Futebol é um campo fértil para discussões exaltadas, debates acirrados e provocações engraçadas. Dizem até que o melhor do futebol é justamente a discussão no dia seguinte: "foi gol ou não foi?", "era para ter sido expulso?", "foi justo o placar?", "meu time é melhor que é seu", etc. Se por um lado, é ótimo para discutir, por outro é assunto mais ingrato de todos para quem deseja discutir com imparcialidade. Todos que torcem para um time sempre estão (ou são os) "certos" e o rivais sempre estão (ou são os) "errados". Isso fica muito evidente quando observo as reações dos torcedores no caso do "Tapetão Lusa-Flu".
Quem me conhece sabe muito bem o quanto sou averso aos times que detêm o poder financeiro e de mídia. Torço contra mesmo (leia-se: em competições nacionais) e fico muito satisfeito quando vejo os times menos favorecidos vencerem os ditos "grandes do futebol brasileiro" ou mesmo quando vejo estes caindo para a segunda divisão. Não é surpresa para ninguém que torci contra a dupla Vasco e Fluminense na rodada final do Campeonato Brasileiro e fiquei muito satisfeito com o rebaixamento dos dois. No entanto, tenho o "defeito" de ser muito mais razão que emoção e essa racionalidade me impede de achar que meu interesse esteja acima do que é certo. E o que é certo? O certo é relativo, mas, até que provem o contrário, o certo é o que está escrito na Lei.
Você que está revoltado, indignado e chateado pelo Fluminense ter escapado do rebaixamento, você que diz que foi injusto ou diz que é um absurdo, por favor, responda as seguintes perguntas:
1) O jogador Heverton estava suspenso?
2) Um jogador suspenso tem que cumprir suspensão?
3) A Portuguesa utilizou um jogador suspenso na última rodada?
Se você respondeu SIM para todas as perguntas, então o que diz o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD)? Diz que o clube deve perder QUATRO pontos. Então, você vão discutir mais o que? A lei tem que ser cumprida, não importa quem será o beneficiado.
A Portuguesa foi vítima de sua própria desorganização. Acreditou nas palavras de seu advogado, mas não leu a ata do julgamento. Eu acredito que o clube até agiu de boa fé e não sabia que o jogador tinha mais uma partida de suspensão a cumprir. Acredito mesmo, mas... lei é lei. Nas suas letras "frias" não há espaço para subjetivismo, principalmente quando a não aplicação da lei (punição) implicaria em prejuízo para um terceiro. Já pensou que se o STJD decidisse "passar a mão na cabeça" da Portuguesa e não puni-la, causaria prejuízo para o Fluminense? Então, não havia outra alternativa que não a aplicação da lei. Desculpa aí!
Como foi dito no começo do texto, a parcialidade dos torcedores os impedem de pensar racionalmente. A grande maioria dos torcedores diz que o Flu é o vilão. Sim, o passado do Fluminense o condena, mas o passado não está em jogo neste julgamento. Há quem argumente dizendo que a Lei só é cumprida para os times pequenos. Não discordo, mas minha convicção é que um erro não justifica outro. Há também quem questione: será que se o Fluminense tivesse escalado jogador irregular e fosse a Portuguesa que dependesse da punição ao Flu para escapar do rebaixamento, o STJD iria fazer o mesmo? Ora, não vou ficar aqui supondo o que ele IRIA FAZER, mas vou dizer o que ele TEM QUE FAZER agora, neste caso. Se a Lei historicamente beneficiou os poderosos, a única forma de consertar o erro é aplicá-la igualmente, daqui para frente, tanto para os fortes quanto para os fracos.
Surpreende-me ver tanta gente defendendo que um tribunal não aplique a Lei, simplesmente porque o que é correto vai de encontro ao seu interesse (rebaixar um time rival). É estranho ver tanta gente pensando assim, justamente num momento em que o país debate tanto o combate à impunidade. Fala-se tanto em punir quem descumpre a Lei, mas defende-se que ela seja rasgada só para não beneficiar alguém com quem você não simpatiza. É verdade amigos: nem sempre o que é certo vai nos dar prazer. As vezes, o que é certo vai nos contrariar. Mas, o que é certo é o certo.