domingo, 16 de junho de 2013

Vaias para Dilma, bom para quem?

Abertura da Copa das Confederações, 15 de junho de 2013, pouco antes das 16 horas. Quando o nome da presidenta era anunciado, as primeiras vaias surgiram e, quando era anunciado seu discurso, as vaias ecoaram em alto e bom som. As vaias eram para Dilma, mas, na prática, quem mesmo estava sendo vaiado?

As últimas semanas foram marcadas por intensas manifestações em todo o Brasil. Ótimo que o brasileiro começou a sair da inércia e passou a reivindicar, protestar e reclamar com ênfase contra situações injustas que lhe são impostas. No entanto, a expressão "direito de protestar" ainda foi usada bastante nas últimas semanas para justificar formas de manifestações que, em alguns casos, fugiram da noção do bom senso e partiram para a vandalismo, sendo rebatido, muitas vezes, de forma violenta e truculenta pela autoridade policial. Já no caso das vaia presidencial, faltou compreensão a cerca do momento e da justificativa para tal ato. Se por um lado, o país aprendeu que protestar é preciso, por outro lado, ele ainda não aprendeu que protesto saudável é aquele que tem objetivo, forma e momento para ser realizado. Não foi o caso deste.

Por exemplo, se você está insatisfeito com um professor da faculdade, não é no momento do seu discurso na festa de formatura que você irá se manifestar. Se você tem uma divergência com seu irmão, não é no momento do casamento dele que você irá passar a história limpo. Se você está insatisfeito com seu chefe, não é na hora de uma celebração que você vai expôr seu descontentamento. Existe a hora das solenidades e das festas, onde o respeito deve ser preservado, e existe o momento de lavar a roupa suja. Aos convidados destas festas não interessa saber de seus problemas pessoais. A abertura da Copa das Confederações era uma destas solenidades e o mundo que acompanhava a festa eram os convidados a quem não lhes interessa em nada saber se o brasileiro aprova ou não seu governante.

Além de proporcionar um constrangimento, a manifestação em nada contribuiu para alcançar um objetivo. Como já dito anteriormente, todo protesto precisa de um objetivo, precisa ser fundamentado. E qual foi o objetivo das vaias? Fazer a presidenta passar vergonha? Nooooooooossa! Isso fará o Brasil melhor? Vai mudar alguma coisa? Muitos vaiaram, muitos outros vibraram, a hashtag #chupadilma virou trending topic mundial .... e só! Nada mais que isso. Bom para quem?

As vaias à presidenta numa solenidade oficial mostrou que o brasileiro, além de ser chamado publicamente de mal educado em cadeia mundial, como fez Joseph Blatter, não aprendeu a protestar de forma objetiva. Quem vaiou, ao final, foi para sua casa, mas no dia seguinte não vai sair às ruas para protestar ou se manifestar na frente do Congresso ou na frente do Palácio do Planalto. Quem vaiou, se encontrar a presidenta na inauguração de uma obra, talvez até bata uma foto e peça um autógrafo. Quem sabe até vote nela, novamente, daqui a 16 meses. Quem vaiou, no dia seguinte, viverá sua vida normal, como se nada tivesse acontecido e como se não tivesse motivo algum para fazer um protesto de verdade. Pelo contrário, os motivos não faltam. Falta é protestar de forma objetiva, como os manifestantes que não entraram no estádio e fizeram uma manifestação muito mais coerente e bem direcionada durante todo o dia, em Brasília, ou como fizeram os manifestantes do Movimento Passe Livre, em São Paulo.

Retomando a questão do primeiro parágrafo. As vaias foram para Dilma, mas elas se direcionariam bem melhor para aqueles brasileiros que precisam aprender a protestar de verdade.