Qual o papel do meio a sua volta na determinação de suas opiniões? Até que ponto as pessoas a seu redor podem influenciar suas preferências? E você, que influência tem em determinar ou modificar as opiniões das pessoas com as quais convive?
Todas as questões acima chamam a atenção devido a inúmeros exemplos que se repetem constantemente. O mais recente foi a última pesquisa de popularidade do Governo Federal, feita pelo Datafolha. Em um intervalo de três semanas, a popularidade da presidenta caiu de 57% para 30% de aprovação, sem que nada de diferente tivesse ocorrido nas ações do seu governo. O evento que influenciou a mudança de opinião da população foram os protestos populares que ocorreram nas ruas de todo o país. Ora, só o fato de ver gente nas ruas "reclamando" fez com que muitos passassem a não mais aprovar o governo, sem que este nada de diferente tivesse feito (nem de bom nem de ruim). Em três semanas nem daria tempo. É o poder da influência.
Ainda falando desses protestos, não chama a atenção o fato deles simplesmente acontecerem em todas as principais cidades praticamente de repente e ao mesmo tempo? Não é interessante pensar que, um mês antes, praticamente nenhuma manifestação ocorria em lugar nenhum e, depois de começar em São Paulo, influenciou todas essas cidades? Num passe de mágica, ninguém se manifestava. Depois que os primeiros exemplos começaram, todos foram tomados pela vontade de protestar.
Deixando os protestos de lado e olhando um pouquinho mais a nossa volta, podemos ver muitos outros exemplos. Quantas pessoas desistem de seus sonhos porque foram desacreditados pelos amigos e parentes? E quantas pessoas, que sempre se acharam incapazes de realizar algo, conseguiram proezas inimagináveis após um empurrãozinho, ou seja, após serem incentivadas por um "não desista, você é capaz, vá por mim"? Quantas crianças se tornam pessoas de bem e honradas pela influência dos bons exemplos de seus pais? E quantos jovens se perdem pelas más influências de amizades nem um pouco saudáveis? Quantas vezes você se calou e deixou de dar uma opinião por saber que estava cercado por pessoas que reprovariam o seu entendimento? Quantas vezes você esteve em um lugar em que não gostaria de estar só porque todos os seus amigos foram para lá? E quantas vezes você se arrependeu depois de comprar uma roupa porque o vendedor disse que estava "ótima em você"? Quantas pessoas se tornaram novas pessoas (mudaram completamente) após serem influenciadas pelo(a) novo(a) namorado(a)? Quantas vezes você fez algo porque insistiram muito e você não soube dizer "não"?
A capacidade de influenciar muda as pessoas. Por serem formadas por pessoas, esta capacidade também consegue mudar comunidades, empresas e até países. Pessoas influentes se tornam espelhos para quem com elas se identifica. Os grandes líderes, do passado e do presente, foram e são quase sempre pessoas que conseguiram ou conseguem "plantar" suas ideias e motivar pessoas a segui-las. Ser influente é uma qualidade, na maioria da vezes, nata, mas que pode ser aprendida. Muitas ideias fracassam devido a seus idealizadores não conseguirem influenciar em um primeiro momento, mas conseguem êxito após alguns aperfeiçoamentos. Sim, influenciar é algo que pode se aprender, até porque o êxito pode não depender apenas de quem vai influenciar, mas também de quem será o influenciado. Quantas vezes ouvimos dizer que alguém é "cabeça-dura" ou uma "pessoa difícil? São termos que usamos quando nos referimos a alguém que dificilmente é influenciado. Tratar com essas pessoas requer técnicas extremamente sofisticadas. É preciso entender o comportamento destas e saber quando e como "plantar a ideia". Se existem as "cabeças-duras", também existem aquelas que são facilmente influenciadas. São aquelas cujas opiniões são formadas e atitudes são tomadas praticamente todas pela influência dos outros. Não fazem nada por convicção e sempre seguem outras opiniões. Uma atitude extremamente perigosa.
O mundo das influências é assim. Existem os influentes e os influenciados. Existem influenciáveis e os dificilmente influenciáveis. Ultimamente, você é um influente ou um influenciado? De que lado você está? Se está do lado dos influenciados e facilmente influenciáveis, saiba que é possível mudar. Paradoxalmente, permita-se ser influenciado por este conselho.
terça-feira, 23 de julho de 2013
quarta-feira, 10 de julho de 2013
A falta médicos no Brasil: alguns equívocos e muitas dúvidas
A falta de médicos e demais profissionais de saúde em regiões carentes, periféricas ou isoladas do país fez o Governo Brasileiro sinalizar algumas medidas para tentar resolver o problema a curto e longo prazos. A curto prazo, a medida que vem sendo mais discutida é trazer profissionais estrangeiros. A longo prazo, a medida já tomada foi uma Medida Provisória que adiciona dois anos aos cursos de Medicina, iniciados em 2015, para prestação de serviço obrigatório dos estudantes no SUS. Duas medidas que, efetivamente, devem produzir muito mais polêmica que resultados efetivos.
Antes de discutir as medidas, em si, é necessário entender as causas do problema. Por que faltam médicos em algumas regiões, enquanto outras estão tão bem servidas? A maioria dos médicos está concentrada nas regiões Sudeste e Sul (mais de dois terços), notadamente nas grandes cidades. São estas as regiões mais ricas e desenvolvidas do país. Já nas regiões Norte e Nordeste, a razão quantidade de médicos por habitante é a menor do país, sendo estas as regiões menos desenvolvidas. Nas cidades do interior, principalmente as menores e mais isoladas geograficamente, estão as menores taxas de médicos por habitante. Também dentro das cidades maiores, de todas as regiões, os médicos estão mais concentrados nas áreas centrais e mais nobres, ficando as periferias com a menor proporção destes profissionais. Não é novidade para ninguém que as periferias das grandes cidades são regiões normalmente muito populosas e que passam por graves problemas sociais, como violência, baixa escolaridade e falta de saneamento. Como é possível perceber, não faltam médicos no Brasil. O problema é que estes estão mal distribuídos, concentrados nas regiões mais ricas e que apresentam melhor infra-estrutura. Em outras palavras, os médicos estão indo para onde lhes são oferecidas melhores condições de trabalho.
O problema já é antigo, tanto que, ao longo dos anos, os governantes tentaram levar médicos para as regiões mais carentes através de salários maiores. Não adiantou. O que comprova ainda mais que o problema não são os salários, e sim a más qualidade de vida e condições de trabalho proporcionadas nestes locais. Nenhuma das duas medidas tomadas pelo governo visa resolver esta questão. Considerando que dotar os municípios de uma infra-estrutura mínima, capaz de atrair profissionais, não é algo que se possa fazer do dia para a noite, e que a falta destes profissionais é um problema "para ontem", a vinda de médicos estrangeiros pode ser considerada uma solução paliativa, mas que se faz bastante necessária. O mesmo já não se pode dizer do trabalho obrigatório dos estudantes de Medicina no SUS, pois, além de ser uma medida para longo prazo (somente em 2020 terminarão os seis anos iniciais de curso das primeiras turmas impactadas pela MP), não ataca o real problema, que é a precariedade das condições de trabalho. Além disso, as duas medidas, que estão sendo tentadas, ainda carregam consigo algumas deficiências que geram muitos questionamentos na sociedade.
A contratação de médicos estrangeiros visa atender as regiões menos favorecidas. Para isso, o Governo pretende aceitar médicos sem a obrigatoriedade destes prestarem o Revalida, exame para revalidação do diploma estrangeiro no país. A justificativa, dada pelo Ministro da Saúde, é que o Revalida daria direito ao médico estrangeiro de trabalhar em qualquer local do país, justamente o que o Governo não quer. Sem o Revalida, ele poderá ser contratado legalmente para trabalhar apenas nos locais autorizados pelo Governo. Faz sentido. Porém, sem a revalidação, a qualidade dos profissionais a serem contratados fica sendo uma grande incógnita. Médico ruim pode ser tão grave quanto não ter médico.
Já a MP que aumenta em dois anos a duração dos cursos de Medicina, a serem iniciados a partir de 2015, para que os estudantes tenham serviço obrigatório no SUS, traz consigo uma polêmica ainda maior e muitos questionamentos. É justo que estudantes de uma categoria profissional sejam obrigados a prestar um serviço social para o Governo, ainda que remunerado, para que possa obter o diploma? Se sim, por que outras categorias profissionais também não têm tal obrigação? Além disso, uma reivindicação antiga dos médicos no SUS são melhorias salariais. Para atrair mais médicos para o SUS, nos próximos anos, o Governo certamente precisaria melhorar os salários, mas, com a oferta grande de profissionais (estudantes) que será gerada por esta MP, desaparece (para o Governo) a necessidade de melhor remunerar os médicos do SUS. Isso não poderá afastar ainda mais os bons profissionais do Sistema Único de Saúde? Ademais, será que os oito anos de curso somados à necessidade de trabalho obrigatório em locais não atrativos, não irá diminuir o interesse dos estudantes pelo curso de Medicina? Outra, um médico, durante este serviço obrigatório, é um profissional ainda em fase de aprendizado. Como poderá este profissional ser alocado em um município isolado, talvez até como único médico deste município, sem outros profissionais mais experientes para auxiliá-lo? Como ele irá aprender? Não é tenebroso? São dúvidas que ficarão "no ar".
Como se percebe, o Governo busca resolver o problema da falta de médicos, mas as medidas adotadas e propostas parecem muito precipitadas e precisam ser reavaliadas. A falta de médicos é um problema sim, mas, mais do que isso, ela é consequência de outras mazelas que o país precisa enxergar e buscar corrigir. Nenhuma das medidas irá gerar melhores condições de trabalho para os profissionais. A solução passaria por melhorar essas condições de trabalho e a qualidade de vida nos municípios mais isolados e das áreas periféricas das grandes cidades, que é o que realmente poderia despertar o interesse de médicos e atraí-los. Tão óbvio que não é nem preciso ser profissional da área de saúde para perceber isso.
Antes de discutir as medidas, em si, é necessário entender as causas do problema. Por que faltam médicos em algumas regiões, enquanto outras estão tão bem servidas? A maioria dos médicos está concentrada nas regiões Sudeste e Sul (mais de dois terços), notadamente nas grandes cidades. São estas as regiões mais ricas e desenvolvidas do país. Já nas regiões Norte e Nordeste, a razão quantidade de médicos por habitante é a menor do país, sendo estas as regiões menos desenvolvidas. Nas cidades do interior, principalmente as menores e mais isoladas geograficamente, estão as menores taxas de médicos por habitante. Também dentro das cidades maiores, de todas as regiões, os médicos estão mais concentrados nas áreas centrais e mais nobres, ficando as periferias com a menor proporção destes profissionais. Não é novidade para ninguém que as periferias das grandes cidades são regiões normalmente muito populosas e que passam por graves problemas sociais, como violência, baixa escolaridade e falta de saneamento. Como é possível perceber, não faltam médicos no Brasil. O problema é que estes estão mal distribuídos, concentrados nas regiões mais ricas e que apresentam melhor infra-estrutura. Em outras palavras, os médicos estão indo para onde lhes são oferecidas melhores condições de trabalho.
O problema já é antigo, tanto que, ao longo dos anos, os governantes tentaram levar médicos para as regiões mais carentes através de salários maiores. Não adiantou. O que comprova ainda mais que o problema não são os salários, e sim a más qualidade de vida e condições de trabalho proporcionadas nestes locais. Nenhuma das duas medidas tomadas pelo governo visa resolver esta questão. Considerando que dotar os municípios de uma infra-estrutura mínima, capaz de atrair profissionais, não é algo que se possa fazer do dia para a noite, e que a falta destes profissionais é um problema "para ontem", a vinda de médicos estrangeiros pode ser considerada uma solução paliativa, mas que se faz bastante necessária. O mesmo já não se pode dizer do trabalho obrigatório dos estudantes de Medicina no SUS, pois, além de ser uma medida para longo prazo (somente em 2020 terminarão os seis anos iniciais de curso das primeiras turmas impactadas pela MP), não ataca o real problema, que é a precariedade das condições de trabalho. Além disso, as duas medidas, que estão sendo tentadas, ainda carregam consigo algumas deficiências que geram muitos questionamentos na sociedade.
A contratação de médicos estrangeiros visa atender as regiões menos favorecidas. Para isso, o Governo pretende aceitar médicos sem a obrigatoriedade destes prestarem o Revalida, exame para revalidação do diploma estrangeiro no país. A justificativa, dada pelo Ministro da Saúde, é que o Revalida daria direito ao médico estrangeiro de trabalhar em qualquer local do país, justamente o que o Governo não quer. Sem o Revalida, ele poderá ser contratado legalmente para trabalhar apenas nos locais autorizados pelo Governo. Faz sentido. Porém, sem a revalidação, a qualidade dos profissionais a serem contratados fica sendo uma grande incógnita. Médico ruim pode ser tão grave quanto não ter médico.
Já a MP que aumenta em dois anos a duração dos cursos de Medicina, a serem iniciados a partir de 2015, para que os estudantes tenham serviço obrigatório no SUS, traz consigo uma polêmica ainda maior e muitos questionamentos. É justo que estudantes de uma categoria profissional sejam obrigados a prestar um serviço social para o Governo, ainda que remunerado, para que possa obter o diploma? Se sim, por que outras categorias profissionais também não têm tal obrigação? Além disso, uma reivindicação antiga dos médicos no SUS são melhorias salariais. Para atrair mais médicos para o SUS, nos próximos anos, o Governo certamente precisaria melhorar os salários, mas, com a oferta grande de profissionais (estudantes) que será gerada por esta MP, desaparece (para o Governo) a necessidade de melhor remunerar os médicos do SUS. Isso não poderá afastar ainda mais os bons profissionais do Sistema Único de Saúde? Ademais, será que os oito anos de curso somados à necessidade de trabalho obrigatório em locais não atrativos, não irá diminuir o interesse dos estudantes pelo curso de Medicina? Outra, um médico, durante este serviço obrigatório, é um profissional ainda em fase de aprendizado. Como poderá este profissional ser alocado em um município isolado, talvez até como único médico deste município, sem outros profissionais mais experientes para auxiliá-lo? Como ele irá aprender? Não é tenebroso? São dúvidas que ficarão "no ar".
Como se percebe, o Governo busca resolver o problema da falta de médicos, mas as medidas adotadas e propostas parecem muito precipitadas e precisam ser reavaliadas. A falta de médicos é um problema sim, mas, mais do que isso, ela é consequência de outras mazelas que o país precisa enxergar e buscar corrigir. Nenhuma das medidas irá gerar melhores condições de trabalho para os profissionais. A solução passaria por melhorar essas condições de trabalho e a qualidade de vida nos municípios mais isolados e das áreas periféricas das grandes cidades, que é o que realmente poderia despertar o interesse de médicos e atraí-los. Tão óbvio que não é nem preciso ser profissional da área de saúde para perceber isso.
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