por vezes de "coxinha", por outras de "mortadela".